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Vacina nacional de covid avança para fase final, com menos efeitos colaterais

A vacina nacional SpiN-TEC contra a covid-19 avança para a fase final de estudos clínicos no Brasil, mostrando segurança e menos efeitos colaterais que outros imunizantes.
SpiN-TEC menos efeitos colaterais
Foto: Virgínia Muniz/CTVacinas

O Brasil está cada vez mais próximo de possuir uma vacina contra a COVID-19 totalmente desenvolvida em território nacional. A vacina SpiN-TEC avança significativamente, ingressando na fase final de estudos clínicos após a publicação do primeiro artigo científico que atesta sua segurança e, notavelmente, indica um perfil com menos efeitos colaterais em comparação a outros imunizantes já estabelecidos no mercado. A expectativa é que este novo imunizante possa estar disponível para a população brasileira no Sistema Único de Saúde (SUS) até o início de 2027.

Avanço Promissor da SpiN-TEC

O desenvolvimento da SpiN-TEC é fruto de uma colaboração estratégica entre o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Ezequiel Dias (Funed). Ademais, o projeto recebeu um financiamento crucial do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), demonstrando um robusto suporte institucional à pesquisa nacional. De fato, a publicação dos resultados iniciais sobre a segurança da vacina representa um marco importante para a ciência brasileira.

Este avanço é particularmente relevante em um cenário global de saúde. Por conseguinte, a perspectiva de uma vacina com produção nacional reforça a soberania do país em relação a futuras crises sanitárias. A equipe de pesquisadores, portanto, concentra seus esforços para que a SpiN-TEC cumpra todas as etapas regulatórias e chegue à população no prazo estimado.

Eficácia e Menos Efeitos Colaterais

Nos testes conduzidos até o momento, a SpiN-TEC demonstrou resultados promissores, inclusive apresentando menos efeitos colaterais do que a vacina da Pfizer, conforme destacou Ricardo Gazzinelli, pesquisador e coordenador do CT-Vacinas. Em suas palavras, “concluímos que a vacina se mostrou imunogênica, ou seja, capaz de induzir a resposta imune em humanos. O estudo de segurança foi ampliado e ela manteve esse perfil, na verdade, induziu menos efeitos colaterais do que a vacina que nós usamos, que é da Pfizer”.

Além disso, a SpiN-TEC adota uma estratégia inovadora baseada na imunidade celular. Dessa forma, ela prepara as células para resistirem à infecção e, caso o vírus consiga penetrar, o sistema imunológico é capacitado a atacar e destruir apenas as células afetadas. Esta abordagem diferenciada, por exemplo, revelou-se mais eficaz contra diversas variantes da COVID-19 em ensaios com animais e em dados preliminares obtidos em seres humanos, o que sugere um potencial significativo de proteção a longo prazo.

Etapas Cruciais dos Testes Clínicos

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) tem sido um pilar fundamental no desenvolvimento da SpiN-TEC, investindo um total de R$ 140 milhões por meio da RedeVírus. Este apoio financeiro tem sido essencial para todas as etapas dos testes, abrangendo desde os ensaios pré-clínicos até as fases clínicas 1, 2 e 3.

A fase 1 do estudo envolveu 36 voluntários, com idades entre 18 e 54 anos, focando na avaliação da segurança do imunizante em diferentes dosagens. Posteriormente, a fase 2 ampliou a pesquisa, contando com 320 voluntários. Atualmente, os pesquisadores aguardam a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a decisiva fase 3, que prevê a participação de cerca de 5,3 mil voluntários distribuídos por todas as regiões do Brasil.

Gazzinelli enfatiza que este projeto não apenas contribui com uma nova vacina, mas também estabelece um precedente importante para o Brasil. Segundo ele, o país possui “um ecossistema de vacinas quase completo”, com centros de pesquisa, fábricas de produção e um sistema de distribuição eficiente via SUS. No entanto, o desafio sempre foi a transposição da pesquisa universitária para os ensaios clínicos com produtos nacionais. “Os ensaios clínicos normalmente são com produtos vindo de fora. Ideias, vacinas idealizadas fora. E esse foi um exemplo de uma vacina idealizada no Brasil e levada para os ensaios clínicos”, explica Gazzinelli, ressaltando o ganho de expertise que transcende a área de vacinas, impactando outras inovações na saúde.

O Legado do CT-Vacinas e Pesquisas Futuras

O CT-Vacinas, centro de pesquisa em biotecnologia fundado em 2016, é o epicentro deste avanço. Ele nasceu de uma parceria entre a UFMG, o Instituto René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas) e o Parque Tecnológico de Belo Horizonte, e hoje abriga aproximadamente 120 pesquisadores, estudantes e técnicos. A formação de tal centro reflete uma visão estratégica do MCTI que, durante a pandemia, reconheceu a necessidade de o Brasil alcançar maior autonomia e soberania no desenvolvimento de vacinas. De acordo com Gazzinelli, “um dos grandes legados desse programa, além obviamente da vacina contra covid, é que aprendemos o caminho de levar uma vacina para a Anvisa e fazer o teste clínico”.

Além da SpiN-TEC, o centro está ativamente engajado no desenvolvimento de imunizantes para outras enfermidades que afetam a saúde pública, como malária, leishmaniose, doença de Chagas e monkeypox. Por fim, o coordenador do CT-Vacinas reitera a importância fundamental da vacinação, afirmando categoricamente: “Nós sabemos que vacinas realmente protegem. Evitam, inclusive, a mortalidade. De novo, quanto mais gente vacinado, mais protegida está a população.”