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Vacina de zóster pode reduzir AVC e doenças do coração, aponta estudo

Um estudo apresentado no sábado (30) em Madri indica que a vacina contra herpes-zóster pode reduzir o risco de AVC e doenças cardíacas em adultos imunizados.
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Foto: MS/Divulgação

A vacina contra o herpes-zóster, amplamente reconhecida pela sua eficácia na prevenção da dolorosa doença conhecida popularmente como cobreiro, pode também oferecer uma proteção adicional contra condições cardiovasculares graves. Recentemente, um estudo apresentado em Madri revelou que adultos imunizados com esta vacina podem ter um risco significativamente reduzido de desenvolver acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e outras enfermidades cardíacas. Essa descoberta promissora abre novas perspectivas para a prevenção de doenças que afetam milhões globalmente.

Resultados Promissores em Grupos Etários Diversos

As análises indicam uma notável redução no risco de doenças cardiovasculares em indivíduos vacinados. Por exemplo, pessoas com idades entre 18 e 50 anos que receberam a vacina demonstraram uma diminuição de 18% na probabilidade de desenvolver essas condições. Paralelamente, em adultos com mais de 50 anos, a redução observada foi de 16%. Estes dados sublinham a importância potencial da imunização em diferentes faixas etárias.

Essa hipótese foi consolidada por um estudo científico abrangente, que se trata de uma revisão sistemática e meta-análise global. Intitulada “Eficácia da vacina contra herpes-zóster em eventos cardiovasculares – uma revisão sistemática da literatura e meta-análise”, a pesquisa foi conduzida pelo médico Charles Williams, diretor associado global da GSK, uma renomada companhia biofarmacêutica. A apresentação oficial do estudo ocorreu na manhã do sábado, dia 30, durante o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2025, realizado em Madri, Espanha, atraindo a atenção da comunidade médica internacional.

Detalhes da Pesquisa e Evidências Acumuladas

O extenso levantamento global compilou dados de 19 estudos diferentes para investigar a eficácia da vacina e o impacto da imunização contra o herpes-zóster em ocorrências cardiovasculares. Dentre as pesquisas incluídas, nove delas indicaram que 53,3% dos participantes eram homens. Além disso, sete estudos forneceram idades médias que variaram de 53,6 a 74 anos, abarcando uma ampla população adulta.

Em conjunto, os resultados desses estudos apontaram para uma diminuição do risco absoluto de doenças do coração ou problemas circulatórios entre as pessoas que receberam a vacina. A taxa de diferença observada variou entre 1,2 a 2,2 eventos a menos para cada 1.000 pessoas anualmente. Por conseguinte, tais achados reforçam a ideia de que a vacinação pode ser uma ferramenta valiosa na prevenção. Adicionalmente, a Sociedade Europeia de Cardiologia, em uma recente declaração de consenso clínico, posicionou as vacinas como um “quarto pilar” na prevenção de doenças cardiovasculares, ao lado de medicamentos anti-hipertensivos, redutores de colesterol e tratamentos para diabetes, o que confere maior relevância a esta área de pesquisa.

A Visão dos Especialistas e a Necessidade de Mais Estudos

Embora os resultados sejam promissores, Charles Williams, principal responsável pela revisão sistemática, enfatizou a necessidade de estudos adicionais. Ele destacou que mais pesquisas são cruciais para confirmar com robustez estatística a associação entre a vacina contra o herpes-zóster e um risco significativamente menor de ataques cardíacos e AVCs. Em conformidade com essa cautela, Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também expressou seu acordo em entrevista à Agência Brasil.

Kfouri argumenta que a infecção viral não é o único fator desencadeante de doenças cardiovasculares. Portanto, é fundamental isolar e considerar outros fatores de confusão, como obesidade, hipertensão e diabetes, a fim de compreender o papel exato da vacina nessa prevenção. Entretanto, o infectologista brasileiro ressalta que a associação entre a vacina e a redução de eventos cardiovasculares já possui evidências científicas acumuladas em outros tipos de imunizações. Por exemplo, ele citou a vacina contra a gripe, causada pelo vírus influenza, que também pode precipitar infartos e AVCs. Consequentemente, a prevenção da infecção gripal anualmente pode mitigar riscos cardiovasculares. Ele acrescenta: “Evidências vão se acumulando, também, em relação à vacina do Zoster, que é um precipitador de eventos cardiovasculares a infecções. Consequentemente, a sua prevenção pode se traduzir em uma prevenção também para esses eventos cardiovasculares”.

Cenário da Imunização no Brasil e Desafios de Acesso

No Brasil, a vacina contra o herpes-zóster atualmente só está acessível na rede privada de saúde. No entanto, em um movimento importante, em abril deste ano, o Ministério da Saúde solicitou à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) uma avaliação técnico-científica para possível incorporação ao calendário vacinal do Sistema Único de Saúde (SUS). Até o momento, o parecer técnico ainda não foi divulgado. Renato Kfouri, da SBIm, comentou sobre a longa fila de vacinas aguardando incorporação no SUS, enfatizando a necessidade de definir prioridades orçamentárias.

Na rede privada, o custo da vacina varia significativamente, dependendo do tipo de imunizante e do local de aplicação (clínica ou farmácia). Em média, uma única dose pode custar entre R$ 850 e R$ 1 mil. Dado que o esquema vacinal completo exige duas doses, aplicadas com um intervalo de dois a seis meses, o custo total da imunização pode alcançar entre R$ 1,7 mil e R$ 2 mil, o que representa um desafio de acesso para grande parte da população.

Compreendendo o Herpes-Zóster e Suas Complicações

O Ministério da Saúde esclarece que o herpes-zóster é provocado pelo vírus Varicela-Zóster (VVZ), o mesmo patógeno responsável pela catapora. Após a infecção inicial pela catapora, o vírus permanece em estado latente no sistema nervoso. Posteriormente, pode ser reativado, desencadeando o cobreiro em aproximadamente uma em cada três pessoas ao longo da vida. Essa reativação geralmente ocorre na idade adulta ou em indivíduos com o sistema imunológico comprometido, como aqueles que sofrem de doenças crônicas (hipertensão, diabetes), câncer, HIV/AIDS, transplantados ou em outras situações de baixa imunidade.

Após a reativação, o VVZ pode invadir os vasos sanguíneos, levando à inflamação e, em alguns casos, a complicações graves como o AVC. Os sinais e sintomas típicos do herpes-zóster incluem dores nevrálgicas intensas, formigamento, agulhadas, dormência, pressão, ardor e coceira localizada, que frequentemente antecedem o surgimento das características lesões avermelhadas na pele. As regiões mais afetadas são comumente a torácica (53% dos casos) e a cervical (20%). Renato Kfouri destaca que, embora a neuralgia pós-herpética (dor persistente após o evento agudo) seja uma grande consequência e bastante incômoda, as complicações mais sérias são as que mais preocupam. Ele menciona o herpes oftálmico, que pode resultar em perda de visão, e a neuralgia pós-herpética, que se torna mais comum com o avanço da idade. “Quanto mais idoso é o indivíduo, maior a chance de ele permanecer com dor. E dor é importante, o tratamento é difícil e, muitas vezes, impacta a qualidade de vida”, explica. Para informações adicionais sobre o herpes-zóster, consulte o portal do Ministério da Saúde.

O Impacto Global das Doenças Cardiovasculares

As doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo a principal causa de morte em escala mundial, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Representando alarmantes 31% de todos os óbitos globais, as DCVs são um grave problema de saúde pública. Estimativas indicam que, em 2016, cerca de 17,9 milhões de pessoas faleceram devido a enfermidades do coração e dos vasos sanguíneos. Desses óbitos, aproximadamente 85% foram atribuídos a ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. Essa estatística ressalta a urgência de estratégias preventivas e a relevância de cada nova descoberta que possa contribuir para mitigar esses riscos. Mais detalhes sobre as doenças cardiovasculares podem ser encontrados no site da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

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