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Uso de cocaína e crack atinge 11,4 milhões de brasileiros, aponta estudo.

**Estudo uso cocaína crack Brasil**

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Um abrangente estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que aproximadamente 11,4 milhões de brasileiros, com idade acima de 14 anos, já experimentaram cocaína ou crack em algum momento de suas vidas. Essa estimativa corresponde a 6,6% da população, um aumento significativo em relação aos dados de 2012. Apesar desse crescimento no uso ao longo da vida, o estudo aponta para uma estabilidade no uso recente dessas substâncias no país.

Detalhes do Levantamento Nacional Sobre Álcool e Drogas

O estudo, denominado terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), foi financiado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A coleta de dados foi realizada em 2023, abrangendo 16.608 participantes em 300 municípios brasileiros. É importante notar que a pesquisa não incluiu pessoas em situação de rua.

Adicionalmente, o levantamento indicou que 2,2% dos entrevistados relataram ter utilizado cocaína ou crack nos últimos 12 meses, o que representa aproximadamente 3,8 milhões de pessoas. Entretanto, ao comparar com o Lenad II, realizado em 2012, observa-se uma estabilidade nesse índice, já que naquele ano, 2% da população relatou uso recente das substâncias.

Interpretações e Implicações dos Dados

De acordo com o estudo, essa estabilidade no consumo recente, combinada com o aumento no uso ao longo da vida, sugere um possível crescimento histórico na experimentação dessas drogas, sem que isso necessariamente implique em um aumento proporcional no uso contínuo. Ou seja, mais pessoas experimentam, mas a frequência de uso não aumenta na mesma proporção.

Além disso, o estudo identificou que o uso de cocaína e crack é mais prevalente entre homens e na faixa etária de 25 a 49 anos. Em relação à cor da pele, as populações amarela e indígena apresentaram maiores proporções de uso. Do ponto de vista conjugal, os maiores índices foram observados entre pessoas divorciadas ou separadas.

Fatores Socioeconômicos e Percepção do Tráfico

O levantamento da Unifesp também revelou que os índices mais altos de consumo estão concentrados entre pessoas com menor escolaridade e com renda mensal de até dois salários mínimos. Especificamente, 12,77% da população sem nenhum estudo e 8% daqueles que não completaram o ensino médio relataram ter usado cocaína ou crack alguma vez na vida. Em contrapartida, o uso recente foi de 1,88% e 3%, respectivamente, nesses mesmos grupos.

Ainda assim, a Unifesp ressaltou que o uso atual de cocaína e crack no Brasil não parece ter se agravado nos últimos 10 anos. A divergência entre o aumento do consumo ao longo da vida e a estabilização do consumo recente pode indicar variações no número de usuários durante o intervalo entre as duas edições do estudo.

Análise Cautelosa das Tendências

Os pesquisadores alertam para a necessidade de cautela na análise das tendências, principalmente devido ao intervalo de 11 anos entre os levantamentos. Esse período extenso pode ter mascarado flutuações importantes no consumo. Portanto, qualquer comparação entre os dados de 2012 e 2023 deve ser interpretada como uma descrição de diferenças pontuais, sem que seja possível inferir com segurança sobre um crescimento, declínio ou estabilização contínuos.

Em outras palavras, embora o estudo aponte para um aumento geral no número de pessoas que já experimentaram cocaína ou crack, a taxa de uso recente permanece estável. Ainda assim, a Unifesp enfatiza que o uso dessas substâncias continua elevado entre populações vulneráveis, marcadas por desigualdade social, exclusão e baixa escolaridade.

Percepção Comunitária do Tráfico de Drogas

Pela primeira vez, o estudo incluiu um módulo sobre a percepção comunitária do tráfico de drogas. Aproximadamente 43,8% da população brasileira considera o tráfico frequente em seus bairros, com destaque para as regiões Sudeste (51,6%) e Norte (47,5%), bem como para os grandes centros urbanos.

Cocaína: Uso e Dependência

Ao analisar especificamente o uso de cocaína, o estudo estimou que cerca de 9,3 milhões de brasileiros (5,38% da população) já experimentaram a droga alguma vez na vida. Esse número representa um aumento significativo em relação a 2012, quando 3,88% da população relatou ter usado cocaína. Em relação ao uso no último ano (2023), o percentual foi de 1,78%, o que equivale a pouco mais de 3 milhões de pessoas.

Segundo a publicação, esse resultado pode refletir uma maior dispersão histórica do consumo ao longo da década, sem um aumento na taxa de continuidade, ou até mesmo o abandono da substância por parte de indivíduos que experimentaram no passado. Entre os usuários de cocaína que consumiram no último ano, quase metade (43,6%) relatou uso frequente, um padrão associado a maior risco de complicações agudas e problemas relacionados ao uso.

Ademais, o levantamento estimou que a prevalência de dependência de cocaína na população é de 0,72%, o que representa aproximadamente 1,19 milhão de brasileiros com 14 anos ou mais. Entre os usuários com consumo no último ano, essa prevalência de dependência é de 74,8%.

Crack: Estabilidade no Uso

O levantamento também estimou que 1,39% da população brasileira com mais de 14 anos relatou ter usado crack pelo menos uma vez na vida, o que representa cerca de 2,32 milhões de pessoas. O uso no último ano foi relatado por 0,5%, ou seja, cerca de 829 mil pessoas.

De acordo com os pesquisadores, as estimativas de 2023 são próximas às observadas em 2012, o que sugere estabilidade. Naquele ano, a proporção de pessoas que relataram uso de crack foi de 1,44% para uso em algum momento da vida e de 0,64% para uso no último ano.

No entanto, em relação à dependência, o estudo aponta que a amostra de indivíduos que declararam uso de crack nos últimos 12 meses não foi numericamente suficiente para permitir a estimativa precisa e estatisticamente robusta da prevalência de Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) associado exclusivamente a essa substância. Em conclusão, o estudo da Unifesp oferece um panorama detalhado sobre o uso de cocaína e crack no Brasil, destacando tanto o aumento no número de pessoas que já experimentaram as drogas quanto a estabilidade no uso recente, além de alertar para a necessidade de políticas públicas focadas em populações vulneráveis.

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