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Universidades pedem troca de dívida por investimento em biodiversidade

Dívida pública por biodiversidade

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

No Rio de Janeiro, um evento de grande repercussão culminou com uma proposta inovadora para combater a crise climática. Após um congresso de dez dias na PUC-Rio, universidades ibero-americanas lançaram, no sábado (24), no Santuário do Cristo Redentor, a “Chamada Global”, propondo a troca de dívida pública de países em desenvolvimento por investimentos em biodiversidade.

Encerramento do Congresso e a Chamada Global

O ato, realizado no emblemático Cristo Redentor, encerrou o Congresso das Universidades Ibero-americanas – Os 10 anos da Laudato Si’, preparatório para a COP30. O congresso, que aconteceu na PUC-RJ de terça-feira (21) a sábado (24), reuniu mais de 230 universidades públicas e privadas, confessionais e laicas de toda a América, Espanha, Portugal e Reino Unido. Além disso, o evento celebrou a década da encíclica Laudato si’, do Papa Francisco, publicada em 2015, que destaca a urgência do cuidado com o meio ambiente e as pessoas.

Como resultado das discussões, as universidades elaboraram um documento propondo uma solução audaciosa: transformar a dívida pública dos países mais pobres em “dívida ecológica”, redirecionando esses recursos para investimentos em biodiversidade, ciência, educação e transição energética. Em outras palavras, o objetivo é usar recursos financeiros que já existem para fomentar a preservação ambiental.

O padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., reitor da PUC-Rio, sintetizou a proposta em comunicado oficial: “Propomos que os Estados, organismos multilaterais e atores financeiros globais impulsionem, no âmbito do Acordo de Paris, a remissão da dívida pública dos países menos industrializados, compensando-a com a dívida ecológica dos países mais desenvolvidos”.

Apoio de Ministra e do Papa

A proposta recebeu expressivo apoio. Na quinta-feira (23), durante aula magna no congresso, a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enfatizou a necessidade urgente de implementação das medidas para salvar o planeta. Ela alertou que a COP30 precisa ser a conferência da ação concreta: “Tem que ser justo para todos, principalmente para os mais vulneráveis. A COP30 tem que ser a COP da implementação. Já discutimos, planejamos, agora é hora de agir.”

Além disso, Marina Silva ressaltou a importância crucial da ciência na preservação da natureza, argumentando que as políticas ambientais devem se basear em dados e evidências científicas. Segundo ela, “não há mais tempo para improvisações e negligência em relação à produção científica das universidades”.

Outro importante endosso veio do Papa Francisco, que, através de uma mensagem em vídeo – a primeira direcionada à América Latina em seu pontificado –, apoiou o Congresso e reiterou a ideia de remissão entre a dívida pública e a dívida ecológica, proposta inicialmente em sua mensagem para a Jornada Mundial pela Paz de 2025. Em suas palavras, dirigidas aos reitores universitários, o Papa encorajou a “missão de serem construtores de pontes de integração entre as Américas e a península Ibérica, trabalhando por uma justiça ecológica, social e ambiental”.

Organização e Implicações Futuras

Em conclusão, o Congresso de Universidades Ibero-Americanas, organizado pela Rede Universitária para o Cuidado da Casa Comum (RUC), pela Pontifícia Comissão para a América Latina e pela PUC-Rio, apresenta uma proposta ambiciosa e inovadora para enfrentar a crise climática. A “Chamada Global” representa um apelo concreto à ação global, buscando transformar a dívida pública em um instrumento de investimento na preservação da biodiversidade e um futuro sustentável. A receptividade do Vaticano e do Ministério do Meio Ambiente brasileiro sugere um potencial significativo para sua implementação. Entretanto, o sucesso da iniciativa dependerá da adesão de governos e instituições financeiras internacionais.

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