A Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) destaca-se por sua abordagem inclusiva, com uma significativa presença de alunos indígenas, que representam cerca de 15% do total de estudantes da instituição. Este número não apenas reflete a diversidade do corpo discente, mas também sublinha a importância das práticas acadêmicas interculturais promovidas pela universidade.
Um exemplo notável é Sônia Pavão, uma indígena guarani que não precisa sair de casa para obter medicamentos. Em vez disso, ela recorre às plantas medicinais de seu “quintal medicinal” na reserva indígena Tapyi Kora, conhecida também como Limão Verde. Sônia, que perdeu seus pais aos quatro anos e enfrentou uma infância difícil, superou adversidades e completou sua formação acadêmica na Faculdade Intercultural Indígena (Faind) da UFGD. Ela agora combina seus conhecimentos tradicionais com a pesquisa acadêmica, refletidos em seu mestrado sobre os saberes Guarani e Kaiowá.
A UFGD não é uma universidade convencional. Sua arquitetura única, incluindo uma imensa construção de troncos de madeira e sapê e faixas em guarani, revela seu compromisso com a cultura indígena. A Faind, uma das faculdades da UFGD, oferece cursos como “teko arandu” — traduzido como “viver com sabedoria” — e outros programas que abordam a educação intercultural indígena. Esses cursos não apenas preservam a cultura, mas também proporcionam um ambiente acadêmico que respeita e integra práticas tradicionais.
Os alunos indígenas da UFGD têm acesso a uma série de recursos adaptados às suas necessidades. A pedagogia da alternância, por exemplo, permite que os alunos se dividam entre o campus e suas comunidades. Além disso, a universidade oferece alojamentos e brinquedotecas para acomodar as famílias dos estudantes. A presença de “rezadores” e rituais religiosos também faz parte do cotidiano acadêmico, proporcionando um espaço onde a espiritualidade indígena é respeitada.
O impacto da presença indígena na UFGD é evidente não apenas no campus, mas também em iniciativas internacionais. Este ano, três alunos indígenas de doutorado foram selecionados para um intercâmbio na França através do programa Guatá. A UFGD teve o maior número de aprovados no programa, seguido por outras universidades renomadas. Para o professor Matheus de Carvalho Hernandez, coordenador do Escritório de Assuntos Internacionais da UFGD, esse intercâmbio oferece aos estudantes indígenas uma oportunidade única de aumentar a visibilidade e legitimar suas culturas e reivindicações por território.
O reitor da UFGD, Jones Goettert, destaca a importância da diversidade de conhecimentos na universidade. “O conhecimento guarani, kaiowá e terena desafia e enriquece o nosso entendimento científico. Precisamos aprender com esses saberes para que nossa ciência se torne mais inclusiva e abrangente”, afirma Goettert.
A UFGD continua a ser um exemplo de como as universidades podem integrar e valorizar a diversidade cultural, oferecendo um modelo de educação que respeita e promove a inclusão dos povos indígenas no ambiente acadêmico.