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Último adeus a Hermeto Pascoal reúne músicos e família em Bangu, Rio

Amigos, família e músicos se despedem de Hermeto Pascoal na Areninha Cultural de Bangu (RJ), nesta segunda-feira (15), prestando o último adeus ao gênio multi-instrumentista.
Velório Hermeto Pascoal Bangu
Foto: Foto/ Intagram/hermetopascoal

O Rio de Janeiro se despede de um dos seus maiores gênios musicais. Amigos, familiares e uma legião de admiradores prestam, nesta segunda-feira (15), o último adeus a Hermeto Pascoal, o multi-instrumentista conhecido como “bruxo”, em uma emocionante cerimônia realizada na Areninha Cultural que leva seu nome, em Bangu. O evento, marcado por um clima de reverência e gratidão, celebra a vida e o legado de um artista que revolucionou a música instrumental brasileira.

A cerimônia de despedida, que permanecerá aberta ao público até as 21h, ocorre em um local com profundo significado para o maestro. A Areninha Cultural de Bangu está situada nas proximidades do bairro Jabour, onde Hermeto Pascoal residiu por grande parte de sua vida após se mudar para a capital fluminense. Essa escolha específica para o velório, conforme revelado, foi um pedido pessoal do próprio artista, evidenciando sua forte conexão com a região e com as pessoas que ali vivem.

O Legado Sonoro do ‘Bruxo’ e a Alquimia Musical

A alcunha de “bruxo”, frequentemente atribuída a Hermeto Pascoal, faz todo sentido para quem conhecia sua obra. Fábio Pascoal, seu filho, recordou em depoimento que, desde muito jovem, o pai já demonstrava uma inventividade ímpar. Aos dez anos, Hermeto transformava sobras de ferro da oficina de seu avô ferreiro em fontes de som, um prenúncio de sua genialidade.

Além disso, a capacidade do músico de criar melodias e ritmos a partir de qualquer objeto era notável. Ele utilizava folhas, sementes de mamona para confeccionar flautas improvisadas e até mesmo chaleiras e copos d’água para compor. Essa habilidade singular de gerar arte sonora de maneira quase alquímica, combinando os mais diversos elementos em um “caldeirão multissensorial”, solidificou o apelido de “bruxo”, um termo cunhado por uma jornalista para descrever sua singularidade. Consequentemente, sua música, forjada em tamanha criatividade, permanece atemporal e eterna.

Uma Identidade Musical Inconfundível e Universal

A compositora, multi-instrumentista e arranjadora Carol Panesi, que teve a oportunidade de tocar ao lado de Hermeto Pascoal, descreveu o maestro como “um ser iluminado e de um valor universal”. Ela ressaltou a generosidade incomensurável do artista, um traço de sua personalidade que, segundo ela, era reconhecido mundialmente.

Para Panesi, Hermeto personificava a criatividade, a liberdade, a autenticidade e a imprevisibilidade, características que o tornavam verdadeiramente incrível. Ela afirmou que o legado de Hermeto Pascoal é infinito e imortal, englobando preceitos filosóficos e musicais que defendiam uma “música universal”. Tal abordagem, livre de preconceitos, infundida com identidade e brasilidade, reunia elementos cruciais e promovia a intuição acima de qualquer premeditação. Dessa forma, seu pensamento musical inspirou gerações e continua a reverberar no cenário artístico.

A Trajetória e a Despedida de um Ícone Musical

Hermeto Pascoal faleceu no último sábado, aos 89 anos, em decorrência de complicações de fibrose pulmonar. Sua partida representa uma perda imensa para a cultura brasileira e mundial. Reconhecido internacionalmente por sua genialidade e inovação, ele foi um dos maiores nomes da música instrumental brasileira, um feito notável que lhe rendeu três prêmios Grammy Latino ao longo de sua brilhante carreira.

O último trabalho concluído pelo artista, o álbum de inéditas intitulado “Pra você, Ilza”, foi finalizado no ano passado. Este projeto musical representou uma tocante homenagem à sua esposa, Ilza da Silva, com quem foi casado por mais de quatro décadas, consolidando um legado de amor e dedicação também em sua vida pessoal. Além de sua obra, Hermeto deixa uma vasta família: seis filhos, treze netos e dez bisnetos, que seguem honrando sua memória.

Nascido em 1936, na pequena cidade de Lagoa da Canoa, interior de Alagoas, Hermeto Pascoal foi um autodidata exemplar. Ele iniciou sua jornada musical ainda na infância, aprendendo a tocar acordeon e flauta de forma independente. Aos 15 anos, já era um músico profissional, o que o levou a se mudar para o Recife com seu irmão em busca de novas oportunidades e horizontes artísticos. Posteriormente, o corpo do mestre será sepultado nesta terça-feira (16); contudo, as informações sobre o local exato do enterro não foram divulgadas até o momento.

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