São Luís, capital maranhense, tornou-se palco esta semana da primeira exposição individual do artista visual Thiago Martins de Melo. Intitulada “Cosmogonia Colérica”, a mostra convida o público a uma imersão profunda na identidade latina e na rica ancestralidade que molda a visão do renomado artista.
“Cosmogonia Colérica”: Uma Jornada Artística Multifacetada
Thiago Martins de Melo, um nome em ascensão no cenário da arte visual brasileira e prestes a completar 44 anos, apresenta ao público uma coletânea impressionante de 21 obras. Produzidas entre 2013 e 2025, essas peças estão distribuídas em espaços significativos do Centro Histórico de São Luís, especificamente no Convento das Mercês e no Espaço Cultural Chão SLZ. Essa iniciativa marca um momento crucial na trajetória do maranhense, consolidando sua presença no circuito artístico nacional.
Adicionalmente, a exposição conta com a curadoria de Germano Dushá, figura reconhecida por sua atuação no Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Germano concebeu uma mostra que transcende a cronologia, reunindo uma multiplicidade de linguagens artísticas. Consequentemente, os visitantes podem apreciar pinturas de grandes dimensões, esculturas, gravuras, vídeos experimentais e instalações, onde Thiago habilmente navega entre técnicas expressionistas e realistas, demonstrando sua versatilidade criativa.
A Profundidade Conceitual por Trás da Exposição
Ao abordar o processo de seleção das obras, Germano Dushá salientou que a intenção principal não era seguir uma linha temporal, mas sim capturar a essência da jornada de Thiago. “A ideia foi não exatamente criar uma exposição cronológica, mas, sim, que pudesse pegar um nervo, pudesse sintetizar os principais eixos espirituais, políticos e estéticos da trajetória de Thiago”, explicou o curador. Ele enfatizou que o cerne da produção do artista reside na vasta “profusão de linguagens, formas e temas”.
Além disso, o título “Cosmogonia Colérica” carrega um significado profundo, como Dushá detalha. Segundo ele, o termo evoca “criações, criação do mundo e sobre gênese, mas sempre com muita força, muita energia e carga”. Assim, os trabalhos de Martins de Melo intricadamente entrelaçam história, política, misticismo e espiritualidade. O título, por conseguinte, aponta para uma vigorosa conjugação entre criação e fúria, entre gênese e confronto, manifestando visualmente batalhas ancestrais, ritos sincréticos e epifanias transformadoras.
Impacto Visual e Acessibilidade da Obra
O curador Germano Dushá também ressaltou a acessibilidade e o impacto da arte de Thiago Martins de Melo, mesmo para aqueles menos familiarizados com a arte contemporânea. Ele expressou que a obra do artista “oferece uma riqueza de profundidade temática, conceitual, visual, formal, mas ele pode ter uma dimensão muito aberta, muito popular”. Dushá destacou ainda a força das imagens apresentadas, que conseguem transitar com sensibilidade entre o figurativo e o abstrato, o conceitual e o literal.
Consequentemente, Thiago se distingue por seu “vocabulário, de um repertório, de um universo tão rico”, sempre focado em explorar as complexas questões humanas. Sua abordagem singular e impactante permite que a obra ressoe com um público diversificado, promovendo uma conexão profunda com as narrativas que ele escolhe materializar em suas criações.
A Identidade Latina e a Ancestralidade na Visão do Artista
Thiago Martins de Melo compartilha que a escolha dos temas em seu trabalho é um reflexo direto de sua identidade, de suas vivências e de suas referências visuais e literárias. Conforme o artista explica, sua visão se enraíza profundamente em sua terra natal e na rica tapeçaria cultural da América Latina. “Minha identidade está fincada na América Latina, na luz, nas cores, nas lutas e no respeito à ancestralidade”, afirma.
Ele prossegue ao descrever a natureza mestiça do povo latino-americano, que resulta em uma fusão singular de narrativas espirituais, míticas e lendárias, oriundas de influências europeias, indígenas e africanas. Além disso, Thiago revela uma forte atração pela iconografia hermética, pela alquimia e pelo tarô, elementos que, de forma sensível, permeiam suas obras e enriquecem seu universo criativo.
A Trajetória de Thiago Martins de Melo no Cenário Global
Nascido em 1981 em São Luís, Maranhão, Thiago Martins de Melo divide seu tempo e trabalho entre a capital maranhense, São Paulo e Guadalajara, no México. Sua sólida bagagem artística é evidenciada por uma série de exposições individuais notáveis em diversas cidades brasileiras.
Entre suas mostras individuais, destacam-se as realizadas na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre; no Museu Nacional da República, em Brasília; no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista; e na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Além disso, sua obra transcendeu fronteiras, participando de dezenas de exposições coletivas tanto no Brasil quanto no exterior. Merecem menção especial sua presença na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, na 31ª Bienal de São Paulo, na primeira Bienal das Amazônias, na Bienal de Lyon, na França, e na 12ª Bienal de Dakar, no Senegal, entre outras renomadas mostras.
Por fim, a relevância de sua produção é inegável, visto que seus trabalhos integram coleções permanentes de importantes museus de arte contemporânea. Sua arte pode ser apreciada em instituições como o Fearnley Museum de Arte Moderna, em Oslo, além do Masp e da Pinacoteca, em São Paulo, e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e em galerias em Miami, consolidando seu reconhecimento internacional e seu lugar de destaque na arte contemporânea.