Edição Brasília

Taxa média de juros em 31,4% ao ano em julho; rotativo dispara para 446,6%

Juros médios do país em 31,4% ao ano em julho, enquanto o rotativo do cartão de crédito dispara para 446,6%, aponta Banco Central.
juros cartão crédito rotativo
Foto: Arte/Agência Brasil

Os juros médios no Brasil mantiveram-se em patamar de 31,4% ao ano em julho, indicando uma relativa estabilidade no período. No entanto, o custo do crédito rotativo do cartão de crédito registrou uma escalada acentuada, atingindo a impressionante marca de 446,6% anualmente, conforme dados divulgados recentemente pelo Banco Central (BC).

Cenário Geral dos Juros no Brasil

Em julho deste ano, as taxas médias de juros gerais, que englobam todas as modalidades de crédito (tanto livre quanto direcionado, para famílias e empresas), registraram 31,4% ao ano. Observou-se uma variação negativa de apenas 0,2 ponto percentual (p.p.) no mês. Contudo, apesar dessa ligeira retração mensal, o patamar anual permanece elevado, com um aumento de 3,6 p.p. em um período de 12 meses. Estas informações são provenientes das Estatísticas Monetárias e de Crédito do Banco Central.

Dessa forma, a elevação dos juros bancários acompanha a trajetória de alta da taxa básica de juros da economia, a Selic. Atualmente fixada em 15% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a Selic se configura como a principal ferramenta utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação. O Banco Central, por sua vez, justifica a manutenção da Selic em níveis elevados como uma estratégia fundamental para arrefecer a demanda e, consequentemente, conter o avanço da inflação. Juros mais altos, de fato, encarecem o crédito e incentivam a poupança, o que, por sua vez, leva a uma redução no consumo e contribui para a desaceleração dos preços. O próximo encontro do Copom para redefinir a Selic está agendado para setembro, e as projeções indicam que a taxa deverá permanecer em 15% ao ano, pelo menos, até o encerramento de 2025.

Adicionalmente, as estatísticas mais recentes revelaram que o spread bancário também apresentou um comportamento estável durante o mês de julho. Este indicador, que mede a diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e as taxas médias praticadas junto aos clientes, situou-se em 20,3 p.p. Houve uma leve retração de 0,2 p.p. no mês, mas um incremento de 1,7 p.p. quando comparado ao período de 12 meses.

O Impacto no Crédito Livre

O segmento de crédito livre engloba as operações onde os bancos possuem autonomia para determinar as taxas de juros, uma vez que utilizam recursos captados no mercado. Nesse cenário, o impacto nas diferentes categorias foi notável.

Para Pessoas Físicas: Destaque para o Rotativo

Nas novas concessões de crédito para as famílias, a taxa média do crédito livre alcançou 57,7% ao ano. Houve um recuo de 0,7 p.p. no mês, impulsionado, em grande parte, por reduções de 4 p.p. no crédito pessoal não consignado e de 0,8 p.p. no cartão de crédito parcelado. Além disso, o aumento da participação do cartão de crédito à vista na composição do crédito livre para pessoas físicas também contribuiu para essa desaceleração mensal. Por outro lado, o juro das operações de cartão de crédito rotativo disparou, subindo 6,1 p.p. no mês e impressionantes 14,4 p.p. em 12 meses, alcançando a taxa de 446,6% ao ano. Esta modalidade é reconhecida por ser uma das mais onerosas do mercado financeiro, visto que o crédito rotativo é acionado quando o consumidor efetua um pagamento inferior ao valor total da fatura do cartão de crédito, optando, por exemplo, pela parcela mínima. Nesse momento, o cliente contrai um empréstimo sobre o saldo não quitado e passa a arcar com juros exorbitantes sobre esse montante.

Para Empresas

Em relação às empresas, a taxa média do crédito livre ficou em 25% ao ano. Contrariando a tendência de queda observada para algumas modalidades de pessoa física, o crédito para pessoas jurídicas registrou altas de 0,7 p.p. no mês e de 3,9 p.p. em 12 meses.

Crédito Direcionado: Regras e Desempenho

Diferente do crédito livre, o crédito direcionado possui regras específicas estabelecidas pelo governo. Essa modalidade é predominantemente voltada para setores essenciais da economia, como o habitacional, rural, infraestrutura e o microcrédito, visando fomentar o desenvolvimento dessas áreas.

Taxas para Indivíduos e Empresas

No que tange ao crédito direcionado para pessoas físicas, a taxa situou-se em 11,2% ao ano em julho. Notou-se uma leve variação positiva de 0,1 p.p. em relação ao mês anterior, e um aumento de 1 p.p. em um período de 12 meses. Para as empresas, entretanto, a taxa registrou uma queda de 0,5 p.p. no mês, fixando-se em 13,6% ao ano. Mesmo com essa redução mensal, houve um aumento de 2,2 p.p. no comparativo de 12 meses.

Balanço das Operações de Crédito

O panorama geral das operações de crédito reflete a dinâmica do mercado e as escolhas financeiras de famílias e empresas.

Concessões Mensais e Anuais

As concessões de crédito alcançaram a cifra de R$ 644,1 bilhões em julho. Ao considerar as séries sazonalmente ajustadas, observou-se um recuo de 0,3% no mês, impulsionado, principalmente, pela redução de 2% nas operações com pessoas jurídicas. Contudo, as operações com as famílias apresentaram uma expansão de 2,5%. Em uma análise de 12 meses, as concessões nominais exibiram um crescimento robusto de 12,3%, com aumentos de 9% nas operações com empresas e de 15,9% naquelas destinadas a pessoas físicas.

Evolução do Estoque de Empréstimos

Consequentemente, o estoque total de empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu R$ 6,715 trilhões. Este montante representa um crescimento de 0,4% em relação a julho, decorrente, em grande parte, do incremento de 0,6% no crédito direcionado às famílias, que totalizou R$ 4,173 trilhões. Este avanço, entretanto, foi atenuado, em parte, pela leve contração de 0,1% no crédito destinado às empresas, que somou R$ 2,542 trilhões.

Crédito Ampliado ao Setor Não Financeiro

Por outro lado, o crédito ampliado ao setor não financeiro, que abrange o crédito disponível para empresas, famílias e governos, independentemente da fonte (seja bancário, mercado de títulos ou dívida externa), alcançou R$ 19,527 trilhões. Este valor representa um aumento de 0,9% no mês, refletindo, sobretudo, acréscimos de 0,7% nos títulos públicos de dívida, de 0,4% nos empréstimos do SFN e de 2,3% nos empréstimos externos. Estes últimos foram influenciados pela depreciação cambial de 2,66% registrada no período. Em uma perspectiva de 12 meses, o crédito ampliado registrou um crescimento expressivo de 10,5%, com avanços notáveis nos títulos públicos de dívida (11,7%), nos empréstimos do SFN (10,1%) e nos títulos privados de dívida (18,5%).

Endividamento e Inadimplência Familiar

A situação financeira das famílias brasileiras é um ponto crucial na análise econômica, sendo acompanhada de perto por indicadores como inadimplência e níveis de endividamento.

Estabilidade na Inadimplência

Segundo as informações do Banco Central, a taxa de inadimplência, que considera atrasos superiores a 90 dias, tem se mantido estável há um período considerável, com variações mínimas. Em julho, o índice registrado foi de 3,8%. Detalhando por segmento, a inadimplência para operações com pessoas físicas situou-se em 4,5%, enquanto para pessoas jurídicas, foi de 2,5%.

Níveis de Endividamento e Comprometimento da Renda

O endividamento das famílias, que é a relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses, ficou em 48,7% em junho. Este valor representou uma pequena redução de 0,2% no mês, mas um aumento de 1% em 12 meses. Ao excluir o financiamento imobiliário, que normalmente representa um montante significativo na renda familiar, o endividamento recuou para 30,5% no sexto mês do ano. Posteriormente, o comprometimento da renda, que relaciona o valor médio destinado ao pagamento das dívidas com a renda média apurada no período, atingiu 27,6% em junho. Houve uma variação para baixo de 0,1% na passagem do mês, mas um incremento de 1,3% em 12 meses. É importante ressaltar que esses dois últimos indicadores são apresentados com uma defasagem maior em relação ao mês de divulgação, uma vez que o Banco Central utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Corrida Nas Pontes Edicao Brasilia