Admissão de erros no discurso de segurança
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reconheceu publicamente que o tom de seu discurso na segurança pública contribuiu para o aumento da violência policial no estado. A declaração foi feita durante evento no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), na capital paulista, na noite de sexta-feira (7).
“Os erros que a gente comete têm reflexo. E tem hora que a gente tem que parar para pensar, fazer uma profunda reflexão e ver onde é que nós estamos errando”, afirmou o governador. Ele ressaltou que mensagens equivocadas podem levar a interpretações erradas, resultando em consequências indesejadas.
O reconhecimento ocorre em meio a um aumento de denúncias de abusos de poder e homicídios cometidos por policiais. Tarcísio elogiou a fala da professora Joana Monteiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que destacou o impacto da retórica das lideranças sobre os policiais.
A evolução do posicionamento de Tarcísio
No início de 2024, o governador havia adotado uma postura mais dura em relação às críticas sobre violência policial. Em março, ao ser questionado sobre denúncias de abusos na Operação Verão, afirmou que não estava “nem aí” para as queixas, o que gerou polêmica. Contudo, o posicionamento atual de Tarcísio reflete uma tentativa de equilibrar o discurso, reconhecendo o peso de suas declarações no comportamento das tropas.
Tarcísio admitiu ter dúvidas sobre como modular seu discurso para garantir segurança jurídica aos policiais sem abrir espaço para descontrole ou interpretações equivocadas. “Como deixar claro que não existe salvo-conduto? Tenho uma série de dúvidas. Não tenho respostas ainda”, disse.
Apoio às câmeras corporais
O governador também revisou sua postura sobre o uso de câmeras corporais por policiais. Inicialmente contrário à medida, Tarcísio admitiu que subestimou os benefícios da tecnologia para a segurança pública. “Hoje percebo que estava enganado. As câmeras ajudam o agente, são um fator de contenção e de transparência”, afirmou.
Pesquisas reforçam os benefícios da medida. Um estudo divulgado em 2023 pelo Unicef e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que a adoção de câmeras corporais pela Polícia Militar de São Paulo reduziu a letalidade policial em 62,7%, passando de 697 mortes em 2019 para 260 em 2022.
Impactos para a segurança pública
As declarações do governador ocorrem em um momento de crescente debate sobre violência policial e transparência na segurança pública. Especialistas elogiam a reavaliação de posturas e políticas como um passo para reduzir abusos e reforçar a confiança da população.
Tarcísio enfatizou a necessidade de avançar com medidas que protejam tanto os agentes quanto os cidadãos. “Precisamos de políticas que combinem segurança jurídica, respeito às normas e proteção da sociedade”, concluiu.