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Sul Global une forças para ampliar acesso a vacinas, revela Fiocruz

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Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em resposta às desigualdades flagrantes no acesso a vacinas durante a pandemia de Covid-19, países do Sul Global estão unindo forças em uma iniciativa liderada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O objetivo central é garantir que as populações desses países tenham acesso equitativo a imunizantes e fortalecer a produção local de vacinas, reduzindo a dependência de suprimentos externos.

Fiocruz lidera a cooperação entre países do Sul Global

A Fiocruz, que coordena o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas dos Brics, está empenhada em alinhar os esforços de pesquisa sobre vacinas entre os países do grupo. Dessa forma, a fundação busca assegurar que as pesquisas sejam direcionadas para atender às necessidades específicas das populações do Sul Global. Mário Moreira, presidente da Fiocruz, destacou em entrevista à Agência Brasil que a pandemia revelou a vulnerabilidade desses países, que ficaram “no final da fila” para receber vacinas e outros suprimentos essenciais.

Essa experiência, segundo Moreira, serviu como um alerta, impulsionando a organização dos países em bloco para enfrentar futuras crises sanitárias. Para ilustrar essa disparidade, ele mencionou dados de 2023, que revelaram que, de mais de 13,2 bilhões de doses de vacinas aplicadas globalmente, menos de 1 bilhão foi destinada ao continente africano.

Desigualdade vacinal expôs fragilidades

Dados da plataforma Our World in Data corroboram essa análise, mostrando que países de alta e média-alta renda alcançaram a marca de uma dose de vacina por habitante em agosto de 2021. Em contrapartida, os países de renda média-baixa atingiram esse patamar apenas em fevereiro de 2022. A situação dos países de baixa renda foi ainda mais crítica, chegando ao fim da emergência de saúde pública global, em maio de 2023, com apenas 40 doses para cada 100 habitantes.

Ademais, a cooperação entre os Brics representa um passo crucial para concretizar a coalizão global para o desenvolvimento e a produção local de vacinas, uma proposta defendida pela presidência brasileira durante a Cúpula do G20 no ano passado.

Próximos passos e financiamento da iniciativa

Atualmente, os institutos de pesquisa de cada país estão se mobilizando para criar um repositório digital de projetos e alinhar esses projetos em prol dos interesses comuns. Mário Moreira ressaltou que a situação de cada país no campo das vacinas é heterogênea, e o objetivo da cooperação é justamente nivelar essas diferenças. A expectativa é que os países estabeleçam acordos para garantir o financiamento das inovações, tema que Moreira considera central. Ele enfatizou o papel do Banco do Brics, de grandes doadores internacionais e de agências como a Rockefeller e a Bill & Melinda Gates Foundation, além de vislumbrar a criação de um novo órgão multilateral para o financiamento científico.

Além disso, Moreira enfatizou que o Brasil, por meio da Fiocruz, assumiu a liderança da iniciativa de vacinas devido à robustez de seu sistema público de vacinação, sua capacidade de produção de imunizantes e sua “reconhecida tradição em cooperações estruturantes”. O país já possui um histórico de cooperação com a América Latina e a África, especialmente com os países de língua portuguesa, e está ampliando essas parcerias com a assinatura de acordos pela Fiocruz, em consonância com as orientações do governo brasileiro.

Expansão internacional e novos escritórios da Fiocruz

A Fiocruz está expandindo sua atuação internacional com a inauguração de novos escritórios. Em 22 de julho, será inaugurado um escritório em Portugal, em parceria com a Apex Brasil, que servirá como ponto focal para negociações com países da Europa e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Posteriormente, em outubro, outra unidade será aberta na Etiópia, com o objetivo de fortalecer as parcerias com os países africanos.

A Índia também é um país de interesse para a Fiocruz, que busca estreitar a colaboração por meio de projetos de cooperação industrial e no desenvolvimento de novas vacinas. Esses projetos já foram apresentados ao Ministério da Saúde para possível inclusão no programa nacional de imunizações.

A Fiocruz também assumiu recentemente a liderança da Rede Pasteur de Laboratórios, composta por 35 unidades de pesquisa em 25 países, e de um comitê estratégico da Organização Pan-Americana de Saúde. Este comitê tem como objetivo mapear as condições científicas, tecnológicas e industriais da América Latina, visando organizar um consórcio para o desenvolvimento e a produção de vacinas, medicamentos e diagnósticos.

Superando o “vale da morte”

O presidente da Fiocruz acredita que o fortalecimento das relações internacionais do Brasil no campo científico pode ajudar o país a superar o “vale da morte”, ou seja, a dificuldade de transformar a produção científica em produtos inovadores e novas tecnologias. Essa dificuldade, segundo ele, é causada principalmente pela falta de infraestrutura produtiva de ponta. Para enfrentar esse desafio, a Fiocruz planeja inaugurar, em agosto, o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, uma plataforma tecnológica que receberá projetos de novos produtos de saúde de todo o Brasil e de outros países, com o objetivo de acelerar seu desenvolvimento e produção.

Combate às doenças socialmente determinadas

Finalmente, a cooperação entre os países do Brics para a promoção de pesquisa e desenvolvimento de abordagens inovadoras para a saúde, incluindo as vacinas, foi formalizada em uma parceria para a eliminação das doenças socialmente determinadas, conforme consta na Declaração Final da Cúpula de Líderes do grupo, a Declaração do Rio. O objetivo dessa parceria é fortalecer a cooperação, mobilizar recursos e avançar esforços coletivos para a eliminação integrada dessas doenças, que têm sua incidência agravada pela pobreza, desigualdade social e barreiras de acesso à saúde, tornando-as mais prevalentes no Sul Global.

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