STF pode revisar regras de Haia sobre sequestro internacional de crianças
O Supremo Tribunal Federal (STF) pode reabrir o julgamento sobre a validade das regras da Convenção de Haia sobre sequestro internacional de crianças nesta quarta-feira (28). A sessão, cuja inclusão na pauta do plenário ainda não foi confirmada, analisará a compatibilidade entre a convenção, ratificada pelo Brasil em 2000, e a legislação nacional, principalmente em casos que envolvem violência doméstica.
A controvérsia central reside na interpretação do artigo principal da Convenção de Haia, que prioriza o retorno imediato das crianças ao seu país de origem. Critica-se que essa prioridade pode sobrepor-se a garantias constitucionais brasileiras fundamentais, como o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, especialmente quando há alegações de violência doméstica contra a criança ou o seu responsável.
Questionamentos sobre a aplicação da Convenção de Haia no Brasil
No Brasil, a aplicação da Convenção de Haia tem sido alvo de intensos debates. A preocupação reside no fato de que a convenção pode levar ao retorno de crianças para situações de risco, como em casos onde mães buscam refúgio no país para proteger seus filhos de violência doméstica praticada pelos pais no exterior. Essas mulheres, ao retornarem com seus filhos para o Brasil, frequentemente são acusadas de sequestro internacional.
Em outras palavras, a aparente celeridade do processo de retorno previsto pela convenção pode ignorar a complexidade dos casos, prejudicando a proteção integral da criança e configurando uma possível violação dos direitos humanos. Essa dinâmica coloca em xeque a eficácia da legislação internacional quando confrontada com a realidade de situações de violência doméstica transnacional.
Ação judicial e o posicionamento do antigo DEM
O antigo partido DEM, atualmente extinto, ingressou com uma ação no STF em 2009, contestando a aplicação direta da Convenção de Haia sem a devida consideração das garantias constitucionais brasileiras. A argumentação central da legenda era que a prioridade ao retorno imediato das crianças, prevista na convenção, não poderia se sobrepor aos princípios fundamentais do direito brasileiro, exigindo uma análise prévia das circunstâncias de cada caso.
Além disso, a ação destacava a falha do sistema em investigar adequadamente as denúncias de violência doméstica antes de determinar o retorno da criança. O partido defendia que a Justiça brasileira, ao ser acionada por países signatários da convenção, muitas vezes determina o retorno imediato sem a devida apuração dos fatos, colocando em risco o bem-estar da criança.
Sustentações orais e próximos passos
Em maio de 2023, o STF ouviu as sustentações orais das partes envolvidas no processo. Após este momento, o caso foi novamente encaminhado para o plenário do Supremo Tribunal Federal aguardando uma nova data para julgamento. A retomada do julgamento nesta quarta-feira, embora prevista na pauta, ainda não é totalmente confirmada. A expectativa é grande, pois a decisão judicial terá um profundo impacto na interpretação e aplicação da Convenção de Haia no Brasil, afetando diretamente o futuro das crianças envolvidas em casos de sequestro internacional e violência doméstica.
Portanto, a decisão do STF poderá estabelecer um importante precedente, definindo os limites da aplicação da Convenção de Haia no contexto brasileiro e garantindo a proteção das crianças em situações de risco. A resolução desta questão é fundamental para conciliar os compromissos internacionais do Brasil com a proteção dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.