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STF adia julgamento que pode liberar identificação por buscas

O STF adiou nesta quinta (25) o julgamento que pode permitir a quebra de sigilo para identificar usuários que fizeram buscas na internet, com votação parcial de 5x2 a favor da medida.
STF quebra sigilo buscas
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agênci

O Supremo Tribunal Federal (STF) adiou, nesta quinta-feira (25), a finalização de um julgamento crucial que pode permitir a quebra de sigilo para a identificação de usuários que realizam buscas específicas na internet. A decisão da Corte, com uma votação parcial de 5 a 2 favorável à medida, possui o potencial de estabelecer diretrizes para a atuação em futuras investigações criminais. Entretanto, a deliberação foi interrompida, deixando em aberto a data para sua retomada.

O Adiamamento e Suas Implicações Legais

O placar atual do julgamento revela uma maioria de cinco votos a dois pela permissão da quebra de sigilo de grupos indeterminados de usuários. Contudo, essa autorização seria condicionada à criação de regras claras e específicas por parte da Corte. Posteriormente, o ministro Dias Toffoli solicitou um pedido de vista, um mecanismo que permite mais tempo para análise do processo. Por conseguinte, o julgamento foi paralisado, e ainda não há previsão para quando os trabalhos serão retomados, gerando incertezas sobre o futuro da privacidade digital e dos métodos investigativos no país.

A Origem da Controvérsia e o Caso Marielle Franco

A discussão central no Supremo Tribunal Federal emergiu a partir de um recurso interposto pelo Google. A empresa questiona uma decisão anterior do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que a obrigou a fornecer dados de usuários. Essa determinação do STJ exigia que a plataforma entregasse informações de indivíduos que pesquisaram sobre a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, nos dias que antecederam seus assassinatos em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Além disso, a liminar da Justiça do Rio, mantida pelo STJ, especificava a entrega dos IPs de usuários que buscaram termos como “Marielle Franco”, “vereadora Marielle”, “agenda vereadora Marielle”, “Casa das Pretas”, “Rua dos Inválidos, 122” ou “Rua dos Inválidos” entre 10 e 14 de março de 2018.

A gigante da tecnologia argumentou que a decisão era ilegal. Conforme sua defesa, a determinação de quebra de sigilo de forma genérica, sem a indicação prévia de nomes de suspeitos, violaria o procedimento padrão em investigações criminais. Além disso, a empresa sublinhou que tal medida contraria a Constituição Federal, que garante a inviolabilidade dos dados e comunicações pessoais, salvo em exceções muito específicas.

Os Posicionamentos dos Ministros do STF

Até o momento da interrupção, cinco ministros manifestaram-se a favor da quebra de sigilo de um grupo indeterminado de usuários, desde que observadas certas condições. São eles: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Nunes Marques, Gilmar Mendes e Edson Fachin. Suas propostas incluem a exigência de uma decisão judicial prévia para a medida, o descarte de quaisquer dados coletados de pessoas que não estejam sob investigação e a restrição da aplicação da medida apenas para casos de crimes hediondos. Tais salvaguardas visam equilibrar a necessidade de investigação com a proteção da privacidade.

Por outro lado, dois ministros divergiram dessa posição. O ministro André Mendonça expressou preocupação, afirmando que a medida poderia levar à criação de um “Estado policialesco”, o que levantaria sérias questões sobre as liberdades civis. Em seguida, a ministra Rosa Weber, antes de sua aposentadoria em setembro de 2023, também votou contra a entrega irrestrita de dados do Google, reforçando a importância da proteção dos dados pessoais.

Atualizações sobre o Caso Marielle Franco

Em maio deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou um pedido ao Supremo Tribunal Federal. Nele, solicitou a condenação dos indivíduos acusados de envolvimento nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A manifestação da procuradoria pleiteia a condenação de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), de seu irmão Chiquinho Brazão, ex-deputado federal, e também de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Adicionalmente, Ronald Alves de Paula, major da Polícia Militar, e Robson Calixto, ex-policial militar e assessor de Domingos Brazão, também foram incluídos no pedido. Todos os mencionados encontram-se atualmente em prisão preventiva.

Este pedido de condenação constitui a etapa das alegações finais do caso, representando o último passo antes de o processo ser levado a julgamento. Não obstante, a data para esse julgamento decisivo ainda não foi agendada. A continuidade do processo, portanto, aguarda os próximos passos da Justiça.