O governo de São Paulo anunciou sua intenção de recorrer da liminar judicial que impediu a contratação de policiais militares para atuar como monitores em escolas públicas. Essa medida, obtida na última sexta-feira (18) pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), suspendeu o processo seletivo que visava integrar PMs à rede de ensino paulista. A decisão judicial representa um revés significativo para a administração estadual, que planejava implementar um modelo cívico-militar em determinadas unidades de ensino.
Os Fundamentos da Decisão Judicial e a Oposição
A liminar, concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), atendeu aos argumentos apresentados pela Apeoesp. O sindicato alegou a inconstitucionalidade do projeto em múltiplos aspectos, um dos pontos centrais reside na falta de uma consulta pública abrangente e efetiva às comunidades escolares. Segundo a entidade, era essencial que pais, alunos e educadores pudessem expressar suas opiniões e participar ativamente do processo decisório sobre a implementação de um novo modelo educacional. Além disso, a Apeoesp levantou preocupações com a legalidade orçamentária e a responsabilidade fiscal, destacando que os salários previstos para os policiais seriam superiores aos vencimentos dos professores da rede.
Adicionalmente, outros atores políticos manifestaram oposição ao plano governamental. Parlamentares do PSOL, por exemplo, também se mobilizaram contra a iniciativa, buscando derrubar a seleção por meio de uma ação popular. A deputada federal Professora Luciene Cavalcante, que preside a Federação PSOL-Rede, sublinhou a preocupação com a admissão dos policiais sem a realização de um concurso público, procedimento que normalmente garante a isonomia e a qualificação dos profissionais no serviço público. Os candidatos seriam selecionados apenas por meio de entrevistas, o que gerou questionamentos sobre a transparência e a meritocracia do processo.
Contexto e Precedentes do Modelo Cívico-Militar
O plano do governo de Tarcísio de Freitas contemplava a contratação de 208 policiais militares, designados para atuar em escolas cívico-militares. Este modelo educacional, outrora uma bandeira do governo de Jair Bolsonaro, tem enfrentado resistência e controvérsias em diversas regiões do país. Um exemplo notável é o estado de Minas Gerais, onde o modelo cívico-militar já está em curso sob a gestão do governador Romeu Zema. Lá, estudantes têm se articulado e demonstrado publicamente sua insatisfação com a implementação do formato, levantando debates sobre a militarização do ambiente escolar e seus impactos na autonomia pedagógica.
Mais relevante ainda, a Advocacia-Geral da União (AGU) já havia emitido pareceres considerando inconstitucional a implementação desse tipo de escola. Em 2024, a AGU se manifestou contra as propostas de modelos cívico-militares tanto em São Paulo quanto no Rio Grande do Sul, reforçando o entendimento de que tais iniciativas poderiam ferir princípios fundamentais da Constituição Federal. Esses pareceres prévios fortalecem a base jurídica para as contestações que buscam barrar a adesão de policiais militares nas instituições de ensino sem as devidas conformidades legais.
Cronograma Original e Próximos Passos
O despacho que concedeu a liminar em favor da Apeoesp detalha o cronograma que havia sido estabelecido para a contratação dos policiais. Segundo o plano original, a divulgação dos resultados estava prevista para 5 de agosto. Posteriormente, entre 6 e 20 de agosto, ocorreria a convocação dos candidatos aprovados. A expectativa era que os policiais já assumissem seus postos de trabalho no dia 25 de agosto. No entanto, com a liminar em vigor, todo esse processo foi paralisado. A decisão do governo de São Paulo de recorrer da suspensão indica que a discussão sobre a presença de militares nas escolas públicas paulistas está longe de ser finalizada, prometendo novos capítulos na esfera judicial e política.