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Sônia Guajajara cobra países ricos por Acordo de Paris na COP30

Ministra Sônia Guajajara cobra de países desenvolvidos o cumprimento do Acordo de Paris e destaca o papel crucial dos territórios indígenas para a COP30 em Belém.
Sônia Guajajara COP30
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, fez um apelo contundente para que as nações desenvolvidas cumpram os compromissos estabelecidos no Acordo de Paris, assinado durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) em 2015. Em vista da aproximação da COP30, agendada para ocorrer em Belém, no Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025, a ministra sublinhou a essencialidade dos territórios indígenas como um fator decisivo no enfrentamento das mudanças climáticas globais.

Contexto da COP30 e as Cobranças Diplomáticas

Com a contagem regressiva para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a pauta da responsabilidade global ganha destaque. A ministra Guajajara ressaltou que o evento, por ser uma iniciativa das Nações Unidas envolvendo 198 países, demanda uma abordagem de corresponsabilidade. Ela afirmou que o foco não deve recair exclusivamente sobre o governo brasileiro, mas sim na necessidade de líderes mundiais assumirem compromissos coletivos para combater a crise climática.

Em uma entrevista concedida ao programa “Bom Dia, Ministra”, produzido pelo Canal Gov da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), na quarta-feira (6), a ministra também abordou a realização da 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, evento que se estendeu até a quinta-feira (7) em Brasília. Este encontro representou um marco importante para as vozes femininas dos povos originários, permitindo que suas demandas e perspectivas fossem amplamente debatidas e apresentadas no cenário nacional.

Territórios Indígenas como Solução Climática Crucial

Uma das principais propostas levadas pelos povos indígenas para a COP30 é o reconhecimento formal de seus territórios como uma estratégia comprovadamente eficaz para mitigar as alterações climáticas. A ministra enfatizou que as terras indígenas são, por evidência, as áreas mais preservadas do planeta, albergando a maior parte da biodiversidade existente. Além disso, destacou que essa proteção ambiental resulta diretamente do modo de vida tradicional e sustentável praticado por essas comunidades.

Dessa forma, Guajajara defendeu a inclusão dessa proposta nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de cada país, reconhecendo o papel fundamental que os povos originários desempenham na conservação ambiental e, por conseguinte, na luta contra o aquecimento global. A valorização desses territórios, portanto, transcende a questão territorial, configurando-se como um pilar essencial para a saúde do ecossistema mundial.

Logística, Relevância e Desafios da COP na Amazônia

Questionada sobre as preocupações com os custos de hospedagem em Belém e os encargos adicionais de realizar um evento de porte global na Região Amazônica, a ministra Sônia Guajajara prontamente afastou qualquer possibilidade de transferência do local da COP30. Ela reconheceu que muitos países em desenvolvimento, que enfrentam limitações de recursos, manifestaram preocupação com as despesas para suas comitivas, entretanto, assegurou que não há risco de a conferência ser remanejada de Belém do Pará.

Consequentemente, a ministra instou os participantes a manterem o foco na urgência das discussões climáticas. Para ela, esta COP é um divisor de águas: “É a primeira COP na Amazônia. Nós estamos falando da COP da floresta, da COP da participação, da COP da inclusão e, também, da COP da implementação”, reiterou, ecoando uma fala frequentemente proferida pela ministra Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Portanto, a expectativa é que o evento em solo amazônico não apenas discuta, mas também avance em ações concretas.

Preparação e Participação Ativa das Lideranças Indígenas no Cenário Global

O Ministério dos Povos Indígenas tem trabalhado arduamente para garantir uma participação robusta e qualificada das comunidades indígenas nas negociações da COP30. Para tanto, está em andamento o “Ciclo Coparente”, uma série de encontros preparatórios que já percorreu diversas regiões do Brasil, incluindo Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Atualmente, os esforços estão concentrados na Amazônia, com reuniões programadas para agosto em Manaus e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e também no sul do estado.

Além disso, a preparação para a conferência se estenderá a Roraima, onde a agenda inclui uma visita para monitorar as ações da Casa de Governo no Território Indígena Yanomami, reforçando o compromisso com a fiscalização e apoio a essa região vital. Desde o ano anterior, o governo federal tem implementado o programa Kuntari Katu, cujo objetivo é capacitar líderes indígenas para atuarem de forma estratégica na política global e em fóruns de negociação, como as COPs.

A ministra salientou que a COP30 contará com diversas instâncias de participação, desde a cúpula dos povos até as zonas verde e azul. Ela destacou a presença de indígenas que foram cuidadosamente preparados para interagir diretamente com os negociadores da COP, a quem carinhosamente chamou de “nossos diplomatas indígenas”. Em suma, para ampliar essa frente de atuação, novas turmas de lideranças indígenas serão formadas, visando aumentar o número de representantes aptos a atuar em fóruns internacionais, garantindo que suas vozes e conhecimentos sejam devidamente considerados nas decisões globais sobre o clima.