Edição Brasília

Sociedade civil critica sanções dos EUA a Moraes por atacar soberania

Organizações como HRW e Transparência Internacional criticaram nesta quarta as sanções dos EUA a Alexandre de Moraes e a taxação, alegando ataque à soberania e à independência judicial brasileira.
Sanções EUA Moraes
Foto: Alan Santos/PR

Organizações influentes da sociedade civil brasileira, como a Human Rights Watch (HRW) e a Transparência Internacional – Brasil, manifestaram veementemente sua crítica nesta quarta-feira às recentes medidas adotadas pelo governo dos Estados Unidos. As ações norte-americanas, que incluem sanções direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a confirmação da taxação de parte das exportações brasileiras, são percebidas como um ataque direto à soberania nacional e à independência do judiciário no Brasil.

Repercussão da Sociedade Civil

A Human Rights Watch (HRW), por exemplo, classificou as iniciativas norte-americanas como uma interferência na autonomia brasileira. A entidade ressaltou que sanções contra um membro do Supremo Tribunal Federal, somadas às tarifas impostas pela administração Trump, representam uma clara violação da independência judicial, que é um pilar fundamental da democracia. Em vez de impor punições a ministros e ao país, argumentou a HRW, qualquer discordância sobre uma decisão deveria ser tratada por meio de recursos legais apropriados, em conformidade com as práticas democráticas.

Adicionalmente, a Transparência Internacional – Brasil expressou profunda preocupação com a utilização da Lei Magnitsky. Para a organização, o emprego seletivo desta legislação para fins políticos e econômicos é “alarmante e inaceitável”. Segundo a Transparência Internacional, essa prática tem se intensificado sob a atual gestão Trump. No caso específico do ministro Alexandre de Moraes, que é o relator dos processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, a medida pode, na verdade, gerar ainda mais instabilidade política no Brasil, em vez de promover qualquer benefício.

Por sua vez, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também se posicionou em apoio ao ministro do STF. A ABI afirmou que quaisquer ações destinadas a deslegitimar ou intimidar figuras públicas que exercem funções cruciais para a manutenção do Estado de Direito configuram uma afronta não apenas à soberania brasileira, mas também aos valores democráticos que o país defende, reforçando a importância da autonomia das instituições.

Entenda as Sanções Norte-Americanas

Mais cedo, o governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, fundamentando-se na Lei Magnitsky. Esta norma norte-americana foi criada para permitir sanções econômicas contra indivíduos considerados violadores de direitos humanos em qualquer parte do mundo, visando combater a impunidade por atrocidades.

Consequentemente, a aplicação da Lei Magnitsky pode resultar em diversas restrições para os indivíduos designados. Entre elas, destacam-se o bloqueio de contas bancárias, ativos e aplicações financeiras mantidas nos Estados Unidos, a proibição de que empresas americanas realizem transações com as pessoas sancionadas, e o impedimento de entrada no território norte-americano para os indivíduos afetados. Entretanto, especialistas indicam que o impacto dessas sanções sobre o ministro Moraes deverá ser mínimo, uma vez que ele não possui bens, contas bancárias ou investimentos significativos naquele país e não tem o costume de viajar para os Estados Unidos, o que mitiga os efeitos práticos da medida.

Histórico de Medidas Contra o Ministro

Vale ressaltar que a aplicação da Lei Magnitsky representa a segunda sanção direta imposta pela administração Trump contra Alexandre de Moraes. Anteriormente, em 18 de julho, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, já havia anunciado publicamente a revogação dos vistos do ministro, de seus familiares e de outros “aliados na Corte”, indicando uma escalada nas tensões diplomáticas.

Este anúncio de revogação de vistos ocorreu logo após o ministro Moraes ter instaurado um inquérito. O objetivo da investigação era apurar a conduta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, por sua atuação junto ao governo dos Estados Unidos. O inquérito buscava verificar se o deputado promoveu medidas de retaliação contra o governo brasileiro e contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, além de tentar obstruir o andamento da ação penal relacionada à trama golpista que ocorreu no país.

Ainda nesse contexto, em março deste ano, Eduardo Bolsonaro havia solicitado licença de seu mandato parlamentar e se mudou para os Estados Unidos, alegando perseguição política. A licença, que justificava sua permanência em solo americano, encerrou-se no dia 20 de julho. Desse modo, as ações recentes dos EUA são vistas por muitos analistas como uma continuação de pressões sobre o judiciário brasileiro e uma tentativa de interferir em assuntos internos do país.