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Setor editorial cresce abaixo da inflação em 2024

Apesar do aumento no faturamento de R$ 4,2 bilhões, o crescimento real foi negativo (-1,1%), impulsionado principalmente pelo desempenho de livros digitais e segmentos como Obras Gerais e Religiosos.
Crescimento mercado editorial Brasil 2024
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Setor Editorial Brasileiro Apresenta Crescimento Moderado em 2024

O setor editorial brasileiro registrou um crescimento nominal de 3,7% em seu faturamento em 2024, atingindo a marca de R$ 4,2 bilhões. No entanto, ao se considerar a inflação do período, que ficou em 4,83%, o resultado real aponta para uma retração de 1,1% nos ganhos do setor. Esses dados foram divulgados na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada em conjunto pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), com a apuração da Nielsen BookData. O estudo, publicado em 28 de [mês], de [ano], oferece um panorama detalhado do desempenho do mercado editorial no ano.

Desempenho Diversificado entre Subsetores

A pesquisa revela um cenário heterogêneo entre os subsetores analisados. Obras Gerais, por exemplo, apresentaram um crescimento nominal de 9,2% nas vendas; a categoria Religiosos também demonstrou bom desempenho, com aumento de 8,7%. A área de Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP) registrou um crescimento mais modesto, de 3,3%. Em contraponto, a categoria Didáticos foi a única a apresentar resultado negativo, com uma queda nominal de 5,1% nas vendas ao mercado. Esse desempenho desigual indica diferentes dinâmicas de mercado e consumo em cada segmento.

Segundo Sevani Matos, presidente da CBL, a edição deste ano da pesquisa apresenta uma inovação significativa: a inclusão de dados de vendas segmentados por gênero literário. Essa mudança, explicou Sevani, “alinha o Brasil com as práticas de mercados mais maduros, permitindo uma análise mais aprofundada e estratégica do setor”. A análise por gênero revelou que a categoria Não Ficção Adulto liderou em faturamento (28,5% do total), enquanto a categoria Religiosos dominou em número de exemplares vendidos (29,5%). Sevani ressaltou a diversidade de preferências dos leitores brasileiros, interpretando-a como “um reflexo da riqueza cultural do nosso país e uma oportunidade para as editoras explorarem nichos específicos e atenderem melhor às demandas do público”.

Livros Digitais e o Desempenho Geral do Mercado

Apesar do crescimento abaixo da inflação nos livros físicos, o presidente do SNEL, Dante Cid, destacou a contribuição significativa dos livros digitais para o resultado geral do setor. Com um aumento superior a 20% no faturamento, os livros digitais ajudaram a compensar a queda em outras áreas, levando o setor editorial a um crescimento ligeiramente positivo. Cid apontou para a queda considerável na categoria Didáticos, explicando que essa redução está parcialmente relacionada à expansão de modelos de acesso digital ao conteúdo, muitas vezes integrados aos sistemas de ensino. Ele observou que esses novos formatos não são totalmente captados pela pesquisa, mas representariam, segundo estimativas do mercado, cerca de 50% do total da categoria Didáticos.

Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas econômicas da Nielsen BookData, considerou o resultado do setor em 2024 como positivo. Desconsiderando o desempenho negativo de Didáticos, as editoras registraram um crescimento nominal de 7,8% nas vendas ao mercado, representando um aumento real de 2,8%. Ela também destacou o crescimento da participação das livrarias no faturamento de Obras Gerais, e a consolidação do “Site da Própria Editora/Marketplace” como canal relevante, especialmente para Didáticos e CTP, e com crescente importância para a categoria Religiosos. A análise de Mariana reforça a complexidade do cenário, com diferentes tendências em cada segmento do mercado.

Números Gerais de Produção e Preços

Em 2024, foram produzidos 44 mil títulos, sendo 23% lançamentos, totalizando 366 milhões de exemplares. Em comparação com 2023, houve uma leve redução no número de títulos (45 mil em 2023), mas um aumento significativo na quantidade de exemplares (320 milhões em 2023). A variação nominal do preço médio dos livros foi de 2,9%, inferior ao IPCA do período (4,83%), indicando que os livros encareceram menos que outros produtos e serviços no ano.

Análise por Gênero e Canais de Distribuição

A pesquisa de 2024 trouxe pela primeira vez uma análise detalhada por gênero literário, dividindo os livros em cinco categorias: Didáticos, Ficção Adulto, Não Ficção Adulto, Infantil e Juvenil, e Religioso. A categoria Didáticos respondeu por 27,2% do faturamento e 10,8% dos exemplares vendidos. A Não Ficção Adulto representou 28,5% do faturamento e 22,66% dos exemplares. Já os livros Religiosos obtiveram 15,6% do faturamento e impressionantes 29,5% dos exemplares vendidos. Em relação aos canais de distribuição, observou-se um aumento na participação das escolas e colégios no faturamento de Didáticos, mas, considerando a queda geral da categoria, a importância desse canal diminuiu. Em Obras Gerais, as livrarias físicas aumentaram sua participação no faturamento, enquanto as vendas online apresentaram uma queda leve. Em Religiosos, houve aumento significativo tanto em vendas por distribuidores quanto pelo canal “Site da própria editora/Marketplace”.

Conclusão: Um Panorama Complexo e Dinâmico

Em conclusão, o setor editorial brasileiro em 2024 apresentou um crescimento complexo e heterogêneo. Enquanto o crescimento nominal foi positivo, a inflação impactou o resultado real, mostrando a necessidade de uma análise mais detalhada do mercado. A inclusão da segmentação por gênero e a análise aprofundada dos canais de distribuição mostram a crescente importância de estratégias diversificadas para o sucesso no setor, com destaque para o crescimento acentuado do mercado de livros digitais e a adaptação às novas formas de acesso ao conteúdo.