Edição Brasília

Semiárido: estudo aponta renda mínima para vida digna

Estudo revela renda mínima para vida digna no semiárido: famílias precisam de R$ 1.986 a R$ 4.996 mensais na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, valores acima do salário mínimo e da linha de pobreza, segundo pesquisa do IDH.
Renda mínima semiárido Brasil
Foto: Arquivo/Agência Brasil

Renda Mínima para Vida Digna no Semiárido Brasileiro: Um Estudo do IDH

Uma pesquisa recente do Instituto IDH (Instituto de Desenvolvimento Humano) revelou valores surpreendentes para a renda mínima necessária à subsistência digna de famílias no semiárido brasileiro. O estudo, realizado em parceria com o Anker Research Institute e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), analisou o custo de vida e o acesso a direitos humanos fundamentais em dez regiões da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

A pesquisa considerou famílias compostas por dois adultos e duas crianças. Os resultados apontam para uma necessidade financeira mensal que varia entre R$ 1.986,00 e R$ 4.996,00. Esse intervalo demonstra uma ampla disparidade regional, mas, de forma consistente, ultrapassa significativamente tanto o salário mínimo vigente quanto a linha de pobreza, estabelecida em R$ 872,00. Assim, o estudo demonstra a insuficiência dos valores mínimos atualmente praticados para garantir uma vida digna nessas regiões.

Metodologia e Abordagem da Pesquisa

Para chegar a esses valores, o estudo segmentou os territórios dos três estados em dez zonas distintas, com base nas necessidades de renda para uma vida digna. Três dessas zonas estão na Paraíba, quatro no Rio Grande do Norte e três em Pernambuco. A metodologia levou em consideração uma gama de fatores essenciais para o bem-estar familiar, incluindo alimentação saudável, acesso à educação, moradia adequada, cuidados com a saúde e até mesmo recursos para lazer. Além disso, foi incluído um adicional de 5% para cobrir despesas imprevistas, especialmente considerando a vulnerabilidade da região a eventos climáticos extremos, como as frequentes secas.

Em outras palavras, a pesquisa não se limitou a calcular o custo básico de sobrevivência. Ao incorporar itens como lazer e uma reserva financeira para emergências, o estudo busca representar uma vida digna que ultrapasse a mera sobrevivência e contemple as necessidades de uma vida mais plena. Esta perspectiva, portanto, destaca a complexidade de garantir um padrão de vida minimamente aceitável em regiões marcadas por adversidades climáticas e econômicas.

Implicações e Desafios para o Semiárido

O estudo destaca a crucial relação entre renda e impacto ambiental. Segundo os pesquisadores, a elevação da renda e da qualidade de vida da população rural pode gerar impactos positivos em diversas áreas, incluindo os âmbitos econômico, social e ambiental. Entretanto, a pesquisa também faz uma distinção importante entre “salário digno” para trabalhadores rurais empregados e “renda digna” para pequenos produtores rurais, refletindo a diversidade de realidades existentes no campo.

A análise revela que a maioria das famílias na região recebe menos do que o mínimo considerado necessário pelo estudo. Essa disparidade financeira acentua a vulnerabilidade dessas famílias frente às ameaças climáticas, como a desertificação, que já afeta 13% do semiárido nordestino. Portanto, a pesquisa evidencia a urgência de políticas públicas mais eficazes para enfrentar essa problemática.

A Visão da Fundação IDH: Cadeias Produtivas e Sustentabilidade

Grazielle Cardoso, gerente do Programa Raízes da Caatinga da Fundação IDH, ressaltou a importância das cadeias produtivas estruturadas e resilientes para a geração de renda digna no campo. Em suas palavras, “Sem cadeias produtivas estruturadas e resilientes, não há renda digna no campo. A degradação do bioma é uma ameaça para as famílias que vivem da agricultura, reduzindo as oportunidades de sustento. Além disso, a renda de quem trabalha no campo, quando insuficiente para uma vida sem privações, impossibilita a estruturação e manutenção de cadeias produtivas com práticas regenerativas”.

Em conclusão, o estudo do IDH apresenta um retrato preocupante, mas necessário, da realidade do semiárido brasileiro. Os dados revelam a profunda desigualdade e a urgente necessidade de políticas públicas que garantam uma renda digna para as famílias dessa região, promovendo, simultaneamente, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento socioeconômico.