Selic Estacionada em 15%: Banco Central Indica Longo Período Sem Quedas para Ancorar a Inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou que a taxa básica de juros, a Selic, deverá permanecer em 15% ao ano por um período prolongado. A decisão, conforme ata divulgada nesta terça-feira (24), visa conter as expectativas de inflação, que se mantêm acima da meta estabelecida, impulsionadas por uma demanda ainda aquecida na economia. A autoridade monetária busca, com essa postura, garantir que a inflação convirja para o objetivo estipulado.
Manutenção Prolongada da Selic
Após um recente aumento de 0,25 ponto percentual, elevando a Selic de 14,75% para 15% ao ano, o Banco Central indica que a elevação será interrompida. De acordo com a ata, o objetivo agora é avaliar se o patamar atual da taxa de juros, mantido por um período extenso, será suficiente para assegurar que a inflação retorne à meta estabelecida. A estratégia reflete uma postura de cautela, buscando consolidar os efeitos das medidas já implementadas antes de considerar novos ajustes.
Núcleos de Inflação Persistentes
O Copom demonstrou preocupação com os núcleos de inflação, que têm se mantido, por meses, acima do nível considerado compatível com o cumprimento da meta. Essa persistência, na avaliação do comitê, reforça a percepção de que a inflação continua pressionada pela demanda, exigindo uma política monetária restritiva por um período considerável. Essa avaliação sugere que o Banco Central está disposto a manter a Selic em um patamar elevado até que haja sinais mais claros de arrefecimento da pressão inflacionária.
Desancoragem das Expectativas Inflacionárias
A ata do Copom destaca que a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto que exige uma restrição monetária ainda maior e por um período mais longo do que seria necessário em outras circunstâncias. Em outras palavras, a dificuldade em convencer o mercado de que a inflação será controlada exige um esforço adicional por parte do Banco Central. Apesar disso, o cenário de inflação de curto prazo apresentou algumas surpresas positivas, com os preços dos alimentos mostrando uma dinâmica mais moderada do que a esperada.
Instrumento Principal: A Selic e o IPCA
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o IPCA apresentou uma taxa de 0,26%, mesmo com a pressão exercida por alguns alimentos e pelas contas de energia. Entretanto, o indicador acumula uma alta de 5,32% nos últimos 12 meses, superando o teto da meta contínua de inflação.
O Novo Sistema de Metas Contínuas
Desde janeiro, o Brasil adota um novo sistema de metas contínuas. A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Nesse modelo, a apuração é realizada mensalmente, considerando a inflação acumulada nos 12 meses anteriores. Assim, em junho de 2025, a inflação desde julho de 2024 será comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em julho, o procedimento se repete, com apuração a partir de agosto de 2024. Esse sistema permite um acompanhamento mais dinâmico e contínuo da trajetória da inflação.
Análise de Cenários e Riscos
O Copom baseia suas decisões em análises detalhadas de diferentes cenários. No âmbito externo, a avaliação é de que o cenário permanece adverso e incerto, em função da conjuntura e da política econômica dos Estados Unidos, especialmente em relação às políticas comercial e fiscal. Adicionalmente, as tensões geopolíticas acentuadas, com destaque para a crise no Oriente Médio e seus impactos nos preços internacionais do petróleo, exigem cautela, principalmente por parte dos países emergentes.
Internamente, o comitê observa algum dinamismo nos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho, embora com uma moderação no crescimento. Diante desses cenários, o Copom realiza uma análise de riscos para embasar suas decisões, considerando que o ambiente segue desafiador em diversas dimensões. A visão é de que o cenário internacional permanece incerto e volátil, com pouca clareza sobre a trajetória fiscal norte-americana.
Conflitos Geopolíticos e Crescimento Econômico
O conflito geopolítico no Oriente Médio, com suas possíveis consequências sobre o mercado de petróleo, também adiciona incerteza ao cenário externo prospectivo, impactando decisões de investimento e consumo. Apesar disso, o Copom avalia que a economia doméstica parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países. Movimentos cambiais abruptos têm sido observados, o que exige ainda mais cautela na condução da política monetária brasileira.
A ata do Copom também menciona que a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre indicou um crescimento forte nos setores menos sensíveis ao ciclo econômico, como a agropecuária, conforme o esperado. Nos demais setores, foi observada alguma moderação, embora com dinamismo em vários subsetores. Além disso, indicadores recentes de comércio, serviços e indústria sugerem um crescimento mais moderado, enquanto os indicadores de confiança se mantêm em níveis baixos.
Mercado de Trabalho e Decisão do Copom
Os dados mais recentes do mercado de trabalho corroboram a interpretação de um cenário dinâmico, com expressiva geração de empregos formais e redução da taxa de desemprego. A renda e o emprego dos brasileiros têm apresentado índices positivos, impulsionando o mercado de crédito nos últimos trimestres. Nesse contexto, o Copom concluiu que era necessária a elevação de 0,25 ponto percentual da Selic, uma vez que a economia ainda apresenta resiliência, dificultando a convergência da inflação à meta, o que requer um maior aperto monetário.
Considerando as defasagens inerentes aos efeitos da política monetária, o Copom antecipou a interrupção do ciclo de alta da Selic, a fim de observar os efeitos das medidas já implementadas e avaliar se a taxa de juros corrente é apropriada para assegurar a convergência da inflação à meta. Em conclusão, o Banco Central adota uma postura vigilante, buscando equilibrar o combate à inflação com a manutenção de um ambiente econômico favorável ao crescimento.