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Saúde física e mental caminham para um tratamento unificado

ilustração digital futurista representando a conexão entre saúde física e mental

Imagem gerada por IA

Durante séculos, a medicina tratou a saúde física e mental como áreas separadas, com especialistas distintos para cada uma. No entanto, estudos recentes e avanços na prática médica indicam que essa divisão pode estar com os dias contados. Doenças que afetam o corpo frequentemente têm origem psicológica, e transtornos mentais também podem gerar sintomas físicos, o que tem impulsionado uma abordagem mais integrada nos tratamentos.

A conexão entre mente e corpo

Cada vez mais, médicos reconhecem que o funcionamento do organismo é interdependente. Pacientes com depressão frequentemente relatam fadiga e dores musculares, enquanto transtornos de ansiedade podem causar problemas digestivos, como a síndrome do intestino irritável.

Da mesma forma, pessoas diagnosticadas com doenças neurológicas, como tumores cerebrais, podem apresentar mudanças bruscas de comportamento. Esses exemplos demonstram que o impacto entre corpo e mente vai além do emocional e pode afetar funções biológicas essenciais.

O anestesiologista Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), explica que o tratamento da dor crônica muitas vezes exige suporte psicológico. “Mesmo quando pensamos em doenças puramente físicas, o desconforto prolongado pode afetar o bem-estar mental do paciente, o que justifica a necessidade de um cuidado integrado”, afirma.

Quando doenças físicas têm origem psicológica?

A medicina já identificou diversas doenças psicossomáticas, ou seja, condições físicas que surgem ou pioram devido a questões emocionais. Alguns exemplos incluem:

📌 Fibromialgia: provoca dores musculares intensas e é frequentemente associada ao estresse e traumas emocionais.
📌 Síndrome do intestino irritável: causa cólicas, inchaço e alterações intestinais, sendo agravada por ansiedade e tensão.
📌 Burnout: leva à exaustão física extrema e pode desencadear problemas cardíacos, distúrbios digestivos e insônia.
📌 Distúrbio neurológico funcional (FND): manifesta-se com sintomas semelhantes aos da epilepsia ou esclerose múltipla, mas sem causa orgânica identificável.

A psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que a dor emocional pode se manifestar no corpo, mesmo sem uma explicação médica evidente. “Pacientes podem desenvolver sintomas incapacitantes e, ainda assim, não apresentarem exames laboratoriais alterados. Isso não significa que a dor não seja real, apenas que sua origem pode ser mais complexa do que imaginamos”, explica.

O futuro do tratamento integrado

Diante dessas evidências, a medicina tem adotado novas abordagens para tratar corpo e mente de forma simultânea.

🔹 Estimulação Magnética Transcraniana (EMT): originalmente usada para tratar depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), agora também é aplicada em pacientes com dores crônicas e síndrome do intestino irritável.

🔹 Terapias integrativas: práticas como meditação, acupuntura e ioga têm se mostrado eficazes no tratamento de transtornos emocionais e doenças físicas.

🔹 Impacto da fé e do otimismo: estudos indicam que pacientes com uma visão positiva sobre sua recuperação apresentam melhora mais rápida, enquanto pessoas solitárias ou desmotivadas têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

Para o psicólogo Rossandro Klinjey, compreender o que o corpo expressa pode ser fundamental para a saúde mental. “Muitas vezes, o organismo fala aquilo que a alma não consegue traduzir em palavras. Escutá-lo pode ser uma das experiências mais transformadoras para um paciente”, enfatiza.

Conclusão

O futuro da medicina caminha para um modelo de tratamento unificado, em que a saúde física e mental são abordadas de maneira integrada. O bem-estar emocional pode influenciar o estado físico do corpo e vice-versa, exigindo que médicos e psicólogos trabalhem juntos para oferecer uma assistência mais completa.

A tendência é que, nos próximos anos, os tratamentos médicos passem a levar em conta não apenas os sintomas físicos, mas também as emoções e o contexto psicológico dos pacientes. Esse avanço representa uma revolução na forma como compreendemos a saúde humana, promovendo mais qualidade de vida e bem-estar para todos.

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