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Rio: Vigília inter-religiosa une fés por clima e combate negacionismo pré-COP30

Centenas de pessoas uniram fés em vigília inter-religiosa no centro do Rio, neste sábado, para alertar sobre a crise climática e combater o negacionismo antes da COP30.
Vigília clima Rio COP30
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Centenas de pessoas de diversas crenças se uniram em uma significativa vigília inter-religiosa no coração do Rio de Janeiro, no último sábado, 30 de agosto de 2025. O propósito principal do encontro foi conscientizar a população sobre a crescente crise climática e, além disso, combater o negacionismo ambiental, um desafio crucial antes da iminente 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

Consciência Climática e Resistência ao Negacionismo

A edição carioca da Vigília pela Terra encontrou seu palco em um vasto gramado, estrategicamente situado entre a histórica Igreja da Candelária e o Centro Cultural Banco do Brasil, ambos ícones arquitetônicos da capital fluminense. Neste cenário de grande simbolismo, o evento reuniu não apenas líderes religiosos, mas também centenas de cidadãos em uma jornada de reflexão e engajamento.

Com a COP30 programada para ocorrer em Belém entre 10 e 21 de novembro do mesmo ano, a vigília adquiriu uma urgência particular. Este encontro inter-religioso visa, primordialmente, alertar para a necessidade imperativa de conter o avanço do aquecimento global, que é o principal catalisador de tragédias ambientais cada vez mais frequentes e devastadoras. A organização do evento ficou a cargo do Instituto de Estudos da Religião (Iser), uma entidade da sociedade civil de caráter laico. Além das preces e mensagens ecumênicas, os participantes desfrutaram de uma programação diversificada, que incluiu apresentações musicais, performances de dança e opções gastronômicas, enriquecendo a experiência coletiva.

Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Iser, enfatizou que as comunidades religiosas, fundamentadas em suas escrituras e crenças, naturalmente atuam como guardiãs do meio ambiente. Segundo Evangelista, a colaboração de líderes religiosos é crucial para a conscientização e mobilização pública em prol da proteção ambiental. Adicionalmente, ela apontou que a vigília também se configura como um espaço vital para confrontar o negacionismo climático. Em suas palavras, “estamos no Brasil e no mundo de 2025, onde existem muitas forças, tanto políticas quanto econômicas, contrárias à proteção ambiental”. Portanto, a mobilização por meio da fé emerge como um contraponto poderoso a essas tendências.

A Trajetória das Vigílias pela Terra e a COP30

A iniciativa das vigílias inter-religiosas em prol do planeta não é recente. A primeira edição remonta a 1992, quando o Rio de Janeiro sediou a Rio 92, a segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Naquela ocasião, o evento mobilizou aproximadamente 30 mil pessoas e contou com a presença de figuras globais como o Dalai Lama, Dom Helder Câmara e Mãe Beata de Iemanjá, evidenciando desde cedo o potencial de união das fés em torno da causa ambiental.

Neste ano de COP30, o movimento se expandiu, abrangendo as cinco regiões do país. A série de vigílias teve início em abril, em Brasília, e prosseguiu em maio, em Porto Alegre. Após a etapa do Rio de Janeiro, o evento seguirá para Manaus e Natal em setembro, e para Recife em outubro. O ápice dessa jornada de conscientização ocorrerá em Belém, a cidade-sede da COP30, no dia 13 de novembro. A diretora-executiva do Iser explicou que essa descentralização é uma estratégia deliberada para amplificar a mensagem e coletar contribuições de diversas regiões. Dessa forma, busca-se “visibilizar o que as lideranças religiosas nessas capitais estão fazendo pela promoção do meio ambiente”, conforme ressaltou Evangelista. A recepção do público, segundo ela, tem sido calorosa e marcada por grande engajamento, atribuindo esse sucesso à forte conexão dos líderes religiosos locais com suas respectivas comunidades. Além disso, a organização da vigília é cuidadosamente planejada para garantir a pluralidade de grupos religiosos e, simultaneamente, acolher aqueles que não professam nenhuma fé específica.

Vozes da Fé em Defesa do Meio Ambiente

Maria Lalla Cy Aché, integrante do grupo Danças da Paz Universal, participou da vigília com uma apresentação de dança no palco. Para ela, essa atividade, que descreve como dança meditativa, é um meio eficaz de disseminar a conscientização. “É a nossa prática principal. A gente canta, dança e toca, tem uns músicos maravilhosos que tocam como uma forma de você espalhar energia positiva, pensamentos edificantes”, compartilhou. Em sua perspectiva, é imperativo “repensar o mundo, um mundo mais justo, mais amoroso, mais fraterno”.

Babalaô Ivanir dos Santos, conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), destacou a profunda conexão das religiões tradicionais de matriz africana com a questão ambiental. Para essas fés, elementos como a terra, a água e o fogo são intrinsecamente sagrados. Ele explicou que “quando eles estão em equilíbrio, tudo vai muito bem. Quando dá um desequilíbrio, obviamente todos nós vamos sofrer”. Consequentemente, as religiões que têm uma espiritualidade ligada a esses elementos são as primeiras a se preocupar com os impactos ambientais.

Santos argumentou que a exploração desenfreada dos recursos naturais ocorre no momento em que a natureza perde seu caráter sagrado. Ele defende a utilização dos recursos, mas com discernimento e sem ganância, alertando que “se não tem equilíbrio, nós vamos desaparecer também. Não é só a natureza”. Portanto, ele considera extremamente positivo que líderes religiosos tragam a pauta ambiental para espaços de mobilização, especialmente no Brasil, um país reconhecidamente espiritualista. De acordo com o Censo 2022 do IBGE, mais de 90% da população brasileira professa algum tipo de fé, sendo a maioria católica (56,7%), seguida por evangélicos (26,9%), espíritas (1,8%) e praticantes de umbanda e candomblé (1%). Este dado sublinha a relevância da voz religiosa na promoção da causa ambiental.

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