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Rio, Salvador e Recife registram 253 tiroteios no 1º semestre; alta de 36%

Tiroteios em Rio, Salvador e Recife crescem 36% no 1º semestre, somando 253 confrontos e 108 mortos, aponta o Instituto Fogo Cruzado.
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Foto: 04 14:23:56

As regiões metropolitanas de Salvador, Recife e Rio de Janeiro registraram um aumento notável de 36% nos confrontos armados durante o primeiro semestre deste ano. O Instituto Fogo Cruzado, responsável pelo levantamento e divulgação dos dados nesta segunda-feira (21), aponta para um total de 253 tiroteios envolvendo disputas entre grupos armados, um acréscimo significativo em comparação com os 186 incidentes verificados no mesmo período de 2023. Consequentemente, a escalada da violência resultou em 108 mortes e deixou 64 pessoas feridas, superando os 80 mortos e 60 feridos contabilizados no ano anterior.

Panorama Nacional da Violência

O relatório semestral do Instituto Fogo Cruzado abrange o monitoramento em 49 municípios espalhados pelas três regiões metropolitanas mencionadas. Além dos confrontos diretos, os dados revelam uma face ainda mais cruel da violência: vinte indivíduos tornaram-se vítimas de balas perdidas nessas áreas. Preocupantemente, o impacto sobre a população mais vulnerável é evidente, uma vez que 21 crianças e adolescentes foram atingidos por disparos, e, tragicamente, 11 deles perderam a vida. Este índice representa um alarmante aumento de 91% na vitimização de menores em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Os tiroteios decorrentes de disputas entre facções armadas, conforme sublinha o Fogo Cruzado, geram profundas repercussões na dinâmica urbana, afetando diretamente o deslocamento de pessoas e a rotina da população. Ademais, Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado, enfatiza a gravidade da situação. Segundo a diretora, essa é uma questão crônica que, infelizmente, expõe crianças diariamente à linha de fogo em território nacional. Ela ressalta que o crescimento dos tiroteios significa que mais famílias foram impactadas e que jovens precisaram enfrentar traumas decorrentes dessa violência. Diante disso, Couto defende a necessidade urgente de respostas e propostas eficazes tanto em nível estadual quanto federal para lidar com a magnitude desse problema.

O Cenário no Rio de Janeiro

No contexto fluminense, os registros do Fogo Cruzado indicam uma intensa atividade de confrontos desde o ano de 2023 em quatro localidades específicas: o Morro dos Macacos, o Complexo do Fubá, Catiri e o Complexo do Juramento. Coletivamente, estas áreas – com 8 incidentes em Catiri, 57 no Morro dos Macacos, 54 no Complexo do Fubá e 54 no Complexo do Juramento – concentraram mais da metade, precisamente 57% dos tiroteios motivados por disputas entre grupos armados. Em virtude dessa concentração, 36% das vítimas atingidas neste primeiro semestre estavam localizadas nesses quatro focos de violência. Paralelamente, o bairro de Vila Isabel, situado na zona norte carioca, continua entre as áreas mais afetadas pela violência armada, somando 66 tiroteios. Notavelmente, em 2023, Vila Isabel foi o bairro da região metropolitana do Rio com o maior número de ocorrências, totalizando 88 registros.

Ainda no que tange ao Rio de Janeiro, o relatório mapeou um total de tiroteios de janeiro a junho deste ano, revelando que a participação policial ocorreu em 504 desses incidentes, o que corresponde a 41% do total de registros. Em comparação com o mesmo período de 2023, dos 1.346 tiroteios mapeados, 459 (34%) envolveram a presença de forças de segurança.

A Realidade em Recife

A região metropolitana de Recife também enfrentou um aumento expressivo no número de tiroteios e de pessoas baleadas em decorrência de confrontos entre grupos armados. De acordo com o Fogo Cruzado, foram mapeados 18 tiroteios motivados por disputas nesta região em 2024, contrastando bruscamente com o único registro do ano anterior. Especificamente, dos 18 tiroteios ocorridos durante disputas neste primeiro semestre, seis aconteceram na capital pernambucana, Recife. Além disso, outros municípios como Olinda (com quatro), Paulista (quatro), Cabo de Santo Agostinho (dois), Goiana (um) e Moreno (um) também registraram ocorrências. Lamentavelmente, duas crianças foram vítimas fatais desses confrontos: Helen Santos, de apenas 4 anos, morta por uma bala perdida no Córrego do Deodato, bairro de Água Fria, no Recife, em 12 de abril; e Emilly, de 7 anos, ferida mortalmente por um projétil perdido em Peixinhos, Olinda, no dia 28 de março.

Das 39 vítimas de balas perdidas computadas no semestre na região metropolitana do Recife, um total de 31 foram atingidas como consequência de homicídios ou tentativas de homicídio. Olinda, em particular, concentrou a maior parte dessas vítimas, com 17 pessoas atingidas. Por sua vez, Cabo de Santo Agostinho (oito), Recife (oito), Paulista (dois), Abreu e Lima (um), Goiana (um), Jaboatão dos Guararapes (um) e São Lourenço da Mata (um) também reportaram vítimas de balas perdidas no decorrer do semestre.

Dados da Região de Salvador

Na capital baiana e sua área metropolitana, o primeiro semestre registrou 81 tiroteios em meio a disputas entre grupos armados. Esses confrontos resultaram na morte de 45 pessoas e deixaram outras 28 feridas. Comparativamente, no mesmo período de 2023, também foram contabilizados 81 tiroteios durante disputas; entretanto, os impactos foram menos severos, com 35 óbitos e 23 feridos. Isso demonstra uma letalidade maior nos incidentes de 2024, mesmo com o mesmo número de tiroteios.

Resposta das Autoridades

Em nota oficial, o governo do Estado do Rio de Janeiro optou por não comentar os dados apresentados pelo Instituto Fogo Cruzado. O governo, por outro lado, fez questão de destacar informações do Instituto de Segurança Pública (ISP), seu órgão oficial de análise de dados e indicadores de criminalidade. De acordo com o ISP, a letalidade violenta no estado alcançou em maio e junho os menores números de sua série histórica, iniciada em 1991. Esses resultados, conforme a nota governamental, são atribuídos a um investimento superior a R$ 4,5 bilhões em tecnologia e inteligência, o que teria garantido melhores condições para investigações, treinamentos, equipamentos e, finalmente, maior proteção para agentes de segurança e para a população. Até o momento da publicação do relatório, os governos de Recife e Salvador não haviam fornecido um posicionamento sobre os dados do Fogo Cruzado.