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Rio discute turismo sustentável: alinhar crescimento e bem-estar

Rio de Janeiro sedia o 3º Seminário de Turismo Sustentável (Situs) de 23 a 25 de abril, discutindo como alinhar crescimento econômico e social com a conservação ambiental.
Alinhamento turismo sustentável
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Rio de Janeiro se tornou o palco de uma discussão crucial sobre o futuro do turismo, sediando o terceiro Seminário de Turismo Sustentável (Situs) entre os dias 23 e 25 de abril. O evento, realizado na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, reuniu especialistas para explorar como a indústria do turismo pode prosperar economicamente e socialmente, sem comprometer a conservação ambiental e a rica valorização do patrimônio local.

O Diálogo sobre o Turismo Responsável no Rio

Neste encontro de destaque, o principal objetivo residiu em forjar um alinhamento estratégico entre o desenvolvimento do setor turístico e o bem-estar da população, bem como a integridade dos ecossistemas. O seminário propôs um debate aprofundado sobre práticas que permitam às cidades colher os frutos do turismo de forma positiva, promovendo, por conseguinte, um impacto benéfico e duradouro em todas as esferas da vida urbana.

Adicionalmente, o evento ganhou uma perspectiva internacional valiosa com a participação de Paula Mèlich Bonet, delegada do governo da Catalunha no Brasil. Sua apresentação ofereceu uma visão detalhada dos desafios e soluções implementadas em Barcelona, uma metrópole que enfrenta o dilema do turismo em massa.

Barcelona: Um Espelho para os Desafios do Turismo Urbano

Bonet, em sua explanação, reconheceu que, embora o turismo seja um motor estratégico para a economia e a geração de empregos, ele não está imune a impactos negativos. Em grandes centros urbanos, como Barcelona, a chegada maciça de visitantes pode gerar tensões sociais, territoriais e ambientais consideráveis. Os moradores, por sua vez, frequentemente manifestam preocupações legítimas acerca do aumento do custo de vida, da pressão sobre a oferta de moradias e da própria convivência diária na cidade.

Diante desses desafios, o governo catalão tem agido proativamente. Conforme destacou Paula Mèlich Bonet, diversas políticas públicas foram elaboradas para mitigar esses efeitos. A experiência de Barcelona, portanto, serve como um estudo de caso relevante para outras cidades que buscam equilibrar o florescimento turístico com a qualidade de vida de seus cidadãos.

Estratégias Catalãs para um Modelo Equilibrado

Nos últimos anos, a Catalunha implementou uma abordagem multifacetada, atuando em quatro frentes cruciais para redefinir seu modelo turístico. Primeiramente, houve uma rigorosa regulamentação dos aluguéis turísticos. Novas diretrizes foram aprovadas para restringir a concessão de licenças para apartamentos de temporada, especialmente em áreas já saturadas, incentivando a reconversão desses imóveis para uso residencial permanente.

Em segundo lugar, foi lançada uma nova estratégia de turismo responsável. Em 2023, o “Compromisso Nacional por um Turismo Responsável” estabeleceu um modelo que prioriza o bem-estar dos residentes, a equidade territorial e a corresponsabilidade. A mensagem central da Catalunha para o turismo é clara e incisiva: “mais valor, menos volume”, buscando qualificar a experiência em detrimento da quantidade.

Além disso, o governo catalão tem trabalhado na descentralização da oferta turística. Investimentos significativos foram direcionados para a diversificação de destinos, promovendo o turismo rural, cultural e natural em todas as regiões, e não apenas na capital. Esta medida visa redistribuir os fluxos de visitantes e, consequentemente, os benefícios econômicos por todo o território.

Por fim, a participação cidadã e o uso de dados qualificados tornaram-se pilares da política turística. Através do Observatório do Turismo na Catalunha, a escuta ativa da população local e a análise de informações precisas agora moldam as decisões. A opinião dos moradores é, de fato, um indicador essencial para avaliar a eficácia das políticas públicas.

Repensando o Papel do Turismo nas Cidades

A representante catalã enfatizou a importância de encarar os impactos do turismo não como uma negação de sua relevância, mas sim como uma oportunidade para redefinir seus propósitos e limites em diálogo com a comunidade. Paula Mèlich Bonet defende que, embora Barcelona seja um símbolo global do turismo urbano, ela tem o potencial de ser uma referência na transição para um modelo mais consciente, habitável e regenerativo. Assim, turismo e qualidade de vida podem, de fato, caminhar juntos, criando um ambiente onde o desenvolvimento é sustentável e mutuamente benéfico.

A Essência do Turismo Sustentável

A conceituação de turismo sustentável foi abordada por Ricardo Carvalho, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável na América Latina e Caribe (Intus). Conforme sua explanação, o turismo se torna sustentável quando as atividades são realizadas de maneira que preservam o patrimônio cultural de uma região, ao mesmo tempo em que promovem a prosperidade local. Ele argumenta que ações voltadas à melhoria do meio ambiente e à preservação da cultura de uma cidade são intrínsecas à otimização dos resultados do setor turístico.

Carvalho reafirma que “preservar a cultura de uma cidade gera prosperidade”. Essa perspectiva sublinha que o sucesso do turismo não se mede apenas pelo número de visitantes ou pela receita gerada, mas também pela capacidade de enriquecer o tecido social e cultural, garantindo que as futuras gerações possam desfrutar do mesmo legado.

Em conclusão, o 3º Seminário de Turismo Sustentável no Rio de Janeiro evidenciou a urgência de adotar abordagens mais equilibradas e responsáveis na gestão turística. As discussões e os exemplos internacionais, como o de Barcelona, reforçam a ideia de que o crescimento do setor deve ser intrinsecamente ligado à preservação ambiental, ao respeito cultural e, sobretudo, ao bem-estar das comunidades locais. Este diálogo contínuo é fundamental para construir um futuro onde o turismo seja, de fato, uma força para o bem comum.