Avanço no monitoramento revela progresso moderado
Em 2024, a área desmatada da Mata Atlântica caiu 14% em comparação com o ano anterior. O dado, embora positivo, ainda não representa uma reversão expressiva da tendência histórica. É o que mostram os levantamentos do Atlas da Mata Atlântica e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), divulgados nesta segunda-feira (12) pela Fundação SOS Mata Atlântica.
Apesar da redução, a perda de matas maduras — que concentram a maior biodiversidade e capacidade de armazenamento de carbono — caiu apenas 2%. Portanto, a preservação dessas áreas continua como uma prioridade urgente para a conservação do bioma.
Matas maduras ainda correm risco
O bioma da Mata Atlântica abriga cerca de 70% da população brasileira e responde por mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. No entanto, a degradação contínua das matas maduras ameaça os serviços ecossistêmicos que sustentam a qualidade de vida, a segurança hídrica e a economia do país.
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor da SOS Mata Atlântica, afirma que a destruição dessas florestas compromete diretamente o equilíbrio ambiental. “Essas matas são insubstituíveis e essenciais para enfrentar as crises climáticas e da biodiversidade”, pontuou.
Expansão agropecuária segue como principal vetor
Segundo o SAD, a expansão da agropecuária, principalmente em áreas privadas, continua sendo o principal motor do desmatamento. Em 2024, mais de 70% das áreas desmatadas estavam em terras privadas ou sem registro fundiário. Isso evidencia a necessidade de maior fiscalização e regularização fundiária.
Enquanto isso, os desmatamentos maiores que 50 hectares se mantiveram estáveis, elevando a média de área desmatada por evento. A Bahia e o Piauí lideraram o ranking dos estados com maior desmatamento, com mais de 49 mil hectares somados.
Desastres naturais ampliam perdas florestais
No Rio Grande do Sul, as fortes chuvas de maio provocaram deslizamentos que destruíram mais de 3.300 hectares de floresta, um aumento expressivo em relação a 2023. Eventos como esse evidenciam que mudanças climáticas também contribuem para o desmatamento, inclusive em áreas protegidas.
Guedes Pinto alertou que chuvas intensas, associadas à alta declividade do terreno, causam deslizamentos que carregam o solo e as florestas. Esses impactos já afetam regiões como a Serra do Mar (SP), serras do RJ e áreas montanhosas do RS.
Caminho para proteção exige ação conjunta
A Fundação SOS Mata Atlântica reforça que combater o desmatamento exige a aplicação rigorosa da Lei da Mata Atlântica. A legislação só permite supressão de vegetação em casos de utilidade pública ou interesse social. No entanto, segundo a entidade, falta atuação firme do Estado e responsabilidade do setor privado.
Além disso, os especialistas destacam que desmatamentos ilegais continuam recebendo financiamento, o que compromete os avanços obtidos até agora. Portanto, impedir o fluxo de recursos para atividades ilegais é uma medida urgente.
Há progresso, mas o desafio continua
A queda no desmatamento em 2024 é uma notícia positiva, mas insuficiente diante da meta de desmatamento zero. O bioma ainda sofre com pressões agropecuárias, desastres climáticos e fragilidade na fiscalização.
Para garantir o futuro da Mata Atlântica, será preciso ampliar o foco da proteção, integrar ações de adaptação climática e fortalecer o cumprimento da lei. O momento exige união entre governos, sociedade civil e iniciativa privada.