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Real forte e alimentos baratos: Ipea reduz inflação 2025 para 4,8%

O Ipea reduziu a projeção de inflação para 2025 de 5,2% para 4,8%, impulsionado pela valorização do real e a queda nos preços dos alimentos.
Ipea reduz inflação 2025
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo sua projeção de inflação para 2025, passando de 5,2% para 4,8%. Essa alteração reflete, principalmente, a valorização do real frente ao dólar e as quedas consecutivas nos preços dos alimentos. Em outras palavras, a economia brasileira demonstra sinais de moderação inflacionária, impulsionada por elementos macroeconômicos e de oferta.

Contexto e Projeções Oficiais

A projeção do Ipea refere-se à inflação oficial do Brasil, mensurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em agosto de 2025, o IPCA registrou uma deflação de 0,11%, marcando o menor resultado desde 2022. Todavia, a inflação acumulada em 12 meses até o referido mês ainda se situou em 5,13%.

É importante destacar que a meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC) para o ano é de 3% anualmente. Além disso, o BC opera com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para mais ou para menos, o que significa que o teto aceitável para a inflação é de 4,5%.

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Fatores por Trás da Moderação Inflacionária

Segundo a análise das pesquisadoras do Ipea, Maria Andréia Parente Lameiras e Tarsylla da Silva de Godoy Oliveira, em sua Carta de Conjuntura, o cenário inflacionário no Brasil apresenta uma tendência de maior moderação, embora os desafios persistam. O principal catalisador dessa revisão foi a performance dos preços dos alimentos.

Ainda em agosto de 2025, o IBGE confirmou que os preços dos alimentos recuaram pelo terceiro mês consecutivo. Diante desse panorama, o Ipea ajustou sua expectativa de inflação para este grupo específico, passando de uma projeção de 6,7% para 4,4% até o final do ano. Uma das razões para esse recuo reside na expansão da oferta, impulsionada pela previsão de uma safra recorde.

Além disso, as pesquisadoras enfatizam que a valorização cambial, ou seja, a desvalorização do dólar em relação ao real, foi um fator crucial. Essa apreciação do câmbio contribuiu significativamente para reduzir as pressões de preços sobre alimentos, bens industriais e combustíveis. No último trimestre, por exemplo, o real se valorizou aproximadamente 5%, atenuando os custos de importação e, consequentemente, a inflação em diversos segmentos.

Entretanto, nem todos os setores tiveram suas projeções inflacionárias reduzidas. O Ipea manteve a expectativa de inflação para os preços dos serviços em 6,2%, principalmente devido ao mercado de trabalho aquecido. As autoras da pesquisa explicam que, mesmo com uma leve desaceleração marginal da atividade econômica, o mercado de trabalho brasileiro permanece bastante robusto. Por conseguinte, o IBGE divulgou em 30 de setembro que a taxa de desocupação no trimestre encerrado em agosto de 2025 atingiu 5,6%, representando o patamar mais baixo desde o início da série histórica em 2012.

Convergência de Expectativas

O Ipea, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento e responsável por análises que subsidiam políticas públicas, alinha sua revisão do IPCA com a avaliação de outras instituições. O Banco Central, por sua vez, já havia anunciado em 25 de setembro de 2025 uma revisão em sua própria projeção de inflação para 2025, diminuindo-a de 4,9% para 4,8%, conforme detalhado em seu Relatório de Inflação.

Consequentemente, tanto as projeções do Ipea quanto as do Banco Central convergem para as expectativas do mercado financeiro. Segundo o Boletim Focus, uma pesquisa do BC com instituições financeiras divulgada em 29 de setembro de 2025, o mercado prevê uma inflação de 4,81%, reforçando o consenso sobre a tendência de moderação.

O Impacto da Política Monetária e Juros Elevados

Apesar dos avanços, as pesquisadoras do Ipea ressaltam que o processo de desinflação no Brasil ocorre de maneira gradual e com um custo considerável em termos de política monetária. A política monetária consiste na utilização da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central para controlar a inflação.

Desde junho de 2025, a taxa Selic tem sido mantida em 15% ao ano, o nível mais elevado desde julho de 2006 (quando atingiu 15,25%). Este patamar de juros é uma ferramenta contracionista, projetada para combater a inflação. A elevação da Selic encarece os empréstimos tanto para pessoas físicas quanto para empresas, desestimulando novos investimentos e incentivando a manutenção de capital em aplicações financeiras de alto rendimento. Em suma, essa estratégia freia a atividade econômica para conter a escalada dos preços.

A Inflação para Rendas Mais Baixas: O INPC

O Ipea também ajustou para baixo a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que passou de 4,9% para 4,5%. Igualmente apurado pelo IBGE, o INPC mede o custo de vida para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos. Diferentemente do IPCA, o INPC atribui um peso maior a despesas essenciais, como alimentação, que impactam mais diretamente as camadas de menor poder aquisitivo.

Este índice possui uma importância socioeconômica particular, visto que é utilizado na correção salarial de diversas categorias profissionais e na fórmula de reajuste anual do salário mínimo. Em agosto de 2025, o INPC acumulava uma variação de 5,05% em 12 meses, demonstrando a relevância de sua trajetória para a renda dos trabalhadores.