Líderes progressistas, acadêmicos e comunicadores se reuniram em São Paulo para o encontro “Despertar 2025”, com o objetivo primordial de reavaliar estratégias de comunicação e fortalecer os laços com a sociedade brasileira. O evento, que acontece na sequência da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados pelos eventos golpistas de 8 de janeiro de 2023, busca traçar novos caminhos para o diálogo com a população.
“Despertar 2025”: Reflexão sobre Comunicação e Sociedade
A capital paulista foi palco, nesta semana, de um importante fórum que congrega diversas figuras do campo progressista para discutir os rumos do país. O “Despertar 2025” teve início na sexta-feira (19) e foi concluído neste sábado (20). A agenda de palestras do primeiro dia incluiu nomes de peso como o do sociólogo, pesquisador e professor Jessé Souza, da médica cubana Aleida Guevara e do renomado jornalista Serginho Groisman. Já o segundo dia contou com a participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do cientista Miguel Nicolelis, da ministra da Cultura, Margareth Meneses, entre outros influentes oradores.
Uma das principais diretrizes debatidas pelos participantes foi a necessidade urgente de o campo progressista intensificar a discussão e envolver ativamente a população nas pautas que impactam diretamente trabalhadores e as camadas mais vulneráveis da sociedade, que representam a vasta maioria. Além disso, a discussão também se aprofundou na notável influência que a direita e a extrema direita exercem sobre a sociedade, atingindo inclusive segmentos populacionais que historicamente foram negligenciados por políticos de outras correntes ideológicas.
A Análise de Jessé Souza sobre a Comunicação e Desorientação
Jessé de Souza, por exemplo, enfatizou a importância de reexaminar a função da comunicação e do espaço público. Ele argumentou que muitas pessoas, embora alinhadas à direita, não são intrinsecamente de direita, mas sim estão nessa posição devido à desorientação. Conforme ele destacou em entrevista à Agência Brasil, a imprensa brasileira, em sua avaliação, é uma das piores globalmente, caracterizando-a como “venal” e “vendida ao dinheiro”.
Ainda segundo Souza, a esquerda frequentemente não reconhece que seu principal dever político reside no esclarecimento das pessoas. Ele observou que a raiva e a frustração da população, impulsionadas pela deterioração das condições de emprego e pela percepção de um futuro incerto, são sentimentos legítimos. Portanto, ele reiterou a relevância de abordar essas questões diretamente.
O Chamado de Eduardo Moreira por uma Comunicação de Ouvir
O Instituto Conhecimento Liberta (ICL) é o promotor deste evento. Eduardo Moreira, fundador do ICL, corroborou a necessidade de uma profunda reflexão sobre a maneira como as organizações progressistas se comunicam com o público. Ele criticou a abordagem predominante, que, segundo ele, se concentra em “falar para” a população, sem antes “ouvir” suas demandas e perspectivas. Em suas palavras à Agência Brasil, Moreira salientou que, para desenvolver uma comunicação de massa eficaz, é fundamental criar plataformas onde a sociedade possa expressar-se e ser ouvida. Ele concluiu que, embora o momento ideal para essa mudança fosse no passado, o presente representa a melhor oportunidade para iniciar essa transformação.
A Precarização do Trabalho em Foco
Entre os palestrantes, destacou-se a presença do juiz Luiz Philippe Mello Filho, que foi eleito para a presidência do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em uma entrevista concedida à Agência Brasil, o magistrado sublinhou a imperiosa necessidade de restabelecer um equilíbrio mais justo entre capital e trabalho. Adicionalmente, ele mencionou o cenário dos trabalhadores de aplicativos, apontando-os como um exemplo crítico de retrocesso social. Mello Filho defendeu a urgência de manter uma regulamentação que ofereça proteção a todos os trabalhadores de plataforma.
Para o juiz, o panorama atual, marcado pelo crescente número de pessoas que utilizam aplicativos de celular como sua principal fonte de renda, configura uma “precarização sem precedentes do trabalho humano no Brasil”. Portanto, essa situação exige uma resposta regulatória robusta para salvaguardar os direitos e a dignidade desses profissionais.
Inteligência Artificial: Limites e Consequências Cognitivas
Na sua palestra deste sábado, o renomado cientista Miguel Nicolelis abordou o tema da inteligência artificial, refutando a ideia de que as máquinas um dia serão capazes de replicar plenamente o funcionamento complexo do cérebro humano. No entanto, Nicolelis alertou para um perigo distinto: a delegação excessiva de tarefas cognitivas à inteligência artificial pode levar à inatividade do cérebro humano.
Ele explicou que, à medida que mais funções são transferidas para as máquinas, os seres humanos tendem a perder atributos cognitivos. Consequentemente, o cérebro percebe que não necessita mais empregar energia em certas atividades. Para ilustrar seu ponto, Nicolelis questionou: “Quem hoje sabe de cor dois ou três telefones?”, evidenciando a dependência crescente da tecnologia para funções básicas de memória.
Perspectivas Internacionais e Otimismo Diante da Adversidade
O cenário geopolítico global também recebeu atenção no evento. Foram evocadas as intervenções dos Estados Unidos e de outras potências em nações menores, bem como a grave crise humanitária e o massacre em Gaza. A pediatra Aleida Guevara, uma das vozes presentes, expressou a urgência de proteger crianças, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade, como as palestinas. Mesmo diante de tantos desafios globais, Guevara mantém um notável otimismo em relação ao futuro.
Em sua fala, ela declarou uma fé inabalável no ser humano, descrevendo sua capacidade de amar como “tremenda” e o amor como a maior força do mundo. Guevara afirmou que sua visão positiva é essencial para sua própria existência. Como pediatra, ela encontra nas crianças a esperança de um futuro mais promissor. Ela recordou as palavras de José Martí, que disse que as crianças são a esperança do mundo e aqueles que verdadeiramente sabem amar. Por isso, seu apelo constante é para que se cuide da infância, trabalhando para que essas crianças cresçam e se tornem jovens fortes, saudáveis e, posteriormente, adultos livres.