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Poupança tem 3º mês seguido de saques e perde R$ 15 bilhões em setembro

A poupança perdeu R$ 15 bilhões em setembro, no terceiro mês consecutivo de saques, conforme relatório do Banco Central divulgado nesta quarta-feira.
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Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

A caderneta de poupança registrou um saldo negativo expressivo em setembro, com saques superando os depósitos em R$ 15 bilhões. Este é o terceiro mês consecutivo em que a modalidade de investimento popular no Brasil enfrenta retiradas líquidas, conforme apontou o relatório mais recente divulgado pelo Banco Central na última quarta-feira. A situação reflete uma tendência de desinvestimento que tem marcado o ano corrente, indicando uma busca crescente dos investidores por alternativas mais rentáveis no mercado financeiro nacional.

Detalhes das Movimentações em Setembro

As estatísticas do Banco Central revelaram que, no mês de setembro, os depósitos totais na poupança alcançaram a marca de R$ 356,6 bilhões. Por outro lado, as retiradas foram significativamente maiores, somando R$ 371,6 bilhões. Consequentemente, a diferença resultou no resgate líquido de R$ 15 bilhões, um valor substancial. Apesar da sangria de recursos, os rendimentos creditados nas contas dos poupadores durante o período chegaram a R$ 6,4 bilhões, atenuando parcialmente o impacto. Atualmente, o montante total aplicado na poupança ainda se mantém acima de R$ 1 trilhão, um patamar robusto, mas que vem sofrendo desgastes constantes em sua base.

Tendência Histórica e Acumulado Anual

Este resultado negativo em setembro consolida uma sequência preocupante de três meses com mais saques do que entradas, o que destaca uma fuga de capital da poupança. No entanto, o cenário de resgates não é novidade em 2025; os primeiros quatro meses do ano também apresentaram retiradas líquidas significativas. Somente em maio e junho houve um breve alento, com depósitos superando os saques. Em conclusão, quando se observa o acumulado de 2025 até o momento, a caderneta já registra um resgate líquido alarmante de R$ 78,5 bilhões. Além disso, a modalidade tem enfrentado desafios semelhantes em anos recentes, com 2023 encerrando com retiradas líquidas de R$ 87,8 bilhões e 2024 registrando R$ 15,5 bilhões em saques superiores aos depósitos, sinalizando uma persistência na busca por alternativas de investimento por parte dos brasileiros.

A Influência da Taxa Selic nos Investimentos

Uma das principais justificativas para a contínua retirada de recursos da poupança reside na manutenção da Taxa Selic em patamares elevados. A taxa básica de juros do país, administrada pelo Banco Central, exerce uma forte influência sobre o mercado financeiro como um todo. Quando a Selic está alta, investimentos que seguem essa taxa, como títulos públicos indexados ao CDI ou outros fundos de renda fixa, tornam-se consideravelmente mais atrativos do que a poupança, que oferece rendimentos mais conservadores. Em suma, essa disparidade estimula os investidores a buscarem aplicações com maior rentabilidade e menor risco aparente, esvaziando a caderneta em favor de opções mais lucrativas no curto e médio prazo.

Estratégia do Banco Central e Controle da Inflação

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a Selic, desempenha um papel crucial nesse contexto econômico. Em julho, por exemplo, o comitê optou por interromper um ciclo de sete aumentos consecutivos da taxa, mantendo-a em 15% ao ano desde então. O principal objetivo dessa postura é assegurar que a meta de inflação estabelecida para o país, de 3%, seja atingida e mantida em um horizonte relevante. Desse modo, ao elevar a taxa básica de juros, a autoridade monetária busca conter uma demanda de consumo excessivamente aquecida, o que, por sua vez, impacta diretamente os preços na economia. Juros mais altos encarecem o crédito para empresas e consumidores, o que desestimula gastos e, simultaneamente, incentiva a poupança em outras modalidades financeiras que oferecem retornos mais competitivos do que a caderneta tradicional.

Nesse cenário macroeconômico, é relevante notar que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador oficial da inflação brasileira, acumulou uma alta de 5,13% nos 12 meses encerrados em agosto. Consequentemente, a atuação do Banco Central para controlar esse avanço inflacionário através da política monetária se torna ainda mais evidente, justificando a persistência em manter a taxa Selic em um patamar que vise a estabilidade dos preços, mesmo que isso acarrete em um desaquecimento da poupança.