Polícia Federal desarticula grupo com PMs e civis que atuava como milícia privada no DF
A Polícia Federal revelou a existência de uma milícia privada atuando no Distrito Federal. O grupo era formado por civis e policiais militares da ativa que se uniam para cobrar dívidas usando ameaças, coação armada e acesso a dados sigilosos. A investigação indicou que os envolvidos se apresentavam como prestadores de “serviços de segurança”, mas, na prática, operavam como cobradores violentos.
A operação, realizada em 14 de março de 2025, foi um desdobramento da já conhecida Operação Fênix. Ela teve como objetivo desmantelar a rede criminosa, que se valia da estrutura institucional da PMDF para agir de forma impune. Além disso, os integrantes acessavam ilegalmente bancos de dados da segurança pública para rastrear e intimidar vítimas.
Esquema envolvia uso de estrutura pública e acesso ilegal a sistemas
Segundo os documentos obtidos, o grupo era liderado por Caio César Pereira. Ele coordenava as ações ao lado do tio, José Baduíno da Costa, e de Brendon Pinheiro Tavares. Juntos, buscavam clientes interessados em recuperar dívidas fora dos meios legais, geralmente agiotas ou empresários.
Além disso, dois policiais militares participavam ativamente das ações: Gustavo Roma Agostini, segundo-sargento, e Diego de Souza Pereira Maia, terceiro-sargento. Ambos utilizavam seus cargos para acessar sistemas internos da Polícia Militar do Distrito Federal. Dessa forma, levantavam endereços e informações detalhadas das vítimas, facilitando o trabalho de campo.
Casos revelam padrão de abordagem com coação e documentos forçados
Em maio de 2024, o grupo viajou até outro estado com o objetivo de executar uma cobrança milionária. A vítima foi abordada com presença armada dos policiais e, então, coagida a assinar uma nota promissória no valor de R$ 1,5 milhão.
Em outro episódio, ocorrido em julho, Brendon Tavares coordenou nova cobrança. Dessa vez, o argumento foi um suposto serviço prestado, mas novamente houve pressão e uso da estrutura policial para intimidar.
As mensagens de celular apreendidas mostram que os alvos assinavam confissões de dívida sob forte coação. Em muitos casos, as vítimas nem sabiam da existência da suposta dívida, mas cediam por medo das ameaças.
PMs usavam cargos públicos para intimidar e acessar dados
Gustavo Roma e Diego Maia acessavam os sistemas da PMDF para obter informações sobre os alvos. Em seguida, organizavam abordagens presenciais e mantinham vigilância sobre os devedores. Em um dos casos, viajaram pessoalmente para intimidar uma vítima e garantir o pagamento.
No Portal da Transparência do DF, consta que Gustavo Roma recebe salário bruto de R$ 17,6 mil, enquanto Diego Maia ganha R$ 15 mil. Ambos ainda estavam na ativa quando a investigação foi iniciada.
Como resultado das apurações, a Justiça autorizou o compartilhamento das provas com a Polícia Civil, a Receita Federal, a Corregedoria da PMDF e a Controladoria-Geral da União. Os crimes investigados incluem extorsão com grave ameaça, organização paramilitar, violação de sigilo funcional e abuso de autoridade.
PMDF promete investigação interna, mas evita comentários
Em nota oficial, a Polícia Militar do DF afirmou que não comenta casos em curso de investigação. No entanto, declarou que não tolera desvios de conduta e que investigará os fatos com o máximo rigor.
A defesa dos envolvidos foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações futuras.