O Brasil, único país da América Latina a possuir um roteiro estratégico para mitigar fatalidades e traumas no trânsito, detém o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). Este programa robusto, contudo, enfrenta um desafio significativo: a efetivação de suas diretrizes no cotidiano das estradas e cidades brasileiras, apesar de seu potencial estimado de salvar mais de 86 mil vidas ao longo da década. A ambição do plano é vasta, mas a sua aplicação prática depende da colaboração e do engajamento de diversos níveis de governo e da sociedade.
O Pnatrans: Um Esforço Nacional para a Segurança Viária
Instituído legalmente em 2018 pela Lei 13.614, o Pnatrans serve como um guia essencial para os administradores de trânsito em todo o território nacional. Ele foi concebido para alinhar as ações brasileiras à iniciativa global da Organização das Nações Unidas (ONU), conhecida como a Nova Década de Segurança no Trânsito, que se estende de 2021 a 2030. Em um movimento de aprimoramento contínuo, o plano passou por uma revisão minuciosa em 2023, sendo ajustado para se tornar ainda mais acessível e aplicável à realidade brasileira, demonstrando uma evolução constante na busca por soluções.
Desafios e o Potencial de Salvar Vidas
Para Maria Alice, diretora do Departamento de Segurança no Trânsito da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o ponto crucial agora reside na implementação das setenta ações que compõem o documento. Estas ações possuem o extraordinário potencial de poupar a vida de 86 mil pessoas durante o período de vigência estabelecido para o plano. Ao participar do 16º Congresso Brasileiro de Medicina do Tráfego, realizado em Salvador, Maria Alice enfatizou que o Pnatrans transcende governos, configurando-se como uma política de Estado. Ainda assim, lamentavelmente, o conhecimento sobre ele é limitado entre a população e até mesmo entre muitos gestores. “O Pnatrans é sistêmico. Todos temos que conhecer esse programa”, afirmou ela, ressaltando a importância da conscientização.
Responsabilidade Compartilhada: Um Pilar Fundamental
Adicionalmente, um dos eixos centrais do documento é a responsabilidade compartilhada pela segurança no trânsito. Durante o evento em Salvador, a diretora defendeu veementemente que a gestão da segurança viária seja intrinsecamente integrada, proativa e uma incumbência coletiva. Isso significa que a União, os estados e os municípios devem atuar em conjunto. “Dentro dessa proposta, levamos essa mensagem, como articuladora, para que possamos nos unir, unir esforços”, explicou Maria Alice, sublinhando a necessidade de uma frente unificada para alcançar os objetivos do plano. Portanto, a colaboração interfederativa é vista como um elemento insubstituível para o sucesso do Pnatrans.
A Estrutura e os Eixos do Pnatrans
O Pnatrans oferece uma bússola para o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras na elaboração de políticas públicas destinadas à segurança no trânsito. Este plano está plenamente integrado ao Sistema Nacional de Trânsito, garantindo que suas diretrizes estejam em consonância com as demais regulamentações e estruturas existentes. A versão mais recente do documento é fruto de um processo colaborativo extenso, pois contou com a contribuição de mais de cem especialistas, além de órgãos públicos e privados e entidades da sociedade civil que participaram ativamente de uma consulta pública. Em suma, o plano reflete um consenso amplo e técnico.
Os Seis Pilares da Segurança no Trânsito
Para facilitar a abordagem e a execução, o Pnatrans está estruturado em seis eixos temáticos. Cada um desses pilares aborda uma área específica crucial para a segurança viária. Primeiramente, a “gestão na segurança do trânsito” foca na administração e coordenação das ações. Em seguida, as “diretrizes para a construção de vias seguras” visam infraestruturas que previnam acidentes. O terceiro eixo, “equipamentos para maior segurança veicular”, concentra-se nas tecnologias e normas para veículos mais seguros. Posteriormente, a “educação para o trânsito” busca a conscientização e formação de condutores e pedestres. O penúltimo pilar trata do “atendimento às vítimas”, assegurando suporte adequado pós-acidente. Finalmente, o eixo de “normatização e fiscalização” estabelece as regras e a supervisão para o cumprimento delas. Assim, essa estrutura abrangente visa cobrir todos os aspectos da segurança no trânsito.
Conclusão: A Urgência da Implementação
Em conclusão, o Pnatrans representa uma ferramenta de valor inestimável para o Brasil na luta contra a alarmante estatística de mortes e lesões no trânsito. Apesar de sua concepção robusta e da adesão às metas internacionais, o grande divisor de águas será, de fato, a sua execução. Portanto, a promoção de um conhecimento mais difundido sobre o plano e o fortalecimento da colaboração entre todos os entes federativos são etapas indispensáveis para transformar o potencial de salvar 86 mil vidas em uma realidade tangível. O sucesso do Pnatrans não é apenas um objetivo governamental, mas uma aspiração coletiva por um trânsito mais seguro para todos os brasileiros.



