Pesquisa reforça impactos globais da poluição atmosférica
Pinguins da Península Antártica estão sendo contaminados por mercúrio, segundo revelou um estudo conduzido por cientistas da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada no periódico Science Direct, demonstra que o metal pesado chega à região por meio do transporte atmosférico, mesmo sem fontes locais diretas de emissão.
O objetivo era entender o alcance do mercúrio em ecossistemas remotos. Para isso, os pesquisadores analisaram penas de três espécies de pinguins: pinguim-de-adélia, pinguim-gentoo e pinguim-de-barbicha. Os dados revelaram diferenças significativas entre as espécies, e os resultados surpreenderam a comunidade científica.
O mercúrio representa ameaça à saúde das aves marinhas
O mercúrio é um poluente perigoso que se acumula em cadeias alimentares aquáticas. Por isso, animais que consomem peixes ou krill enfrentam maiores riscos de contaminação.
Essa exposição crônica pode prejudicar a reprodução, causar danos neurológicos, como letargia e fraqueza, e até levar à morte. E embora não existam emissões diretas na Antártica, o metal chega ao continente pelas correntes de ar globais.
“Na década de 1960, encontramos DDT em regiões remotas. Agora, vemos o mesmo com o mercúrio”, explicou John Reinfelder, coautor do estudo. “Portanto, é essencial compreender melhor como esse metal afeta os animais da região”, completou.
Migração e dieta explicam níveis de contaminação
Durante o inverno, os pinguins-de-barbicha migram para latitudes mais ao norte. Então, eles acabam se expondo a áreas com maior concentração de mercúrio. Por isso, esses pinguins apresentaram níveis mais elevados do metal em comparação aos outros dois grupos estudados.
Além disso, os cientistas analisaram isótopos estáveis de carbono-13 e nitrogênio-15 nas penas. Esses dados ajudam a identificar onde os animais se alimentam e qual sua posição na cadeia alimentar. A equipe também estudou a variação no tamanho do krill, base alimentar dos pinguins.
Local de alimentação é fator-chave para a contaminação
Uma das descobertas mais relevantes do estudo é que o local de alimentação dos pinguins influencia mais na exposição ao mercúrio do que sua posição na cadeia alimentar. Essa conclusão muda o entendimento anterior sobre a bioacumulação do poluente.
Além de destacar os riscos à fauna antártica, o estudo oferece pistas sobre o funcionamento da ecologia local. “Agora sabemos que a migração para o norte aumenta o risco de contaminação. Isso nos permite entender melhor o comportamento dessas aves”, afirmou Reinfelder.
O trabalho reforça, portanto, a importância de políticas globais que reduzam a emissão de mercúrio. E destaca que até as regiões mais isoladas sentem os efeitos da atividade humana.