Nesta quinta-feira, 2 de maio, o cenário político brasileiro foi marcado por um importante posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral, Paulo Gonet, encaminhou um parecer decisivo, manifestando-se contrariamente à concessão de mandatos parlamentares de forma remota. Esta deliberação, por sua vez, impacta diretamente casos de grande repercussão, como os que envolvem o ex-deputado Chiquinho Brazão e o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
A Posição da PGR e o Mandato Parlamentar
O parecer da PGR foi anexado a um mandado de segurança protocolado pela defesa de Chiquinho Brazão. Ele é réu no STF, acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco. Em abril deste ano, a Câmara dos Deputados já havia cassado o mandato de Brazão por excesso de faltas às sessões da Casa, em um processo que gerou intenso debate público. No entanto, sua defesa argumenta que as ausências ocorreram devido à prisão preventiva, e, portanto, não deveriam ser equiparadas a faltas injustificadas que resultam na cassação do mandato.
Em contrapartida, Paulo Gonet interpreta a Constituição Federal de maneira distinta. Para o procurador-geral, a Carta Magna estabelece claramente que a perda do mandato deve ser declarada para deputados e senadores que faltarem a um terço das sessões ordinárias. Ele ressalva que apenas situações de licença formal ou missão autorizada pelo Congresso Nacional configurariam exceções válidas para justificar tais ausências.
Dessa forma, Gonet enfatizou a necessidade da presença física para o exercício das atividades parlamentares. O procurador-geral afirmou que, segundo o texto constitucional, o desempenho do mandato parlamentar, como regra geral, exige a participação presencial do deputado ou senador nas sessões da respectiva Casa Legislativa. Essa leitura reforça o entendimento de que a modalidade remota não se alinha com as exigências constitucionais para a atuação de um parlamentar.
O Caso de Chiquinho Brazão e suas Defesas
A defesa do ex-deputado Chiquinho Brazão, confrontada com a cassação de seu mandato, fundamentou seu recurso na alegação de que a prisão preventiva não pode ser equiparada a uma ausência voluntária. Assim, eles argumentam que as faltas geradas por sua detenção seriam legítimas e não deveriam ser contabilizadas para fins de perda do mandato. No entanto, o parecer da PGR diretamente refuta essa interpretação, ao sublinhar a rigidez da Constituição quanto à necessidade da presença física dos parlamentares.
Consequentemente, a decisão da PGR adiciona um obstáculo significativo aos esforços de Brazão para reverter a cassação. Ela estabelece um precedente sobre a interpretação das ausências em contextos de restrição de liberdade, diferenciando-as das justificativas aceitas pela legislação. Portanto, a discussão sobre a natureza das faltas em plenário ganha um novo contorno jurídico e político, elevando a complexidade do caso.
As Implicações para Eduardo Bolsonaro
O posicionamento da PGR também repercute no caso do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Curiosamente, o parecer corrobora uma decisão anterior do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta havia negado um pedido do PL para que Eduardo Bolsonaro fosse nomeado líder da minoria na Casa. Esta indicação foi uma estratégia da oposição para isentar o deputado da obrigação de registrar presença em plenário, visto que líderes parlamentares são dispensados dessa exigência.
Eduardo Bolsonaro encontra-se nos Estados Unidos desde fevereiro. Ele é alvo de acusações de promover sanções comerciais do governo do ex-presidente Donald Trump contra exportações brasileiras, além de supostamente incentivar a aplicação da Lei Magnitsky e a suspensão de vistos de ministros da Corte e membros do governo federal. Adicionalmente, o parlamentar solicitou uma licença de 120 dias ao deixar o país, cujo prazo finalizou em 20 de julho. Por conseguinte, suas ausências após essa data se tornaram um ponto de questionamento.
Desdobramentos e Perspectivas Futuras
Em suma, o parecer do procurador-geral Paulo Gonet reforça a interpretação estrita da Constituição Federal no que tange ao exercício de mandatos parlamentares. Esta posição fortalece a exigência da presença física dos legisladores, criando um obstáculo jurídico para a defesa de Chiquinho Brazão e validando a decisão contra a nomeação de Eduardo Bolsonaro como líder. A deliberação da PGR, portanto, estabelece um marco importante para as discussões sobre a responsabilidade e o comparecimento de parlamentares, podendo influenciar futuras análises e decisões sobre temas correlatos.