Edição Brasília

PF indica Bolsonaro e Carlos por organização criminosa na Abin

PF indica Carlos Bolsonaro e cúpula da Abin por organização criminosa; Bolsonaro não é indiciado por já responder a processo no STF. Investigação aponta espionagem ilegal de opositores e uso da Abin para disseminar desinformação durante o governo Bolsonaro.
Bolsonaro Abin investigação criminosa
Foto: Renan Olaz/CMRJ

A Polícia Federal (PF) concluiu seu relatório sobre a investigação do caso “Abin Paralela”, indicando o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, Carlos Bolsonaro, por participação em organização criminosa. O documento, desvinculado do sigilo pelo ministro Alexandre de Moraes, aponta para uma trama de espionagem ilegal de opositores e disseminação de desinformação utilizando a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Indiciamentos e Implicações

Embora Carlos Bolsonaro tenha sido formalmente indiciado, Jair Bolsonaro não o foi. Isso se deve ao fato de ele já ser réu em processo no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionado ao uso da Abin para fins ilícitos, no contexto da investigação sobre a trama golpista. A investigação da PF, entretanto, detalha o uso ilegal da Abin para monitoramento de adversários políticos do ex-presidente e seu filho, configurando, segundo a PF, uma organização criminosa destinada a perseguir opositores.

De acordo com a PF, as provas demonstram a existência de um “núcleo de propagação de desinformação”, responsável pela produção e disseminação de informações falsas contra aqueles que se opunham ao grupo político formado pelo ex-presidente e seu filho. Essa prática, segundo o relatório, afetou figuras públicas como o ministro Alexandre de Moraes, os ex-deputados Jean Wyllys, Rodrigo Maia e Joyce Hasselmann, o ex-governador de São Paulo João Doria, e os jornalistas Leandro Demori e Mônica Bergamo, que foram monitorados ilegalmente. A investigação conclui que Bolsonaro era o principal beneficiário dessas ações clandestinas, conforme expresso no relatório: “Jair Messias Bolsonaro figura como o principal destinatário do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin”.

Abin e a Disseminação de Desinformação

Além da espionagem ilegal, a investigação revelou o uso da Abin para disseminar desinformação com o objetivo de minar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Segundo o relatório da PF, “esta estrutura utilizou-se dos recursos da agência para atender interesses particulares de ordem política, incluindo ações destinadas a influenciar o resultado das eleições presidenciais de 2022”. As ações clandestinas, de acordo com a apuração, foram implementadas sob a gestão do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, que também foi indiciado, utilizando policiais federais e servidores cedidos ao órgão e o programa de monitoramento Firstmile.

Indiciamentos na Cúpula da Abin

A investigação não se limitou aos membros do núcleo político central. A atual cúpula da Abin também foi alvo de indiciamentos. O diretor-geral, Luiz Fernando Correa, e o corregedor, José Fernando Moraes Chuy, foram acusados de tentar obstruir as investigações sobre a “Abin Paralela”. Segundo a PF, “este núcleo atuou para dificultar as investigações sobre a organização criminosa da gestão anterior, por meio de estratégias conjuntas com investigados, recalcitrância na entrega de provas (logs), ações para assediar e desacreditar a ex-corregedora, omissão sobre operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos internos”.

Próximos Passos e Reações

Após o recebimento do relatório final da PF, o ministro Alexandre de Moraes encaminhará o documento à Procuradoria-Geral da República (PGR). A PGR decidirá se apresenta uma nova denúncia contra os acusados ou se anexa o caso aos processos existentes sobre a trama golpista ocorrida durante o governo Bolsonaro. Em reação ao indiciamento, Carlos Bolsonaro recorreu às redes sociais, insinuando motivação política na decisão da PF. Ele declarou: “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”. A Abin foi contatada pela Agência Brasil para se manifestar, mas ainda não houve resposta.