Edição Brasília

PF aponta que Abin forneceu informações estratégicas para desinformação no governo Bolsonaro

Investigação detalha como Ramagem assessora Bolsonaro em ataques às instituições democráticas, sistema eleitoral e STF, utilizando estrutura da Abin para desvio de finalidade.
Agência Brasileira de Inteligência
Foto: José Cruz/Agência Brasil/Arquivo

Conexões reveladas entre Abin e estratégias de desinformação

A Polícia Federal (PF) concluiu que Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), usou sua posição para municiar o então presidente Jair Bolsonaro com informações e estratégias que visavam deslegitimar instituições democráticas no Brasil. Segundo o relatório, revelado nesta terça-feira (26), Ramagem teve papel ativo em produzir e fornecer conteúdos utilizados por Bolsonaro para questionar o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas e o Poder Judiciário.

A investigação faz parte do chamado “inquérito do golpe”, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além de Ramagem, Bolsonaro e outros 35 acusados foram indiciados por crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Desinformação como ferramenta de ataque

A PF identificou que documentos elaborados e repassados pela Abin serviram como base para discursos e lives de Bolsonaro nas redes sociais. Nessas transmissões, o então presidente frequentemente levantava suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral e os membros do STF, em uma tentativa de enfraquecer a confiança nas instituições democráticas.

“Alexandre Ramagem, como chefe da Abin, solicitou e utilizou documentos para atacar o sistema eleitoral brasileiro, além de subsidiar o presidente Jair Bolsonaro com estratégias para deslegitimar o Supremo Tribunal Federal e seus membros”, diz o relatório.

De acordo com a investigação, as ações de Ramagem configuram desvio de finalidade ao transformar a Abin em uma ferramenta para viabilizar a propagação de desinformação e fomentar a desconfiança nas estruturas do Estado.

Estratégias ilícitas e desdobramentos

A PF destacou que o desvio de função da Abin não se limitou à criação de conteúdos. Ramagem também teria contribuído para a elaboração de planos que interferissem em investigações conduzidas pela Polícia Federal. O objetivo era proteger aliados e assegurar a continuidade de discursos que sustentavam os ataques ao sistema democrático.

A investigação ressalta que essas ações formaram o pano de fundo para a radicalização que culminou nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes em Brasília foram invadidas e vandalizadas.

Resposta das partes envolvidas

Procurados, os advogados de Ramagem e Bolsonaro ainda não se manifestaram oficialmente. Em coletiva de imprensa recente, Bolsonaro declarou que “nunca discutiu golpe com ninguém” e que todas as ações durante seu governo foram realizadas “dentro das quatro linhas da Constituição”.