Pesquisadores, ativistas e familiares de vítimas da ditadura militar em Petrópolis, no Rio de Janeiro, uniram-se na última sexta-feira (28) em um ato público em frente à chamada “Casa da Morte”. O grupo, que compõe o Ponto de Cultura Inês Ettiene, exige a desapropriação do imóvel para transformá-lo em um memorial de direitos humanos, perpetuando assim a memória política e combatendo o esquecimento dos horrores daquele período sombrio da história brasileira.
Contexto Histórico: A Crueldade da Casa da Morte
A iniciativa do Ponto de Cultura Inês Ettiene surge para fortalecer ações comunitárias dedicadas à reflexão, educação e resistência, tendo como inspiração a trajetória de Inês Ettiene Romeu. Conhecida como a única sobrevivente da temida Casa da Morte, Inês foi detida e brutalmente torturada por militares no local entre maio e agosto de 1971. Posteriormente, após ser libertada, ela corajosamente denunciou publicamente as atrocidades que testemunhou e sofreu no imóvel, desempenhando um papel crucial na revelação dos crimes da ditadura. Inês Ettiene faleceu em 2015, mas seu legado de luta e resistência permanece como um farol para as atuais gerações.
Mobilização pela Memória e Justiça
A criação do Ponto de Cultura Inês Ettiene representa um esforço conjunto para garantir que a história não seja apagada. Membros da sociedade civil, incluindo parentes de pessoas desaparecidas durante a ditadura militar, formam a base deste movimento. O ato público realizado na sexta-feira (28), na cidade imperial, foi um marco importante para o grupo, que, apesar de ainda não possuir uma sede física, manifestou vigorosamente a demanda pela desapropriação da casa. Consequentemente, a intenção é transformar o local em um centro de memória, um espaço de conscientização e homenagem às vítimas do regime autoritário.
Vera Vital Brasil, uma das integrantes do Ponto de Cultura Inês Ettiene, enfatiza a relevância da mobilização. Segundo ela, estiveram presentes familiares de indivíduos que desapareceram na Casa da Morte, sendo alguns casos já comprovados, enquanto outros ainda aguardam confirmação. Ademais, há fortes indícios de que muitos desaparecimentos possam estar diretamente relacionados ao imóvel, que foi, de fato, um dos principais centros de assassinatos de militantes políticos durante a ditadura. Portanto, a preservação do local é vista como fundamental para a justiça histórica.
O Desafio da Desapropriação do Imóvel
A luta pela transformação da Casa da Morte em um memorial enfrenta obstáculos significativos, principalmente de ordem legal e financeira. Um processo de desapropriação do imóvel foi iniciado anteriormente, e a Prefeitura de Petrópolis chegou a receber autorização da 4ª Vara Cível, no início deste ano, para tomar posse da propriedade. Entretanto, por motivos não especificados, a conclusão do caso não se concretizou, e o imóvel permanece, até hoje, sob propriedade privada.
O movimento em prol do memorial batalha há anos para reverter essa situação. Vera Vital Brasil recorda que existe um grupo ativo, o “pró memorial Casa da Morte”, que opera em busca de recursos para a aquisição da casa. Esta, por sua vez, é particular e está atualmente nas mãos de uma pessoa que a comprou de Ricardo Lodders, indivíduo que originalmente cedeu o imóvel para uso pelo Exército durante a ditadura. Portanto, a complexidade jurídica e a necessidade de financiamento são desafios contínuos para a concretização do projeto.
Inês Ettiene: Símbolo de Resistência Inabalável
Em virtude de sua trajetória singular e de ser a única pessoa a sair viva da Casa da Morte, Inês Ettiene Romeu consolidou-se como o grande ícone e inspiração para o Ponto de Cultura que leva seu nome. Vera Vital Brasil reitera que Inês representa um símbolo vivo de resistência, uma sobrevivente das situações mais bárbaras e cruéis imagináveis. Ela foi, por conseguinte, uma figura que abriu caminhos para o reconhecimento das atrocidades cometidas nos “porões da ditadura”, permitindo que a verdade viesse à tona. Inês, para o grupo, não é apenas um nome, mas uma representação da luta e da persistência contra a opressão.
Próximos Passos e o Futuro do Memorial
O Ponto de Cultura Inês Ettiene planeja uma série de atividades futuras para continuar promovendo a conscientização sobre o período da ditadura militar no Brasil. Vera Vital Brasil detalha que a intenção é organizar a exibição de filmes, apresentações musicais e outras obras culturais que não apenas lembrem, mas também informem a população sobre os acontecimentos daquele período. Assim, a busca por uma sede física no antigo centro de tortura permanece central, mas, independentemente disso, o grupo está empenhado em manter viva a chama da memória e da educação.
Em conclusão, a mobilização em Petrópolis reflete a persistente necessidade de confrontar o passado e salvaguardar os direitos humanos. A luta pela Casa da Morte como um memorial é mais do que a desapropriação de um imóvel; é a reafirmação de um compromisso com a verdade, a justiça e a memória das vítimas da ditadura militar, garantindo que tais horrores nunca mais se repitam.



