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Petrobras importa gás de Vaca Muerta (Argentina) e abre nova rota ao Brasil

Petrobras importou gás de Vaca Muerta (Argentina) pela primeira vez, criando uma nova rota de suprimento ao Brasil via Bolívia, em um teste comercial e operacional.
Petrobras importa gás Vaca Muerta
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo

A Petrobras realizou um marco inédito no fornecimento de gás natural ao Brasil, importando pela primeira vez o combustível do campo de Vaca Muerta, localizado na Bacia de Neuquén, Patagônia argentina. Esta operação inovadora estabeleceu uma nova rota de suprimento, transitando pela Bolívia antes de chegar ao território brasileiro, caracterizando-se como um importante teste comercial e operacional para a estatal.

Detalhes da Operação Pioneira

A iniciativa, finalizada na última sexta-feira (3) e divulgada ao público na segunda-feira seguinte (6), envolveu um volume de 100 mil metros cúbicos de gás. Apesar de representar menos de 5% da produção disponibilizada pela Petrobras ao mercado nacional, este volume foi crucial para validar a logística e a viabilidade comercial do projeto. Além disso, a importação é fruto de um acordo estratégico entre a Petrobras Operaciones S.A (Posa), subsidiária argentina da Petrobras, e a Gas Bridge Comercializadora, que pertence à multinacional Pluspetrol, de origem argentina. A Petrobras Operaciones, inclusive, detém uma participação de 33,6% no campo de Rio Neuquén, atuando como sócia não-operadora.

Integração e Oportunidades Futuras

A Petrobras esclareceu que, por meio do contrato, há uma possibilidade de importar até 2 milhões de metros cúbicos de gás natural em modalidade interruptível. Posteriormente, novas operações de importação deverão ocorrer conforme as empresas envolvidas identifiquem oportunidades comerciais no mercado. Em um comunicado oficial, Angélica Laureano, diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, descreveu a operação como um “marco relevante”, ressaltando a significativa integração das infraestruturas da Petrobras na Argentina com as do Brasil. Em suas palavras, esta solução logística e comercial não apenas abre uma nova via para a importação de gás natural no Brasil, mas também reflete o compromisso da empresa com o aumento da oferta e o desenvolvimento sustentável do mercado de gás nacional.

Contexto da Oferta Nacional de Gás

Este teste operacional surge como mais uma frente estratégica para impulsionar a oferta de gás natural no Brasil. De fato, a iniciativa busca responder a uma queixa persistente do setor industrial, que frequentemente aponta o elevado custo do insumo. Por exemplo, um estudo divulgado em abril pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicou que o gás natural consumido pela indústria brasileira pode ser até dez vezes mais caro que o americano e o dobro do preço praticado na Europa. Ademais, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, já havia sinalizado os esforços da estatal para escoar mais gás do pré-sal brasileiro, visando justamente à redução dos custos para a indústria consumidora.

Estratégia do Pré-Sal e o Hub P-91

Em linha com a meta de aumentar a oferta nacional, a Petrobras anunciou na sexta-feira passada o início do processo de contratação para a construção da plataforma P-91. Esta será a 12ª plataforma destinada ao campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. Espera-se que este investimento consolide Búzios como o maior campo produtor da Petrobras, superando Tupi, também na Bacia de Santos, e, consequentemente, amplie sua relevância para o suprimento de gás natural no país. Além disso, a P-91 não apenas produzirá gás, mas também atuará como um “hub”, um ponto de concentração. Consequentemente, ela terá capacidade para receber e escoar o gás proveniente de outras plataformas do campo que não foram originalmente projetadas para a exportação do combustível. Posteriormente, todo o gás escoado será direcionado ao Complexo de Energias Boaventura, antigo Comperj, situado em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, por meio do gasoduto Rota 3.