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OMS: 1 em 3 mulheres sofreu violência, sem progresso em 20 anos

Dados divulgados pela OMS hoje revelam que 840 milhões de mulheres em todo o mundo sofreram violência doméstica ou sexual, sem avanço na redução em duas décadas.
OMS violência mulheres
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Cerca de uma em cada três mulheres no mundo – aproximadamente 840 milhões de indivíduos – já experimentou alguma forma de violência doméstica ou sexual ao longo da vida, conforme revelam novos dados divulgados nesta quarta-feira (19) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais preocupante ainda, as estatísticas demonstram que, nos últimos vinte anos, o progresso na redução desses índices tem sido praticamente inexistente, com pouquíssimas mudanças desde o ano 2000.

A situação é alarmante: apenas nos últimos doze meses, um total de 316 milhões de mulheres, o que corresponde a 11% da população feminina com 15 anos ou mais, foram vítimas de violência física ou sexual perpetrada por um parceiro íntimo. A OMS ressaltou que a diminuição da violência por parceiro íntimo avançou de forma “dolorosamente lenta”, registrando uma queda anual de apenas 0,2% ao longo das últimas duas décadas.

A Extensão da Violência e a Subnotificação

Pela primeira vez, o relatório da OMS oferece estimativas sobre a violência sexual praticada por agressores que não são parceiros íntimos. Esses dados indicam que 263 milhões de mulheres com 15 anos ou mais foram vítimas dessa modalidade de violência. Contudo, a organização alertou que esse número está significativamente subnotificado, uma vez que o estigma social e o medo frequentemente impedem as vítimas de reportar os crimes, ocultando a verdadeira dimensão do problema.

De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a violência contra mulheres figura entre as injustiças mais antigas e amplamente disseminadas da humanidade, mas, ainda assim, permanece como uma das menos combatidas. Ele afirmou categoricamente que “nenhuma sociedade pode se considerar justa, segura ou saudável enquanto metade de sua população vive com medo”, enfatizando que erradicar a violência sexual contra mulheres transcende uma questão política, sendo, na verdade, um imperativo de dignidade, igualdade e direitos humanos.

Ademais, Tedros Adhanom Ghebreyesus sublinhou que, por trás de cada estatística, existe uma mulher ou menina cuja vida foi irreversivelmente alterada. Ele concluiu que empoderar mulheres e meninas não é meramente uma opção, mas um pré-requisito essencial para a paz, o desenvolvimento e a saúde global, pois um mundo mais seguro para as mulheres beneficia a todos.

Impactos e Disparidades Geográficas

Os riscos para as mulheres que sofrem violência são profundos e variados. A OMS destaca que as vítimas enfrentam maiores chances de gestações indesejadas, além de um risco elevado de contrair infecções sexualmente transmissíveis e desenvolver depressão. Diante deste cenário, os serviços de saúde sexual e reprodutiva emergem como pontos cruciais de acesso para que as sobreviventes recebam o atendimento de alta qualidade de que necessitam.

O estudo também revela que a violência contra mulheres começa em idades precoces e os perigos se estendem por toda a vida. Nos últimos doze meses, por exemplo, 12,5 milhões de adolescentes com idade entre 15 e 19 anos, representando 16% dessa faixa etária, foram vítimas de violência física e/ou sexual por parte de seus parceiros. Embora a violência ocorra em todas as nações, mulheres em países menos desenvolvidos, afetados por conflitos e vulneráveis às mudanças climáticas, são desproporcionalmente impactadas.

Um exemplo notável dessa disparidade é a Oceania, excluindo Austrália e Nova Zelândia, que registrou uma taxa de prevalência de 38% de violência por parceiro íntimo no último ano. Esta cifra é mais de três vezes superior à média global de 11%, evidenciando a urgência de intervenções específicas nessas regiões.

Um Apelo Global por Ação

O relatório aponta que, embora mais países estejam coletando dados para formular políticas públicas de combate à violência contra a mulher, ainda persistem lacunas significativas. Isso é particularmente verdade no que concerne à violência sexual praticada por pessoas que não são parceiros íntimos, e também em relação a grupos marginalizados, como mulheres indígenas, migrantes e com deficiência, cujas experiências são frequentemente invisibilizadas.

Portanto, para acelerar o progresso global e catalisar mudanças significativas na vida de mulheres e meninas afetadas pela violência, o documento faz um forte apelo por ações governamentais decisivas e um financiamento robusto. Os objetivos incluem:

  • Ampliar programas de prevenção baseados em evidências científicas;
  • Fortalecer os serviços de saúde, jurídicos e sociais, com foco primordial nas necessidades das sobreviventes;
  • Investir em sistemas de dados aprimorados para monitorar o progresso e alcançar os grupos mais vulneráveis da população; e
  • Garantir a efetiva aplicação de leis e políticas que promovam o empoderamento de mulheres e meninas.

Em conclusão, a persistência da violência contra mulheres, conforme evidenciado pelos dados da OMS, demanda uma resposta coordenada e urgente de toda a sociedade. Atingir a igualdade e a segurança para todas as mulheres é, em última instância, uma meta fundamental para o bem-estar e a justiça do mundo inteiro.