Edição Brasília

O que pode estar destruindo o empreendedorismo no Brasil?

Imagine que existe uma pessoa que tem um talento muito grande, para fazer algo de forma diferenciada e especial. Ou mesmo alguém que tenha uma ideia inovadora de um produto ou serviço e que, por incentivo das pessoas próximas, decide empreender e se arriscar iniciando um novo negócio a partir de seu talento ou sua ideia. Imagine, também, alguém que de repente se vê desempregado, alguém que diante de uma economia instável como a nossa, perde sua principal fonte de renda e precisa dar continuidade à sua vida. Por isso, em busca de novas fontes de renda, inicia um negócio próprio e começa, também, a se portar como um empreendedor.

Esses dois cenários são exatamente o perfil médio do empreendedor brasileiro. Há um grave problema que envolve ambos os perfis apresentados. Em geral, essas pessoas têm boas ideias, boa motivação e até mesmo uma qualidade de produto ou um talento superior ao esperado, mas não são e não buscaram ser (ou não tiveram a oportunidade) treinados e/ou preparados, para gerirem ou estarem à frente de um negócio ou de uma empresa. São raros os casos de empreendedores que se preparam para tal e buscam entender e conhecer tudo sobre legislação comercial, aspectos de administração, contabilidade, legislação tributária, questões trabalhistas, gestão de pessoas, gestão de processos, dentre tantos outros fatores que podem levar um empreendedor a ter êxito e sucesso em sua jornada.

Em sua última edição, a pesquisa “Taxa de Sobrevivência das Empresas no Brasil”, realizada pelo SEBRAE nos apresentou alguns dados interessantes, especialmente ao constatar que mais de 20% dos pequenos negócios que são abertos, fecham antes mesmo de completarem 5 anos. Mostrou, também, que “a gestão administrativa e financeira de pequenos e médios negócios em média não evoluiu nada nos últimos 10 anos”. Já sobre as causas dessa taxa de mortalidade dos pequenos negócios a pesquisa constatou que os 3 principais motivos são:

  1. Pouco Preparo Pessoal – A pesquisa indicou que a maioria dos empresários que abriram um negócio no ramo em que tinham expertise, mas não procuraram se capacitar sobre assuntos relacionados à sua gestão, quebraram. Isso comprova a importância do aperfeiçoamento dos empresários, através de cursos, palestras, eventos, oficinas etc. O próprio Sebrae oferece esse tipo de conteúdo de forma gratuita para esses empreendedores.
  2. Planejamento Deficiente – A pesquisa apontou que, das empresas pesquisadas, 100% das que não quebraram, foram abertas após um planejamento prévio e tinham preparado um plano de negócios, no mínimo, 3 meses maior que as demais. Isso nos revela que saber planejar um negócio e montar um bom plano viável e estruturado, é fundamental para quem busca empreender com segurança e obter sucesso.
  3. Gestão Deficiente – Muitos dos negócios estudados quebraram por não cumprirem regras básicas de gestão. Seriam regras como: manter um planejamento financeiro, separar as finanças pessoais das contas do negócio, planejar ciclos e prazos, definir metas de produção e de vendas, controlar a estocagem, dentre outros fatores.

Esses dados e essa realidade nos alertam para o fato de que a falta de preparo do empreendedor brasileiro, para estar à frente de um negócio, prejudica grandes talentos e pode enterrar grandes ideias. Por isso, usar as ferramentas disponíveis é algo de suma importância para que se possa alavancar o crescimento de pequenos negócios e diminuir sua taxa de mortalidade. Isso porque o mesmo Sebrae que apontou para os dados acima também revelou que “[…] pequenos negócios são responsáveis por 8 em cada 10 empregados assalariados do Brasil”.

Dessa forma podemos entender porque é tão importante fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento dos pequenos negócios, inclusive para alavancar ainda mais a geração de empregos e o crescimento econômico do país. Para isso, precisamos vencer a barreira da falta de preparo, com uma mudança cultural e um melhor aproveitamento das ferramentas de aprendizado e desenvolvimento, que inclusive já existem no Brasil.

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