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Narrativa golpista impulsionou atos de 8 de janeiro e atentado ao STF, afirma PF

Investigação conclui que disseminação de mensagens antidemocráticas durante governo Bolsonaro alimentou radicalismo e planejou ataques às instituições.
Narrativa do Golpe
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

PF aponta ligação entre discursos golpistas e ataques recentes

A Polícia Federal (PF) concluiu que a propagação de narrativas golpistas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi determinante para os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e o recente atentado a bomba no Supremo Tribunal Federal (STF). O relatório, cujo sigilo foi levantado nesta terça-feira (26) pelo ministro Alexandre de Moraes, reforça a existência de um ambiente propício ao radicalismo alimentado por discursos contrários à democracia.

Os investigadores afirmam que a difusão rápida e repetitiva de mensagens golpistas manteve o desejo de grupos extremistas de consumar um golpe de Estado. Apesar dos planos não terem se concretizado devido à falta de adesão das Forças Armadas, especialmente do Exército e da Aeronáutica, o relatório destaca que o radicalismo ainda persiste em parcela da sociedade.

Atentados e tentativas de golpe são destacados no relatório

Além dos atos de 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, a PF cita outros eventos preocupantes. Entre eles, a tentativa de invasão à sede da Polícia Federal em 12 de dezembro de 2022 e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília em 24 de dezembro do mesmo ano. Mais recentemente, em 13 de novembro de 2024, ocorreu um atentado a bomba no STF, reforçando a necessidade de vigilância contra ações extremistas.

Bolsonaro é apontado como participante ativo em planos golpistas

O relatório da PF também indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou de forma direta e efetiva nos atos que visavam um golpe de Estado. “Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República planejou, atuou e teve o domínio dos atos executórios realizados pela organização criminosa”, destaca o documento.

Segundo a investigação, Bolsonaro tinha conhecimento do plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que incluía ações extremas como sequestro ou homicídio de autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Participação de militares e planos frustrados

A PF aponta que o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, mostrou anuência com as articulações golpistas, colocando tropas à disposição de Bolsonaro. No entanto, a falta de apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica impediu a execução dos planos de golpe de Estado.

Documentos revelam tentativas de impedir posse de Lula

Durante as investigações, foi encontrado um documento manuscrito na sede do Partido Liberal (PL), que propunha ações para interromper o processo de transição de governo. Intitulado “Operação 142”, em referência ao artigo 142 da Constituição, o texto sugeria mobilizações para impedir que “Lula suba a rampa”, evidenciando intenções de impedir a posse do presidente eleito.

Próximos passos da investigação

Com a retirada do sigilo, o inquérito foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR). O procurador-geral, Paulo Gonet, avaliará se apresentará denúncia ao STF contra Bolsonaro e os demais envolvidos pelos crimes apontados pela PF.