No último fim de semana, no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, um encontro crucial reuniu ativistas, especialistas e defensoras dos direitos ambientais e da justiça climática. Este primeiro evento de uma série de quatro, organizado pela ONG Criola, focou no tema “Mulheres Negras Construindo o Futuro com Justiça Climática: por Reparação e Bem Viver”. A iniciativa visa fortalecer a participação feminina negra em decisões climáticas, reconhecendo sua vulnerabilidade desproporcional aos impactos ambientais.
A urgência da voz negra na discussão climática
De acordo com a Criola, a presença de mulheres negras nos espaços de tomada de decisão é inquestionavelmente fundamental. Elas, mais do que qualquer outro grupo, sofrem as consequências mais severas das mudanças climáticas. A ONG, apoiando-se em dados da Oxfam, destaca que populações negras, indígenas e periféricas são desproporcionalmente afetadas, apesar de sua contribuição mínima para as emissões de gases de efeito estufa. Essa realidade exige uma mudança radical na forma como as políticas climáticas são elaboradas e implementadas.
Segundo Mônica Sacramento, coordenadora programática da Criola, a série de encontros serve como preparação para a COP30, em Belém, em novembro deste ano. “Foram listadas demandas, fizemos uma análise profunda do território, diagnosticando suas necessidades. Também percebemos a influência política que essas mulheres exercerão sobre a cidade do Rio de Janeiro e outros municípios, como Angra dos Reis, que esteve presente. Em resumo, o encontro foi extremamente positivo”, afirmou Mônica em entrevista à Agência Brasil. A COP30, que reunirá líderes mundiais, cientistas e organizações, é o palco ideal para apresentar essas demandas com força e clareza.
Demandas e desafios para a justiça climática
Entre as principais demandas levantadas no encontro, realizado no sábado, dia 24, estão questões urgentes como enchentes, tratamento de resíduos sólidos, e a situação específica das mulheres de terreiro e das moradoras de bairros periféricos e favelas. Conforme Mônica destacou, “esse debate está distante dessas mulheres, e elas não contam com uma participação política mais efetiva”. A ausência de representatividade afeta diretamente a eficácia das políticas públicas, que precisam ser formuladas com o conhecimento e a experiência de quem vive em primeira mão os impactos das mudanças climáticas.
Além disso, a coordenadora da Criola enfatiza a crucial importância da participação política de mulheres negras em espaços de decisão. “O ponto fundamental é a urgência da presença de mulheres negras nos debates e também na busca por soluções para as questões climáticas”, declarou Mônica, destacando a necessidade de ações concretas. Ela também mencionou a Marcha das Mulheres Negras em Brasília, logo após a COP30 em Belém, como mais um espaço para ampliar o debate sobre reparação e bem-viver, temas centrais para a justiça climática. Essa marcha será uma demonstração contundente da força e da determinação das mulheres negras na luta por seus direitos e por um futuro mais sustentável e igualitário.
Um movimento em construção
O encontro contou com a participação de 29 mulheres negras, lideranças de diversas regiões do Rio de Janeiro, incluindo figuras importantes como Ana Tobossi (Movimento Negro Unificado) e Yakekerê Marta Ferreira D’Oxum (Ile Aşé Omi Lare Iyá Sagbá e Grupo de Pesquisa e Extensão Cultural A Cor da Baixada). A união dessas vozes demonstra a força crescente do movimento e a sua determinação em construir um futuro com justiça climática para todas. É fundamental que essas vozes sejam amplificadas e ouvidas em todos os níveis de decisão, garantindo que as políticas climáticas sejam efetivamente inclusivas e respondam às necessidades das populações mais vulneráveis.
Em conclusão, o encontro no Rio de Janeiro representou um importante passo na luta pela justiça climática, dando voz às mulheres negras e suas demandas específicas. A mobilização e a organização demonstram a capacidade da sociedade civil em pressionar por mudanças significativas, levando as questões cruciais da reparação e do bem-viver para o centro dos debates nacionais e internacionais sobre o clima. A continuidade desse trabalho e a ampliação da participação de mulheres negras em todos os níveis de decisão são essenciais para garantir um futuro sustentável e justo para todas.