Edição Brasília

Morte em parque expõe desafios da segurança em áreas turísticas

Menina de 11 anos morre em cânion no RS, expondo falhas na segurança de parque nacional apesar de protocolos. Investigação aponta para revisão de medidas de segurança em áreas turísticas de aventura.
Segurança em turismo de aventura
Foto: Prefeitura de Cambará do Sul/Divulgação

A morte trágica de uma menina de 11 anos no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul (RS), reacendeu o debate sobre a segurança em áreas turísticas, especialmente em unidades de conservação que também abrigam atividades de aventura.

A tragédia no Cânion Fortaleza e as consequências

O acidente, ocorrido no Cânion Fortaleza, resultou no falecimento da criança após uma queda. Imediatamente após o ocorrido, a Urbia Cânions Verdes, concessionária responsável pelo local, divulgou uma nota afirmando o cumprimento de todos os protocolos e políticas de segurança exigidos. Segundo a empresa, os turistas recebem orientações sobre práticas adequadas nas trilhas, principalmente nas bordas dos cânions, e placas sinalizam os riscos e precauções ao longo do percurso. Além disso, a concessionária mantém uma equipe de segurança com bombeiros civis treinados para lidar com emergências.

Embora a contratação de guias turísticos registrados no Cadastur seja opcional para as trilhas classificadas como nível médio e intermediário, a empresa não intermedia esse serviço. Todas essas medidas fazem parte do Sistema de Gestão de Segurança do Parque Nacional da Serra Geral, detalhado no Protocolo Operacional de Visitação (PROV), documento aprovado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e exigido no contrato de concessão.

Este protocolo descreve detalhadamente o funcionamento de cada área de acesso, as atividades permitidas, horários, serviços disponíveis, monitoramento e restrições. Ele inclui, ainda, todos os componentes de segurança, tanto individuais quanto ambientais, como sinalização, guarda-corpos e ancoragens. A aprovação prévia pelo ICMBio garante a viabilidade das atividades e equipamentos.

Investigação e medidas futuras

Após o acidente, o ICMBio emitiu nota afirmando que não foram encontradas falhas sistêmicas na segurança e sinalização do local. Entretanto, reconhecendo seu papel de órgão gestor e fiscalizador, o instituto anunciou a adoção de medidas para rever e potencialmente reforçar as medidas de segurança nos parques nacionais abertos à visitação. Esta revisão visa aprimorar os protocolos existentes e prevenir acidentes futuros.

A perspectiva do ecoturismo de aventura

Os desafios da segurança no turismo de aventura

Para Luiz Del Vigna, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), atividades em ambientes naturais, mesmo em parques, sempre envolvem riscos inerentes. “O turismo de aventura, em ambientes não controlados, apresenta riscos maiores de acidentes e incidentes. Portanto, é fundamental estar preparado”, afirma Del Vigna, enfatizando a necessidade de planejamento e a importância das normas técnicas de gestão de segurança.

O setor, segundo ele, é regulamentado por 44 normas técnicas, previstas no Código de Defesa do Consumidor, incluindo a obrigação de informar o consumidor sobre os riscos da atividade. De acordo com Del Vigna, a norma técnica brasileira, reconhecida internacionalmente como ISO 21101 (Sistema de Gestão de Segurança para Turismo de Aventura), garante um padrão elevado de segurança. O Brasil conta com 75 parques nacionais, 11 deles operados por meio de concessões público-privadas, que oferecem serviços de visitação e turismo de aventura. Apesar da diversidade de tamanho e serviços, o diretor executivo destaca que, de maneira geral, os parques são seguros.

Del Vigna ressalta que o ICMBio exige, em seus regulamentos internos, um sistema de gestão de segurança em todos os processos de concessão de serviços turísticos em unidades de conservação federais. Assim, tanto os parques quanto os concessionários trabalham ativamente para garantir a segurança dos visitantes. Contudo, o cenário fora dos parques nacionais apresenta desafios distintos.

Riscos e responsabilidades

Dentro dos parques, os riscos são minimizados pela fiscalização e pelas normas técnicas aplicadas no processo de concessão. Por outro lado, no mercado externo de turismo de aventura, a informalidade, a falta de fiscalização e a priorização do custo sobre a segurança pelo consumidor representam os principais obstáculos para a minimização de riscos, segundo Del Vigna. Ele compara a segurança dos parques nacionais brasileiros a ambientes urbanos comuns, argumentando que os riscos são similares aos encontrados em locais como Copacabana (Rio de Janeiro) ou Avenida Paulista (São Paulo).

Em conclusão, o trágico evento no Parque Nacional da Serra Geral destaca a necessidade contínua de aprimoramento das medidas de segurança em áreas turísticas, tanto dentro quanto fora das unidades de conservação. A combinação de regulamentação, fiscalização eficaz e conscientização dos turistas se apresenta como fundamental para minimizar os riscos e garantir a segurança de todos.