Morre aos 97 anos o ex-ministro da Ciência e Tecnologia José Israel Vargas
O renomado físico e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, faleceu na última quinta-feira, 15, em Belo Horizonte, aos 97 anos. Sua trajetória marcante abrangeu décadas de contribuições significativas para a ciência brasileira e para a formulação de políticas públicas no setor. Vargas também presidiu a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e deixou um legado de defesa incansável da pesquisa e da educação científica no país.
Nascido em 1928 em Paracatu, Minas Gerais, Vargas construiu uma carreira brilhante. Formou-se em química na UFMG, especializou-se em física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e concluiu seu doutorado em ciências nucleares na renomada Universidade de Cambridge, no Reino Unido. De volta ao Brasil, lecionou na UFMG, instituição onde se tornou professor emérito, e dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas. Sua expertise também o levou a atuar como pesquisador no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e como assessor técnico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
A trajetória de Vargas não esteve isenta de desafios. Durante o golpe militar de 1964, seu laboratório foi alvo de invasão por parte do Exército, resultando em sua demissão da CNEN e afastamento da UFMG. Em resposta, Vargas decidiu se exilar na França, onde permaneceu por quase sete anos, trabalhando como pesquisador no Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, em Grenoble.
Seu trabalho científico foi focado em áreas como as transformações nucleares em sólidos, utilizando a radiação emitida pelo núcleo atômico para descrever o estado do próprio átomo. Além disso, dedicou-se ao planejamento e modelagem de sistemas energéticos, demonstrando sua visão estratégica para o desenvolvimento nacional. No início dos anos 1960, Vargas foi um dos principais arquitetos da política nacional de energia nuclear.
Contribuições à política científica e atuação internacional
A influência de Vargas se estendeu para o cenário político. Ele ocupou o cargo de secretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e, posteriormente, atuou como ministro da Ciência e Tecnologia nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Durante seu período à frente do ministério, teve papel fundamental na expansão e consolidação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Seus esforços também se concentraram na melhoria da qualidade da produção nacional, através do aprimoramento do Sistema Nacional da Propriedade Intelectual, além de avanços em Metrologia e Normatização.
No âmbito internacional, Vargas contribuiu significativamente para a cooperação científica global. Integrou a Comissão Assessora para Políticas de Cooperação Intelectual Internacional da Unesco e o Conselho do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, onde participou do desenvolvimento de um projeto ambicioso: a criação de uma linguagem para computadores que permitisse a tradução automática de línguas. Além disso, atuou como embaixador do Brasil na Unesco e presidiu o Conselho Executivo da organização. Sua liderança também se destacou na Academia Mundial de Ciências, onde ocupou a presidência por duas ocasiões.
Em nota de pesar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a trajetória de Vargas, enaltecendo sua carreira acadêmica, suas contribuições para as políticas públicas e sua defesa da ciência brasileira. Similarmente, a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, lembrou-o como um visionário incansável, comprometido com o progresso e a soberania nacional, deixando um legado inspirador para futuras gerações.
O velório do ex-ministro José Israel Vargas será realizado nesta sexta-feira (16), das 9h às 12h30, no saguão da Reitoria da UFMG, campus Pampulha, em Belo Horizonte.