O cenário cultural brasileiro perdeu um de seus mais emblemáticos personagens neste domingo (24), com o falecimento do renomado cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, amplamente conhecido como Jaguar. Aos 93 anos, o artista, fundamental na fundação do icônico jornal O Pasquim, sucumbiu a uma infecção respiratória no Rio de Janeiro, deixando um legado indelével para o humor e a crítica política no país.
Detalhes do Falecimento e a Nota do Hospital
A morte de Jaguar ocorreu no Hospital Copa D’Or, na capital fluminense, onde estava internado. Segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da unidade hospitalar, a causa do óbito foi uma infecção respiratória que evoluiu para complicações renais. Nos dias que antecederam seu passamento, ele recebia cuidados paliativos, indicando a gravidade de seu estado de saúde. A nota oficial expressou profundo pesar, solidarizando-se com a família, amigos e uma vasta legião de fãs, destacando a perda como “irreparável para a cultura brasileira”.
Uma Trajetória Artística de Meio Século
A brilhante carreira de Jaguar teve início em 1952, quando ainda atuava como funcionário do Banco do Brasil. Naquela época, o jovem talento conseguiu sua primeira publicação ao ter um desenho aceito na coluna de humor “Penúltima Hora”, do jornal Última Hora, no Rio de Janeiro. Posteriormente, sua arte encontrou espaço nas páginas de humor da prestigiada revista Manchete, solidificando seu reconhecimento. Foi nesse período, aliás, que ele adotou o pseudônimo “Jaguar”, uma sugestão do também artista Borjalo, que o acompanharia por toda a vida e o tornaria um nome célebre.
O Pasquim e a Luta Contra a Ditadura
Entretanto, foi durante o período sombrio da ditadura militar no Brasil que Jaguar se estabeleceu como um ícone da resistência e da liberdade de expressão. Ele foi um dos visionários fundadores de O Pasquim, jornal que se tornou um símbolo de irreverência e crítica contundente ao regime. Em um contexto de censura e repressão, O Pasquim, com seu humor ácido e inteligente, proporcionou um alívio e uma voz para muitos brasileiros. Desse período marcante, nasceu um de seus personagens mais conhecidos: o ratinho Sig, que não apenas cativou o público, mas também serviu como mascote do periódico. Por sua atuação destemida, Jaguar enfrentou prisões e processos, evidenciando o alto custo de sua arte engajada.
Várias Gerações de Artistas Prestam Homenagem
A notícia do falecimento de Jaguar reverberou profundamente na comunidade artística, provocando uma onda de homenagens nas redes sociais e na mídia. Colegas de profissão e admiradores lamentaram a partida do mestre, ao passo que exaltavam sua contribuição inestimável. Por exemplo, o renomado chargista Arnaldo Angeli Filho descreveu Jaguar como o “maior”, enfatizando que ele merecia todas as reverências pela arte deixada. Angeli ainda complementou, dizendo: “Dono do traço mais rebelde do cartum brasileiro. Seguimos aqui com sua bênção”, expressando a influência duradoura do cartunista.
Ademais, a cartunista Laerte Coutinho usou o X (antigo Twitter) para referir-se a Jaguar como seu “mestre querido”, demonstrando o respeito e carinho que ele inspirava. Outro colega, Allan Sieber, recordou um momento significativo: quando se mudou para o Rio de Janeiro, Jaguar editou o seu livro “Assim rasteja a humanidade”, um gesto de generosidade e reconhecimento que marcou Sieber. O chargista Genildo Ronchi, por sua vez, também utilizou as redes sociais para sublinhar a importância do legado de Jaguar, reconhecido mundialmente. Em uma entrevista à TV Globo, Chico Caruso, outro gigante do humor, classificou a morte de Jaguar como uma “perda irreparável” não apenas para o humor, mas para o próprio Brasil, ressaltando o vazio deixado pela sua ausência no cenário cultural.
O Legado de um Ícone da Cultura Brasileira
Em suma, a partida de Jaguar representa o encerramento de um capítulo vital na história do cartum e do humor gráfico nacional. Sua obra, permeada por uma inteligência afiada e um senso crítico apurado, não apenas divertiu, mas também provocou reflexão e resistência em tempos difíceis. Portanto, o legado de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe vai muito além de seus desenhos; ele reside na inspiração que deixou para gerações de artistas e na perene defesa da liberdade de expressão que sempre pautou sua vida e sua arte.