O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agendou uma série de encontros estratégicos nesta segunda-feira (10) em Brasília. O objetivo central das discussões é abordar tanto a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Favelas, que estabelece diretrizes para operações policiais em comunidades, quanto o Projeto de Lei sobre o Marco do Crime Organizado (PL 5582/2025), que vem ganhando relevância no cenário legislativo.
Diálogo Ampliado sobre Segurança Pública
Inicialmente, às 16h, o ministro Alexandre de Moraes receberá figuras-chave do Ministério Público. Entre os convidados estão o procurador-geral da República, Paulo Gonet, bem como os procuradores-gerais de Justiça de todos os estados e do Distrito Federal. Este encontro visa primordialmente debater os limites e a aplicação das operações policiais em áreas de baixa renda em todo o território nacional. Posteriormente, às 17h, Moraes tem agendado um encontro com o presidente da Câmara, Hugo Motta, representante do Republicanos da Paraíba. A pauta dessa segunda reunião focará especificamente no projeto de lei referente ao Marco do Crime Organizado, uma proposta legislativa que tem mobilizado o Congresso Nacional e gerado expectativas sobre novas ferramentas de combate à criminalidade organizada.
O Contexto das Operações Policiais e a ADPF das Favelas
Essas importantes reuniões acontecem em um momento crucial, marcado pelos desdobramentos da Operação Contenção. Realizada em 28 de outubro no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, a ação resultou em 121 mortes, configurando-se como uma das operações policiais mais letais da história recente do país. Alexandre de Moraes atua como relator da ADPF das Favelas, processo no qual o Supremo Tribunal Federal já havia estabelecido normativas rigorosas para as intervenções policiais em comunidades carentes. Portanto, o ministro está ativamente apurando as circunstâncias dessa megaoperação no Rio de Janeiro para verificar a aderência às determinações do STF.
No âmbito das ações tomadas após o trágico episódio, encontra-se em debate no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) a formulação de um plano abrangente. Este plano visa à retomada de territórios que estão sob o domínio de grupos criminosos organizados, sinalizando um esforço coordenado para restaurar a ordem e a segurança nessas regiões. Nesse sentido, a relevância da ADPF das Favelas se intensifica, pois ela fornece o arcabouço legal para a reavaliação e aprimoramento das estratégias de segurança pública.
A Transição da Relatoria e Encontros Anteriores
A responsabilidade da relatoria da ADPF das Favelas foi temporariamente assumida por Alexandre de Moraes. Originalmente, o ministro Edson Fachin era o relator, mas sua ascensão à presidência do Supremo levou à mudança. Posteriormente, a ação seria encaminhada ao ministro Luís Roberto Barroso; contudo, com sua aposentadoria antecipada no mês passado, a relatoria coube a Moraes. De acordo com as normas regimentais, Moraes é o próximo na linha sucessória e permanecerá com o processo até que um substituto para Barroso seja indicado e assuma seu posto, garantindo a continuidade da análise da complexa pauta.
Adicionalmente, na semana anterior, Moraes esteve no Rio de Janeiro, onde se reuniu com o governador Cláudio Castro e outras autoridades fluminenses, incluindo o chefe do Judiciário estadual, desembargador Ricardo Couto de Castro. Em Brasília, ele também recebeu representantes de movimentos sociais dedicados à defesa dos Direitos Humanos e à segurança pública. Muitos desses grupos figuram como partes interessadas na ADPF das Favelas, trazendo suas perspectivas e demandas diretamente ao ministro.
Pouco depois desses encontros, Moraes anunciou a inclusão da Polícia Federal nas investigações relacionadas ao crime organizado no Rio de Janeiro. A respeito da apuração das mortes decorrentes da megaoperação, o ministro assegurou que o Supremo acompanha de perto os trabalhos. Ele justificou essa vigilância apontando para o que descreveu como uma “falta de autonomia” da polícia técnico-científica do estado do Rio de Janeiro, indicando a necessidade de uma análise mais independente e aprofundada dos fatos.



