O ministro Alexandre de Moraes, integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (4) a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão, de grande impacto político, fundamenta-se na persistente desobediência de Bolsonaro às medidas cautelares previamente estabelecidas, bem como no reiterado desrespeito à autoridade da Suprema Corte, especialmente durante os recentes atos de apoio realizados em diversas localidades do país no domingo (3).
A Fundamentação da Medida Cautelar Mais Severa
Na sua deliberação, o ministro Moraes enfatizou que o ex-presidente demonstra um contínuo “ignorar e desrespeitar” as determinações do STF. De fato, a conclusão do magistrado baseou-se na análise detalhada do descumprimento de uma medida cautelar específica que proibia Bolsonaro de utilizar as redes sociais, inclusive por intermédio de terceiros, para se comunicar ou interagir publicamente. Tal restrição visava conter a propagação de mensagens que pudessem incitar a desordem ou questionar as instituições democráticas.
Conforme Moraes, as ações de Bolsonaro caracterizaram uma “reiteração da conduta delitiva”. O ministro observou que, tanto na produção de imagens quanto nas comunicações de áudio e vídeo, e na divulgação maciça de seu apoio a movimentos questionáveis através das redes sociais, houve um claro intuito de obstrução da Justiça. Portanto, para o magistrado, o descumprimento evidente das cautelares justificava plenamente a decretação da prisão domiciliar, visando coibir novas infrações.
Em sua análise, o ministro ponderou: “As condutas de Jair Messias Bolsonaro, desrespeitando deliberadamente as decisões proferidas por esta Suprema Corte, demonstram a necessidade e adequação de medidas mais gravosas, de modo a evitar a contínua reiteração delitiva do réu, mesmo com a imposição de medidas cautelares diversas de prisão.” Assim, a decisão reflete a preocupação com a eficácia das ordens judiciais e a manutenção da autoridade do poder judiciário.
O Contexto das Medidas Anteriores e a Violação
Para compreender a situação atual, é crucial revisitar o histórico das medidas cautelares impostas a Bolsonaro. No mês anterior, o ministro Moraes havia estabelecido diversas restrições ao ex-presidente. Entre elas, destacam-se a obrigatoriedade do uso de tornozeleira eletrônica e, crucialmente, a proibição de uso de redes sociais. Esta última restrição era abrangente, incluindo não apenas os perfis diretos de Bolsonaro, mas também a utilização de plataformas por meio de contas de terceiros.
A recente decisão, proferida nesta segunda-feira, sublinhou que a violação ocorreu de forma explícita. Flávio Bolsonaro, juntamente com Carlos e Eduardo, outros filhos do ex-presidente, publicaram em suas respectivas redes sociais postagens de agradecimento atribuídas a Jair Bolsonaro aos apoiadores que compareceram aos atos do dia anterior. Consequentemente, Moraes interpretou essa ação como uma clara transgressão das restrições previamente determinadas, caracterizando o desrespeito às cautelares.
Além disso, é relevante destacar que as medidas cautelares originais foram decretadas no âmbito de um inquérito de grande repercussão. Este inquérito investiga a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL de São Paulo) em conjunto com o governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A apuração foca em supostas tentativas de promover ações de retaliação contra o governo brasileiro e, notadamente, contra ministros do Supremo Tribunal Federal.
Nesse mesmo processo, o ex-presidente é investigado pela suspeita de ter enviado recursos financeiros, via Pix, para custear a estadia de seu filho no exterior. Anteriormente, em março deste ano, Eduardo Bolsonaro havia solicitado licença de seu mandato parlamentar e se mudou para os Estados Unidos, alegando perseguição política. Paralelamente a este caso, Jair Bolsonaro também figura como réu na ação penal que apura a trama golpista, cujo julgamento está agendado para ocorrer em setembro.