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Moraes abre apuração sobre insider trading antes de tarifaço de Trump

Ministro Moraes, do STF, abriu nesta segunda (21) apuração sobre suposto insider trading antes do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil.
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), iniciou nesta segunda-feira (21) uma nova frente de investigação focada em um suposto esquema de uso de informações privilegiadas, popularmente conhecido como insider trading. Esta apuração visa esclarecer movimentações financeiras no mercado cambial brasileiro que antecederam o anúncio de tarifas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra exportações brasileiras.

O Cenário da Investigação e Envolvimento da AGU

A solicitação para esta nova linha de investigação partiu da Advocacia-Geral da União (AGU) na semana passada. Ela se insere no contexto de um inquérito maior, no qual o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já é alvo. Conforme a AGU, a apuração original foca na atuação do parlamentar junto ao governo norte-americano, visando supostamente promover medidas de retaliação contra o Brasil e ministros do STF. Além disso, há alegações de que o objetivo seria obstruir o andamento da ação penal que investiga a suposta trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu terceiro mandato, ocorrida em 2022.

Adicionalmente, em março deste ano, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, solicitou licença de seu mandato parlamentar e, posteriormente, mudou-se para os Estados Unidos. Na ocasião, ele justificou a decisão alegando ser vítima de perseguição política, uma declaração que gerou amplo debate público. A conexão entre as ações do deputado e as movimentações financeiras atípicas é um dos focos centrais desta nova fase da investigação.

O Alvo da Apuração: Movimentações Atípicas no Mercado

O principal objetivo da ação, conforme detalhado pela AGU, é investigar precisamente movimentações financeiras incomuns no mercado cambial brasileiro. Estas ocorrências teriam sido observadas tanto antes quanto depois do anúncio de Donald Trump, referente à taxação de 50% sobre as exportações brasileiras destinadas aos Estados Unidos, medida que passaria a vigorar a partir de 1º de agosto. Portanto, a investigação busca determinar se houve manipulação do mercado ou lucro indevido a partir do conhecimento antecipado da política tarifária norte-americana.

Este tipo de prática, conhecida como insider trading, é considerada uma grave infração no mercado financeiro, pois desequilibra a concorrência e mina a confiança dos investidores. Assim, a averiguação busca identificar se indivíduos ou grupos se beneficiaram ilicitamente de informações privilegiadas que ainda não eram de conhecimento público, aproveitando-se da volatilidade gerada pelo anúncio tarifário.

Decisão de Moraes e Sigilo do Processo

Em seu despacho proferido na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes acolheu o pedido da AGU com uma determinação específica. Ele ordenou que a solicitação da Advocacia-Geral da União fosse desmembrada do inquérito principal que envolve Eduardo Bolsonaro, transformando-a em uma petição apartada. Além disso, Moraes decretou que essa nova apuração tramite sob sigilo, uma medida comum em investigações sensíveis para preservar a integridade das provas e evitar a influência externa.

Esta decisão implica que, embora haja uma conexão com o inquérito original, a investigação sobre o suposto insider trading será conduzida de forma independente, permitindo maior foco e confidencialidade. Consequentemente, detalhes sobre o progresso e as evidências colhidas neste novo processo não serão divulgados publicamente até que as autoridades considerem oportuno.

Conexão com Outras Medidas Judiciais

Por fim, é importante notar que o inquérito que originalmente envolvia Eduardo Bolsonaro, e do qual esta nova apuração foi desmembrada, também tem sido palco de outras ações judiciais de alto perfil. Por exemplo, na última sexta-feira (18), o ex-presidente Jair Bolsonaro, pai de Eduardo, foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) no âmbito desse mesmo inquérito. Em consequência, ele foi compelido a usar uma tornozeleira eletrônica e teve sua liberdade de ir e vir restrita, sendo proibido de sair de casa entre as 19h e 6h.

Essas medidas restritivas foram impostas pelo ministro Alexandre de Moraes após a Procuradoria-Geral da República (PGR) manifestar preocupação com um possível risco de fuga do ex-presidente. Jair Bolsonaro é réu na ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 e está com julgamento agendado para setembro no próprio Supremo Tribunal Federal. Portanto, o contexto judicial é complexo e abrange diferentes aspectos das investigações em curso.