O renomado escritor Milton Hatoum foi eleito nesta quinta-feira (14) para ocupar a Cadeira 6 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Eleito por esmagadora maioria, com 33 dos 34 votos possíveis, Hatoum sucede o jornalista e também escritor Cícero Sandroni, que faleceu em junho deste ano, marcando uma importante renovação no quadro da instituição.
A Trajetória de um Imortal e a Repercussão Imediata
Além de sua prolífica carreira como romancista, Hatoum é reconhecido por sua versatilidade, atuando como contista, ensaísta, tradutor e professor universitário. Sua obra de estreia, “Relato de um Certo Oriente”, publicada pela Companhia das Letras em 1989, rapidamente conquistou o Prêmio Jabuti de Melhor Romance e, posteriormente, foi adaptada para o cinema, evidenciando o impacto de sua escrita desde o início.
A eleição de Hatoum gerou grande entusiasmo entre os membros da ABL. Conforme Merval Pereira, presidente da Academia, sublinhou, Milton Hatoum é considerado o maior escritor brasileiro vivo, um romancista de primeira ordem. “Ele certamente será muito útil para a gente, pois já colabora ativamente com a Revista Brasileira e agora terá a oportunidade de contribuir ainda mais”, afirmou Pereira, expressando o otimismo com a nova adição.
Vozes da Academia Celebram a Escolha
A repercussão positiva estendeu-se por diversos acadêmicos. O imortal Ruy Castro, por exemplo, celebrou a chegada de Hatoum, descrevendo-o como um “grande romancista” e um notável representante de sua geração de ficcionistas. Castro ainda ressaltou a tradição da ABL em acolher talentos de variadas origens, citando nomes como João do Rio e Pedro Lessa, e enfatizou a contribuição significativa que essa “geração mais jovem” trará.
Ademais, Miriam Leitão, em sua primeira participação em uma eleição na ABL, destacou a grandeza de Hatoum como romancista. Ela pontuou que o autor “chega trazendo todos os ecos do Brasil”, especialmente um Brasil que emana da vastidão da Amazônia, enriquecendo o diálogo na instituição. Por sua vez, a acadêmica Lilia Schwarcz reforçou a certeza de que Milton Hatoum contribuirá imensamente para a Academia. Ela enfatizou que o escritor possui uma “voz cidadã” e “uma voz ética”, que se manifesta não apenas em sua literatura, mas também em sua dedicação a levar o debate literário às escolas. A votação expressiva, para Schwarcz, é um reflexo claro dessa representatividade.
Perfil e Alcance da Obra de Milton Hatoum
Nascido em Manaus, em 1952, a trajetória de Milton Hatoum é marcada por uma profunda conexão com suas raízes e uma vasta experiência acadêmica e cultural. Em 1968, ele se mudou para Brasília, onde estudou no Colégio de Aplicação da Universidade de Brasília (Ciem). Posteriormente, viveu em São Paulo durante toda a década de 1970, onde se graduou em arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), desenvolvendo pesquisas sob a renomada orientação do geógrafo Milton Santos. Anteriormente, na mesma década, ele lecionou história da arquitetura na Universidade de Taubaté.
Atualmente, o alcance da obra de Hatoum é notável, com mais de 500 mil exemplares de seus livros vendidos e publicações em 17 países. Além de sua própria escrita, ele também contribuiu como tradutor, trazendo para o português obras significativas como “A Cruzada das Crianças”, de Marcel Schwob, e “Representações do Intelectual”, de Edward Said. Em parceria com Samuel Titan, ele também traduziu “Três Contos”, de Gustave Flaubert, demonstrando seu engajamento com a literatura global.
Novos Horizontes e Continuidade Literária
O trabalho de Milton Hatoum continua em pleno vapor. Em outubro, a Companhia das Letras publicará “Dança de Enganos”, obra que representa o desfecho da trilogia “O Lugar Mais Sombrio”. Este projeto literário é profundamente inspirado no período da ditadura militar no Brasil, prometendo mais uma vez mergulhar os leitores em reflexões sociais e históricas. Portanto, a eleição de Hatoum para a ABL não apenas celebra sua consolidada carreira, mas também augura novas contribuições para o cenário literário nacional.