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Mendes suspende julgamento de governador do Acre por falha em acesso a dados Coaf

Gilmar Mendes suspendeu por 15 dias o julgamento do governador do Acre no STJ, atendendo a defesa que alegou falta de acesso a dados do Coaf.
Julgamento Gladson Cameli suspenso
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão por pelo menos 15 dias do julgamento que envolvia o governador afastado do Acre, Gladson Cameli, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A decisão acatou um pedido da defesa do governador, que alegava falta de acesso a documentos cruciais relacionados a dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), utilizados na investigação que motivou seu afastamento por suspeita de corrupção. O processo, que poderia resultar na cassação de Cameli, estava agendado para ser analisado nesta quarta-feira (19) pela Corte Especial do STJ.

Suspensão Decidida pelo STF Garante Ampla Defesa

A intervenção de Gilmar Mendes visa primordialmente assegurar os princípios da ampla defesa e do contraditório, pilares fundamentais do sistema jurídico brasileiro. A defesa de Gladson Cameli argumentou que não obteve acesso completo aos formulários que detalham o acesso a dois Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) produzidos pelo Coaf. Esses relatórios são peças-chave no inquérito contra o governador, cujo afastamento já havia sido determinado em meio a sérias acusações de irregularidades. A ausência desses formulários, de acordo com os advogados, impedia a contestação adequada das provas, comprometendo o direito de defesa.

Em sua deliberação, Mendes reconheceu a procedência da alegação da defesa. Para ele, a impossibilidade de consultar os formulários de acesso aos RIFs representa um prejuízo inegável à defesa do acusado. Dessa forma, o ministro sublinhou a necessidade de resguardar o processo legal, impedindo que o julgamento prossiga sem que todas as etapas de garantia de direitos estejam devidamente cumpridas. Consequentemente, a suspensão foi imposta para permitir que a defesa tenha o tempo e os recursos necessários para analisar integralmente as informações pertinentes ao caso.

Divergência Jurisdicional e o Papel do Coaf

Anteriormente, a relatora do caso no STJ, ministra Nancy Andrighi, havia negado o mesmo pleito de suspensão formulado pela defesa, não identificando, àquele momento, prejuízo suficiente para justificar o adiamento. Por conseguinte, os advogados de Gladson Cameli recorreram ao Supremo Tribunal Federal, buscando uma revisão da decisão. A divergência entre as cortes superiores destaca a complexidade e a relevância das questões procedimentais em processos de alta repercussão política e jurídica.

O ministro Mendes fundamentou sua decisão em uma tese de repercussão geral já estabelecida pelo Supremo. Esta tese estipula que o compartilhamento de relatórios do Coaf com órgãos de investigação depende de comunicação formal, realizada por meio de um sistema específico. É imprescindível que esse sistema permita a identificação clara do solicitante dos dados e, mais importante, o motivo explícito para o acesso a essas informações financeiras sensíveis. Portanto, a falta de acesso aos formulários de solicitação dos RIFs impede que a defesa verifique se esses requisitos foram devidamente cumpridos, o que é crucial para a legalidade das provas.

Combate à “Pesca Probatória” e Resguardo de Direitos

Adicionalmente, Gilmar Mendes enfatizou que a decisão do STF serve como um importante mecanismo para coibir a prática conhecida como “pesca probatória”. Este termo se refere à conduta de investigadores que acessam dados de indivíduos específicos sem uma justificativa clara ou um fundamento legal prévio e bem definido. A intenção é evitar que a obtenção de provas se dê de maneira indiscriminada, sem alvos bem delimitados e sem a devida observância dos limites legais.

Portanto, a exigência de formalização e justificação para o acesso a dados do Coaf visa proteger os direitos individuais contra abusos e garantir que as investigações sigam rigorosamente os preceitos constitucionais e legais. Em conclusão, a suspensão do julgamento de Gladson Cameli não apenas concede mais tempo à defesa, mas também reitera o compromisso do STF com a transparência e a legalidade na utilização de informações financeiras em processos criminais, reforçando a importância de procedimentos formais para o compartilhamento de dados sensíveis e o combate a práticas investigativas questionáveis.