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Memorial marca 1 ano da tragédia Voepass; famílias cobram justiça

Um ano após a queda do avião da Voepass em Vinhedo (SP), familiares inauguram memorial e cobram justiça pela morte das 62 vítimas.
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Foto: Secretária de Segurança de São Paulo/Divulgação

Um ano após o trágico acidente aéreo que vitimou 62 pessoas em Vinhedo, no interior de São Paulo, os familiares das vítimas se reuniram neste sábado (9) para inaugurar um memorial dedicado à memória daqueles que estavam a bordo do Voo 2283 da Voepass. A cerimônia, que incluiu um ato ecumênico e o plantio de árvores, foi marcada pela emoção e, sobretudo, pela reiterada cobrança por justiça e por uma responsabilização clara dos envolvidos na tragédia.

O Trágico Acidente Aéreo em Vinhedo

O fatídico evento ocorreu em 9 de agosto de 2024, quando a aeronave ATR 72-500, operada pela Voepass em parceria com a Latam, caiu precisamente às 13h22. O impacto se deu em uma área residencial do município de Vinhedo, especificamente no condomínio Residencial Recanto Florido. O voo, que havia partido do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel (PR), tinha como destino final o Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Infelizmente, todas as 62 pessoas a bordo — 58 passageiros e quatro tripulantes — perderam a vida no desastre, um dos mais impactantes na aviação brasileira recente.

Investigação das Causas e Perda de Controle

De acordo com os relatórios preliminares do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), a aeronave encontrou condições meteorológicas extremamente adversas durante sua rota. Adicionalmente, o Cenipa detalhou que o avião ingressou em uma região propícia à formação severa de gelo. Consequentemente, momentos antes da queda, precisamente às 13h21, a aeronave realizou uma curva à direita. Subsequentemente, houve uma perda de controle que levou a uma condição conhecida como “stall”, resultando na perda de sustentação em voo. Em seguida, os pilotos não conseguiram reverter a situação, e a aeronave entrou em uma atitude anormal de voo, girando descontroladamente em torno de seu eixo, um fenômeno descrito como “parafuso chato”, até colidir com o solo em uma área residencial.

A Busca Incessante por Justiça Pelas Famílias

A dor da perda, entretanto, é acompanhada pela firme demanda por justiça por parte dos familiares das vítimas. Luciano Katarinhuk, um dos advogados que os representam, enfatizou a expectativa de que os responsáveis pela tragédia sejam devidamente identificados e punidos. Em uma audiência recente na Polícia Federal (PF) em Campinas (SP), que está à frente de parte das apurações, o advogado reforçou a necessidade de indiciamento e responsabilização. Por outro lado, a angústia das famílias não se traduz em desejo de vingança, mas sim em uma profunda e legítima busca por um desfecho justo e célere, na esperança de que episódios como este jamais se repitam na aviação nacional. As famílias anseiam por ver os culpados denunciados e punidos, encerrando um ciclo de incerteza que agrava o luto.

O Andamento Detalhado da Investigação do Cenipa

A investigação sobre as causas do acidente prossegue de forma minuciosa, conforme detalhado pelo Cenipa. Os investigadores já realizaram uma série de procedimentos cruciais: a leitura e análise dos gravadores de voo foram concluídas, permitindo a reconstrução detalhada da trajetória da aeronave, incluindo a análise de desempenho, comandos aplicados e alertas emitidos antes da perda de controle. Além disso, foram conduzidos ensaios e testes técnicos em componentes recuperados no local do impacto. Simultaneamente, entrevistas foram realizadas com diversos profissionais da companhia aérea, incluindo mecânicos, despachantes e pilotos, bem como com familiares dos tripulantes.

Em suma, o Cenipa também efetuou uma extensa análise de mais de 15 mil voos da frota da companhia envolvida, levantamentos meteorológicos detalhados com dados de satélite e radiossondagens, e recriações de voos em simulador, além de um voo experimental em aeronave de ensaio. Atualmente, a investigação encontra-se na fase de análise integrada dos dados, focada na identificação dos fatores contribuintes para a queda. A comissão é composta por uma equipe multidisciplinar, que abrange especialistas em Fator Operacional (pilotos e mecânicos), Fatores Humanos (médicos e psicólogos) e Fator Material (engenheiros mecânicos e aeronáuticos). Apesar da complexidade técnica e multidimensional do evento, o Cenipa informou que o relatório final será publicado no menor prazo possível, com acesso irrestrito à sociedade por meio de seu site oficial, embora ainda não haja uma data definida para a conclusão.

O Posicionamento e o Suporte da Voepass

Em nota oficial, a Voepass Linhas Aéreas classificou o acidente do Voo 2283 como o momento mais desafiador de sua história, resultando em perdas inestimáveis. A empresa reiterou sua solidariedade às famílias das vítimas, compartilhando a dor que, segundo o comunicado, permanece viva na memória da companhia. Com mais de três décadas de operações na aviação brasileira, a Voepass afirmou que jamais havia enfrentado um acidente de tal magnitude. Ademais, a companhia destacou sua atuação transparente junto às autoridades públicas e garantiu estar fortemente dedicada à resolução das questões indenizatórias, que, segundo a empresa, encontram-se em estágio bastante avançado. Para tanto, o suporte psicológico continua ativo, e a Voepass segue apoiando as homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste último ano, buscando mitigar, ainda que minimamente, o sofrimento dos atingidos.

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