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Memória Negra: Mast e Ipeafro digitalizam e expõem 250 cartazes

Mast e Ipeafro digitalizam 250 cartazes históricos do movimento negro e abrem exposição no Rio de Janeiro em 17 de novembro. A ação celebra o Biênio Abdias Nascimento.
Digitalização Cartazes Movimento Negro
Foto: Fotos Acervo Ipeafro

Uma colaboração estratégica entre o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) está digitalizando uma vasta coleção de mais de 250 cartazes históricos, que documentam o movimento negro no Brasil. Esta iniciativa não apenas visa preservar e disseminar a memória afro-brasileira, mas também celebra o Biênio Abdias Nascimento, uma homenagem significativa à sua legado. Ademais, como parte desta parceria, uma exposição especial será inaugurada no Rio de Janeiro em 17 de novembro, abrindo o acervo ao público.

A Iniciativa de Preservação e seu Impacto

A parceria entre o Mast e o Ipeafro representa um marco fundamental na salvaguarda do patrimônio cultural e histórico afro-brasileiro. O projeto se concentra na digitalização de mais de 250 cartazes provenientes do acervo do Ipeafro, materiais que, em muitas ocasiões, foram utilizados para convocar mobilizações do movimento negro. O principal objetivo é garantir que esta importante memória seja acessível e perene para as futuras gerações, além de honrar a memória de Abdias Nascimento.

Clícea Maria Miranda, diretora de Preservação e Gestão do Acervo do Ipeafro, destacou que a iniciativa reforça o compromisso contínuo com a memória negra e a luta por direitos sociais. Ela ainda enfatizou que a colaboração com o Mast, uma instituição pública da área de ciência e tecnologia, representa um reconhecimento fundamental do papel dos povos negros na construção da cultura, história e ciência, tanto no Brasil quanto globalmente.

O Valor do Acervo e a Projeção do Mast

Por sua vez, Everaldo Pereira Frade, chefe do Serviço de Arquivo de História da Ciência (SEAHC-Mast), ressaltou a importância da parceria. Ele explicou que o projeto não apenas foca na preservação do valioso acervo de Abdias Nascimento, uma figura emblemática nas lutas por igualdade, mas também estabelece o Mast como um centro de referência para a coleta e tratamento de arquivos pessoais de cientistas negros. Assim, a colaboração amplia a atuação do museu para além da astronomia, abraçando a história da ciência sob uma perspectiva mais inclusiva.

Aludindo ao significado mais amplo da iniciativa, Frade apontou que este projeto é um passo crucial para visibilizar contribuições muitas vezes silenciadas pela narrativa hegemônica. Portanto, a digitalização dos cartazes não é apenas um ato técnico, mas um gesto político e cultural de grande relevância, garantindo que as vozes e as lutas do movimento negro permaneçam vivas e acessíveis para pesquisa e educação.

Exposição e Debates Abertos ao Público

Em consonância com esta valorização da memória, as entidades parceiras irão promover um evento de abertura para o público em 17 de novembro, a partir das 13h30, na sede do Mast, localizada em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Durante o evento, os visitantes terão a oportunidade de conferir uma parte significativa dos cartazes digitalizados do Ipeafro ao visitar a exposição intitulada “Memória Negra em Cartaz(es)”. Esta mostra abordará a organização e a resiliência dos movimentos negros no Brasil, utilizando os cartazes como documentos históricos.

Paralelamente à exposição, uma mesa de debates intitulada “Evocação dos Ausentes” será realizada. Neste fórum, pesquisadores envolvidos no projeto discutirão o silenciamento histórico de pessoas negras no campo da ciência. A iniciativa busca, portanto, não apenas celebrar, mas também provocar reflexão crítica sobre as estruturas que marginalizam importantes contribuições, enfatizando a necessidade de uma revisão historiográfica.

Celebrando a Herança de Abdias Nascimento

Para entender a magnitude desta celebração, é crucial recordar a trajetória de Abdias Nascimento. Ele foi um ativista antirracista, ator, dramaturgo e político, reconhecido como um dos nomes mais influentes do movimento negro brasileiro. Ao longo de sua vida, Abdias fundou diversas organizações de grande impacto, como o Teatro Experimental do Negro, o Museu de Arte Negra e o próprio Ipeafro. Seu legado transcende as artes e a política, marcando a luta por direitos e reconhecimento.

O “Biênio Abdias Nascimento 2024-2025” foi idealizado e organizado pelo Ipeafro com o propósito de homenagear e revisitar a vasta obra e a militância incansável do ativista. Além disso, o Biênio abrange datas comemorativas importantes que ressaltam a relevância histórica de Abdias, incluindo os 110 anos de seu nascimento, os 80 anos da fundação do Teatro Experimental do Negro e os 75 anos do 1º Congresso do Negro Brasileiro. Portanto, esta celebração é um convite à reflexão sobre a contínua luta por equidade e reconhecimento da cultura e história afro-brasileira.