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Mark Zuckerberg: Como A Rede Social explica a criação do Threads

Com o lançamento de mais uma rede social do criador do Facebook, o filme de 2010 se torna ainda mais relevante
Meta/Sony Pictures/Chippu

Nas últimas 24 horas, só se fala de uma coisa. Mark Zuckerberg, criador do Facebook e CEO de sua empresa mãe, Meta (também dona do Instagram), lançou sua mais nova rede social: Threads. Seu lançamento teve um timing impecável. Graças às decisões de Elon Musk, a popularidade do Twitter está em queda livre, e como rivais como BlueSky ainda estão na fase de convites, a oportunidade de assumir o posto como sucessor do microblog estava aberta.

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Mais de 15 milhões de pessoas se inscreveram no Threads em menos de um dia, segundo o próprio Zuckerberg. Esse número, sem dúvidas, cresceu ainda mais no tempo que você levou para terminar essa frase. Graças à integração com o Instagram, a rede social tem uma base de usuários preparada, com sugestões de quem seguir baseado na outra plataforma e @s garantidos. O Threads, tem, contudo, uma visão profundamente equivocada do que tornou o Twitter interessante, e para entendê-la, basta olhar o excelente filme A Rede Social, obra-prima de David Fincher lançada em 2010.


Qual é a proposta do Threads?

Abra o Threads agora, e você vai se deparar com influencers e celebridades verificados, páginas de fofoca e pessoas que você não segue. Os criadores da plataforma garantem que um feed com apenas quem você segue está em desenvolvimento, mas a intenção de Zuckerberg já ficou clara; ele quer promover, com base em algoritmo, conteúdo para gerar engajamento. A grande qualidade do Twitter, e também sua principal limitação em questões de propaganda e anunciantes, é a natureza simples e direta de sua apresentação clássica: aqui está, em ordem cronológica, apenas o que você escolheu ver. Por um lado, ganhamos a impressão de estar no “centro da cidade,” no cruzamento de onde partem as discussões que permeiam a internet. Por outro, isso significa que estamos ainda menos interessados em observar um outdoor.

O Threads, porém, vai na contramão. Seu feed tem só outdoors, com algumas pessoas esmagadas entre eles. É um paraíso para quem busca likes o suficiente para conquistar a próxima publi, mas o inferno para quem gosta da sensação agora nostálgica de ver “o que está acontecendo,” como um dia prometeu o Twitter. O Threads pegou as piores partes (com exceção dos trolls de crypto e afins, por enquanto) do que o Twitter se tornou debaixo de Elon Musk — o feed “Para Você” e posts promovidos — e injetou gasolina nelas. Pode melhorar, mas conhecendo as prioridades de Zuckerberg, é difícil ficar esperançoso.


Como A Rede Social explica o Threads, e Zuck

O que nos leva ao filme de Fincher, considerado por muitos (inclusive eu) o melhor da década 2010. Como qualquer pesquisa rápida no Google vai te dizer, A Rede Social, drama com Jessie Eisenberg no papel de Zuckerberg enquanto este construía o Facebook, tem diversos acontecimentos fictícios, mas isso não o torna menos perspicaz. Talvez o mais pessimista de todos os diretores de renome nos EUA atualmente, Fincher não buscou criar uma cinebiografia tradicional, retratando passo a passo o que realmente se passou nos primeiros anos do Facebook, mas sim entender as motivações psicológicas e emocionais por trás não só do surgimento do site, como também de sua transformação ao longo dos anos.

Pense no Facebook. Na verdade, pense no Instagram, Twitter, Tiktok ou qualquer outra rede. A maioria delas, se não todas, baseia-se na construção de uma imagem para apresentar ao público; uma persona através da qual você pode ser quem quiser, obter popularidade e fazer parte dos clubes mais exclusivos. De todas as redes, porém, as mais dependentes desta máscara virtual são as do Meta. Das fotos cuidadosamente escolhidas às legendas mais utópicas possíveis, passando por comentários cujo propósito parece ser apenas reforçar a ilusão, tudo colabora com issoo. O Threads é mais um passo nessa direção. Ele não recompensa criatividade, humor ou inteligência, características que, nos melhores dias do Twitter pré-Musk, ajudavam tweets a conquistar organicamente seu espaço em meio aos outdoors. O Threads, pelo menos nesse começo, recompensa quem jogar dentro de suas regras pesadas em algoritmos — quem cria a imagem mais atraente. Não à toa, o germe da ideia do Facebook surgiu com o Facemash e sua simples proposta de comparação: Quem é melhor?

A Rede Social mostra que essas sementes sempre estiveram ali. Sim, a namorada que termina com Zuckerberg na primeira cena não existiu, mas sua presença na trama — pontuada pela cena final do longa quando Mark a encontra no Facebook e lhe envia um convite de amizade — serve para ilustrar os temas do filme e de seu assunto. A ambição de ser desejado, sexualmente ou socialmente; a caça por fama e status representada no número de usuários, seguidores ou likes; a tentativa de mudar como você é enxergado.

Fincher uma vez disse acreditar que todos os humanos são pervertidos, e em A Rede Social isso se manifesta no entendimento que num universo (metaverso?) gerido por programação e sistemas, é possível esconder seus defeitos. Ele sacou, porém, que se isso parte de uma motivação egoísta e mesquinha, a autopromoção se torna valiosa e desejável. Eis a perversão: varrer nossas piores características para baixo do tapete significa, necessariamente, fingirmos ser quem não somos.

O roteiro ágil mas nunca bagunçado de Aaron Sorkin simplifica a representação dessas ideias com a já mencionada ex-namorada, com os clubes da universidade de Harvard e com a inimizade entre Zuckerberg e Eduardo Saverin (Andrew Garfield), mas dentro dessas invenções, há verdade. O Threads é a mais nova prova disso.

O que Mark Zuckerberg queria era ser a figura mais popular da boate. A Rede Social se propõe a mostrar isso não recriando fatos, mas encontrando os impulsos por trás deles. O filme não mostra exatamente como Zuckerberg conseguiu o que queria, mas por que, no seu íntimo, ele queria isso. Observando a forma como ele está sendo tratado pelos usuários mais badalados do Threads — o homem que venceu Elon Musk, o gênio que nos deu a rede social de nossos sonhos, a mente brilhante por trás deste lugar — ele parece ter alcançado seu objetivo da forma mais simples possível. Ele construiu a boate à sua semelhança.

Fonte: https://www.chippu.com.br/noticias/threads-a-rede-social-mark-zuckerberg-facebook-instagram-explicado-entenda-filme