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Manguezal da Guanabara se recupera e atrai 62 espécies de animais

A recuperação de manguezais na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, através de reflorestamento, atraiu 62 espécies de animais, indicando reequilíbrio ambiental.
Recuperação Manguezal Guanabara
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Após anos de intensa degradação, os manguezais da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, exibem notáveis sinais de recuperação ambiental. Por meio de um ambicioso projeto de reflorestamento, a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapi-Mirim, situada na região metropolitana carioca, registrou o retorno de 62 espécies de animais, incluindo aves, crustáceos e mamíferos. Esse expressivo aumento na biodiversidade indica um reequilíbrio ecológico em curso, revitalizando um ecossistema vital para a região.

A Regeneração da Baía de Guanabara

Diversas espécies que outrora haviam abandonado o habitat natural dos mangues estão, consequentemente, retornando à APA de Guapi-Mirim. Caranguejos, aranhas e borboletas, por exemplo, sentem-se novamente acolhidos em um ambiente que agora demonstra vigor e resiliência. Essa transformação positiva é resultado direto do esforço contínuo do Projeto Uçá, uma iniciativa da ONG Guardiões do Mar em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental.

Desde 2022, o Projeto Uçá tem sido o principal responsável pela restauração ativa desses ecossistemas. Além disso, a equipe monitora meticulosamente dados cruciais sobre a biodiversidade local, a qualidade do solo e da água. O retorno da fauna, conforme explicam os organizadores, é um indicador inequívoco do aumento da diversidade biológica e, em última análise, do restabelecimento do equilíbrio ambiental na área.

Biodiversidade em Crescimento e Espécies-Chave

O reflorestamento desempenhou um papel determinante no acolhimento de várias espécies. O caranguejo marinheiro, por exemplo, depende da estrutura das árvores para sua locomoção e, portanto, sua presença massiva atesta a maturação do manguezal. Analogamente, o reaparecimento das borboletas ocorreu concomitantemente ao crescimento significativo dos mangues. As aranhas, por sua vez, exercem um controle natural de pragas, um serviço ecossistêmico essencial para a saúde do ambiente.

Ademais, outras criaturas têm sido avistadas com maior regularidade nas áreas regeneradas. Entre elas, destacam-se capivaras, tamanduás-mirins, quatis, diversas espécies de garças e o emblemático caranguejo-uçá. Até o momento, o monitoramento confirmou o registro de um total de 62 espécies, abrangendo aves, mamíferos e crustáceos, em todas as áreas que passaram pelo processo de reflorestamento. Espécies no topo da cadeia alimentar, como a garça-azul, a garça-grande-branca e o mamífero mão-pelada, também foram observadas, consolidando a complexidade e vitalidade do ecossistema restaurado.

A campanha de reflorestamento, iniciada entre 2015 e 2016, já demonstra resultados consistentes. Conforme dados do Projeto Uçá, as árvores plantadas atingiram uma altura expressiva, variando entre 8 e 10 metros. Essa altura é considerada ideal, constituindo-se em um forte indício de um reflorestamento bem-sucedido e da capacidade de regeneração do bioma.

Monitoramento da Avifauna: Um Pilar da Recuperação

O acompanhamento rigoroso das aves pelo Projeto Uçá constitui um dos pilares técnicos fundamentais para a medição da recuperação ambiental da Baía de Guanabara. Para tanto, são realizados registros fotográficos e auditivos, utilizando-se ferramentas modernas como os aplicativos Merlin e WikiAves. Em acréscimo, câmeras equipadas com lentes teleobjetivas garantem registros mais precisos e detalhados das diversas espécies presentes.

Os pesquisadores estimam que o retorno das aves foi diretamente condicionado ao crescimento da vegetação dos mangues, que precisou alcançar uma altura mínima de 3 metros para atrair essas espécies. Um exemplo notável dessa correlação foi o registro, considerado raro, da figuinha-do-mangue, uma ave que figura na lista de espécies ameaçadas de extinção. Essa descoberta sublinha a importância da restauração do habitat para a sobrevivência de espécies vulneráveis.

Posteriormente, o projeto celebrou outras aparições significativas. Incluem-se os registros da Batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus), uma espécie migratória oriunda do Hemisfério Norte, e do Periquitão (Psittacara leucophthalmus), além do Carrapateiro (Milvago chimachima). As duas últimas, aliás, são espécies que enfrentam riscos de caça e tráfico ilegal, tornando seus registros na área restaurada ainda mais importantes para a conservação.

Saberes Tradicionais e o Fortalecimento Comunitário

No processo de restauração, o Projeto Uçá incorporou metodologias inovadoras que se baseiam nos saberes e conhecimentos tradicionais das comunidades locais. Ao invés de priorizar a produção de mudas em viveiros, a iniciativa adotou uma técnica de transplantio direto. Essa abordagem consiste em retirar mudas jovens de plantas-mãe e replantá-las imediatamente no campo, um método que comprovadamente reduziu as perdas para menos de 6%, demonstrando sua alta eficácia e adaptabilidade às condições locais.

Conforme destacou Pedro Belga, presidente da ONG Guardiões do Mar, o projeto transcende a dimensão puramente ecológica ao fomentar também o desenvolvimento econômico local. Por exemplo, a revitalização dos manguezais possibilitou um aumento na captura de caranguejos, atividade que representa a principal fonte de sustento para inúmeras famílias da região. Nesse contexto, Belga enfatizou a crucial importância da participação ativa das comunidades tradicionais e do empoderamento dos residentes das áreas impactadas, pois, segundo ele, são esses os maiores defensores do território e o alicerce para o verdadeiro sucesso da restauração.

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